O mercado financeiro global, centrado mais no comportamento de Wall Street, repercutiu com certa euforia aos sinais de moderação da curva de expansão da pandemia do coronavírus, e com isto impulsionou ainda que com parcos fundamentos reações em linha os mercados emergentes, com destaque para o Brasil.
A Bovespa, então, apresentou forte recuperação nos últimos dias e o preço da moeda americana sofreu desvalorização, embora a economia brasileira perdure inerte e sem perspectivas de curto prazo e o dólar não tenha sido agraciado com melhora de fluxos cambiais para o país.
Muito pelo contrário, visto que não há fundamentos sustentáveis para o movimento de “recuperação” ocorrido no Brasil.
Como já salientamos, o conceito de globalização está cada vez mais fragilizado, e nesta linha nem tudo que é bom para os Estados Unidos e China pode ser bom para o Brasil, que tem um quadro complexo de agravamento da crise fiscal, desconhecimento efetivo do estágio da crise no país e perspectivas de que o pior está por vir, muitas divergências políticas e de formulação de estratégias de enfrentamento da crise com rotinas de tratamentos e isolamentos sociais, e, na margem disputas nefastas de natureza política e, pior, interferência entre poderes como o STF estabelecendo participação de sindicatos em matérias de socorro financeiro emergencial aos empregados.
Mas, a Bovespa recuperou-se com altas expressivas, com os mais sutis argumentos todos muito pontuais como a retenção de dividendos por parte dos bancos, etc…, e o dólar ganhou força em sua depreciação frente ao real após inúmeras semanas de apreciação a parâmetros absolutamente fora da curva.
À derrocada momentânea do preço do dólar se deu inúmeras justificativas, até envolvendo a possível saída do Ministro Mandetta e seus reflexos negativos na formação do preço, enfim, quando não se identifica uma razão plausível qualquer justificativa é válida.
De nossa parte, consideramos que a discreta menção do Presidente do BC de que pode não ocorrer nova redução da SELIC e que o BC poderá vender moeda efetiva ao mercado teve importância maior do que a que vem sendo dada e impactou motivando a depreciação do preço da moeda americana no nosso mercado.
Como o BC não demonstra esta ousadia de forma mais incisiva, mas como “autoridade” e menos como “trader”, e com a nova rodada de dados preocupantes em torno da crise da coronavírus na China e nos Estados Unidos a volatilidade deve voltar a prevalecer no cenário global, e o viés de ajuste do preço da moeda americana no nosso mercado deve ser fragilizado.
A rigor, a prevalência da volatilidade deve ser a característica maior das economias desenvolvidas e o Brasil não tem, neste momento, motivos para sustentar o viés de alta da Bovespa e de queda do dólar, salvo se o BC assumir um discurso mais forte sobre o não corte da SELIC e até eventual elevação e possibilidade de oferta grandiosa de moeda efetiva ao mercado.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO