Ficou bastante evidente ao final do mês passado, que o mercado de câmbio está com demanda crescente por moeda efetiva, em detrimento da preponderância da demanda por proteção (hedge), que prevaleceu como fonte principal da pressão altista do preço da moeda americana até recentemente.
Óbvio que continua havendo demanda por “hedge”, até porque o mercado de câmbio tem o seu dinamismo que agrega novas operações de forma contínua, mas em moldes mais contidos do que nos meses de junho e julho passados, quando havia um estoque relevante de operações em moeda estrangeira carentes de proteção, ante o cenário prospectivo de alta acentuada do preço da moeda.
Este quadro tornou-se perceptível, no dia 31 de julho, quando o BC ofertou, em 3 rodadas, lotes de “swaps cambiais” e de um total de 75.000 contratos só colocou 45.300 contratos, num ambiente de forte pressão de apreciação do dólar, que não foi sensibilizada pelos leilões realizados.
Os “swaps cambiais” perderam a capacidade de influenciar de forma contundente a tendência de alta do preço da moeda americana, por isso, o Banco Central do Brasil precisa alterar a sua estratégia de intervenção no mercado de câmbio, visando atenuar as pressões altistas, já que agora passam, também e principalmente, a ter origem no mercado de câmbio à vista, ou seja, a demanda é por dólares “spot”.
Por outro lado, as decisões do FED postergando a manutenção do seu programa de incentivo monetário já não suscitam impactos no comportamento do preço da moeda americana no nosso mercado, pois não cria expectativas de grandes fluxos de recursos externos para o país, simplesmente retardam a perspectiva de que recursos já presentes no Brasil saiam de forma mais intensa e abrupta.
A despeito do BC, ainda que tardiamente, ter revertido a quase totalidade das barreiras normativas e/ou tributárias ao ingresso de recursos externos, eventuais reações por parte dos investidores estrangeiros, em especial os especuladores, serão, acreditamos, insuficientes para prover o Brasil com os fluxos de recursos externos suficientes para atender as necessidades atuais de liquidez no mercado à vista.
Da balança comercial pouco ou nada pode ser esperado. Julho que tinha projeção para saldo positivo em torno de US$ 400,0 M fechou no vermelho em US$ 1,089 Bi, confirmando tendência detectada pela AEB de que devemos fechar o ano com a balança comercial deficitária em US$ 2,0 Bi.
Não vislumbramos perspectivas favoráveis para os bancos optarem facilmente a adoção de posições vendidas e serem os geradores da liquidez, pois há desconforto sobre as perspectivas futuras de fluxos para o país, o que lhes obrigaria a fazer “hedge”, podendo tornar esta estratégia desinteressante e ainda colocaria pressão de alta no mercado futuro.
Da mesma forma, a opção das agências/filiais dos bancos nacionais, após a desoneração ocorrida com a mudança da fórmula do fator que inviabilizava esta opção, só se tornará interessante para os bancos se a taxa de juro dólar do cupom cambial ficar interessante e se tornar viável, também precisará ser protegida (hedge) devido às incertezas quanto aos fluxos futuros, e a despeito de gerar liquidez, exerceria pressão de demanda no mercado de derivativos que poderia provocar alta do preço da moeda americana.
A saída possível, no nosso entender, para o BC evitar que tenha que realizar leilão de venda efetiva de moeda americana no mercado à vista, o que não seria recomendável dado o risco de estimular especulação forte sobre o real, é dar inicio imediato aos leilões de linhas que compreendem venda à vista para os bancos, gerando liquidez imediata, conjugada com recompra futura, promovendo o deslocamento da demanda do momento presente para o futuro.
Esta estratégia poderia poupar o BC de realizar leilões de venda de moeda americana efetiva, porém, é fundamental que a parte negocial das operações atenda aos interesses de bancos e BC, caso contrário não será consolidada.
O dólar a R$ 2,30 é efetivo neste momento, consolidou-se ontem após ter chegado neste ponto na quarta-feira e cedido um pouco. A ação do BC visaria evitar a sua expansão que seria fonte de pressão maior sobre a inflação.
Como a tendência de alta do preço da moeda americana é fundamentada e firme, o BC precisa agir rapidamente para buscar mitigar a pressão altista.