Um equívoco absoluto imaginar que “swap cambial” seja idêntico à venda de dólares à vista. “Swap cambial” protege fixando preço futuro da moeda e se liquida por diferença em reais, mas não tem a capacidade de consolidar pagamento do passivo. O mercado de câmbio está carente de liquidez em dólares efetivos!

O Banco Central do Brasil envida esforços para que não seja levado à necessidade de realizar leilões de venda de dólares à vista para o mercado.

Buscou, ao retirar as limitações e exigências adicionais inibidoras das posições vendidas dos bancos, conduzi-los  à condição de gerador da liquidez no mercado à vista através desta prática, poupando-o da realização direta da oferta de liquidez com leilões de dólares efetivos à vista, o que, se ocorrer, pode motivar movimento especulativo intenso sobre o real, provocando então uma pressão altista de difícil controle.

A tendência do preço da moeda americana no mercado de câmbio brasileiro é de alta, ancorado em fundamentos muito evidentes, a partir da observação dos fluxos de recursos para o país e a sua tendência cada vez mais cadente, enquanto a demanda “spot” é crescente.

As causas decorrem diretamente de problemas locais e pouco, ou muitíssimo pouco, do exterior, já que perdemos a atratividade perante os investidores estrangeiros de forma gradual, sem que o governo tivesse sido previdente em alterar regras impositivas de bloqueios aos fluxos de recursos externos, quando se tornaram perceptivos estes sinais, e, a fragilização da nossa balança comercial que sofre os reflexos da perda de ritmo da atividade chinesa, nosso parceiro maior e da qual nos fizemos fortemente dependentes. Afora as circunstâncias da nossa indústria manufatureira, absolutamente sem competitividade externa, e, ainda, ao fato de estarmos importando muito combustível para atender a demanda interna, em face ao preço descompensado que é praticado no país.

A intensificação de ruídos em torno da taxa cambial meses atrás acentuou a demanda de “hedge” (proteção) por parte das empresas, atitude natural para estabelecer o “fixing” do preço futuro de conversão da moeda estrangeira, mitigando os riscos de um cenário prospectivo sinalizando o preço em alta.

Números dados a conhecer na época pela mídia indicavam que 22% do passivo dos grupos sem receitas exportação ( “non tradables”) eram dolarizados (em 2008 este dado era de 25%). No caso dos “tradables”, ou seja, grupos com receitas em dólares, o passivo dolarizado era de 45% ( em 2008 era 52%),  que demonstra o potencial de demanda “em ser” por “hedge” e que foi estimulado a buscar proteção face ao cenário prospectivo.

Esta é a realidade e impôs ao BC a oferta desta proteção para evitar uma exacerbação demasiada e incompatível do preço da moeda. O total das vendas do BC atingiu mais de US$ 31,0 Bi em “swaps cambiais”, além de um baixo valor em torno de US$ 1,7 Bi em operações conjugadas de venda efetiva de dólares e recompra.

Naturalmente, o volume operacionalizado no mercado futuro/derivativos é inúmeras vezes maior do que o no mercado à vista e, pressionado por demanda efetiva por proteção, acaba sendo o formador do preço da moeda americana também no mercado à vista, dada a necessidade de simetria para que os preços não sofram distorções.

Contudo, a realidade do mercado de câmbio à vista brasileiro indica que a liquidez está baixíssima e o estoque de dólares nas posições dos bancos está praticamente zerado, o que determina que a demanda efetiva por dólares disponíveis (spot) surja como fator de pressão, adicional à oriunda do mercado futuro/derivativos.

Por isso, embora pareça eficaz a ação do BC vendendo “swaps cambiais”, na prática, irá se confirmando incapaz de conter a alta do preço da moeda americana, pois impacta tão somente no mercado futuro/derivativos e não consegue sensibilizar a pressão oriunda do próprio mercado à vista.

Na sexta-feira, a ação do BC vendendo “swaps cambiais” deu a impressão de eficiência, pois a demanda era por “hedge” (proteção), mas hoje o mercado à vista iniciou o dia colocando pressão na formação da taxa cambial e já a trouxe para as proximidades de R$ 2,30.

Este cenário com atuação do BC suprindo somente a demanda no mercado futuro/derivativos com “swaps cambiais” sem a combinação com ofertas de dólares efetivos no mercado à vista acaba por determinar volatilidade mais intensa.

Data base 1º de agosto, os bancos estavam “vendidos” no mercado futuro/derivativos em US$ 30,2 Bi, enquanto os Investidores Institucionais Nacionais estavam “comprados” em US$ 15,9 Bi e os Fundos Estrangeiros “comprados” em US$ 13,0 Bi. São posicionamentos muito fortes e que deixam claro que há potencial instalado para detonar um movimento especulativo, caso o BC realize oferta de dólares à vista, via leilão, ao mercado.

Por isso, o BC precisa que os bancos passem a operar com posições vendidas no mercado à vista promovendo a liquidez, mesmo numa conjuntura de pouca tranquilidade sobre as perspectivas de fluxos futuros, para que seja poupado de ter de fazer a oferta diretamente, o que pode exigir que o BC continue fazendo leilões de “swaps cambais” para que os bancos possam proteger estas posições vendidas.

Caso a obtenção de linha externa esteja desinteressante para os bancos, será fundamental e necessário que o BC realize operações de venda à vista e recompra futura para que gerem a liquidez e, concomitantemente, oferte os “swaps cambiais” para que protejam as posições vendidas.

O contexto é bastante complexo e a tendência é o aumento da pressão sobre a formação do preço da moeda americana, na medida em que se torne mais efetiva a demanda no mercado de câmbio à vista, deixando evidente a baixa liquidez e que as perspectivas para o déficit em transações correntes acentuem a tendência de que o país não obterá o fluxo de recursos suficiente para o seu financiamento.

O problema é que o dólar com preço acima de R$ 2,30 acentuará mais a pressão sobre a inflação.

O Boletim FOCUS divulgado hoje indica estabilidade para a projeção do IPCA-2013 em 5,75%, Top 5 mediana mp 5,81% e eleva a para os próximos 12 meses de 5,83% para 5,93%. Para o câmbio, a projeção do dólar foi mantida em R$ 2,25, porém, o Top 5 mediana mp indica R$ 2,29. A Selic teve a projeção mantida em 9,25%, Top 5 mediana mp em 9,50%. O PIB-2013 teve a projeção reduzida de 2,28% para 2,24% e a Produção Industrial-2013 de 2,10% para 2,00%. A projeção para o déficit em transações correntes foi elevada de US$ 76,15 Bi para US$ 76,30 Bi, num ambiente em que a projeção para o saldo da balança comercial foi reduzido de US$ 5,70 Bi para US$ 5,09 Bi e os IED´s foram mantidos em US$ 60,0 Bi.

As operações de “swaps cambiais” em nada se assemelham à venda de dólares no mercado à vista, pois dão proteção ao preço, mas não têm poder liberatório de pagamento.  Ocorre que o giro no mercado futuro envolve “hedge” efetivo lastreado em passivo e “hedge” especulativo, que tem a conotação de “apostas em tendências” pelos especuladores e que fomentam o giro e parte da liquidez deste mercado.

 

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