O programa de incentivo a sua economia promovido pelo Japão está impactando forte no comportamento das paridades monetárias e taxas de juros do mercado global, tendo em vista a magnitude da injeção de liquidez envolvida, algo como US$ 1,4 Tri em dois anos.
O Brasil que notoriamente não tem perspectivas favoráveis quanto ao fluxo cambial para este ano, tem neste fato provavelmente a última e única oportunidade do ano para recuperar volume de fluxo positivo, fundamental para que não tenha que vir a utilizar as reservas cambiais.
Evidentemente deve existir constrangimento para reverter as barreiras impostas ao ingresso de capitais estrangeiros com a tributação do IOF, afinal será a admissão clara e evidente que o país que alardeou, à época, que seria vitimado por “tsunamis”, etc., para estabelecer tais fatores restritivos, está agora desejando promover uma abertura para o ingresso, chamando atenção para uma fragilidade presente nem sempre bem observada.
O preço do dólar vem depreciando-se desde o momento em que o Japão anunciou o programa em relação às moedas emergentes, incluindo neste contexto o real. Contudo, no caso brasileiro ainda não ocorreu a melhora do fluxo cambial, o que provoca este comportamento é a perspectiva de que a melhora venha a ocorrer.
Contudo, se o governo não retirar as barreiras poderemos não ter a melhora esperada do volume de ingressos de recursos externos no país, porém a formação do preço da moeda americana no nosso mercado poderá passar a ser fortemente afetada pelas operações envolvendo dólar e real no mercado externo, a partir do mercado de derivativos e, em especial, de contratos à termo.
Desta forma, o preço da moeda americana versus real poderia sofrer especulação a partir do exterior, apreciando o real num ambiente em que o BC não teria pleno controle sobre a administração do preço e, o país não teria o ingresso das divisas que necessita efetivamente neste momento. O quadro ficaria muito complexo neste contexto.
Esta é uma perspectiva que pode gerar volatilidade, pois teríamos do exterior pressão para apreciar o real num ambiente interno de baixa liquidez que poderia impor exatamente a depreciação do real.
É importante observar que a recente elevação do preço da moeda americana que ultrapassou os R$ 2,00 já decorria da baixa liquidez, num contexto em que o BC já não conseguia reverter o viés de alta com a colocação de “swaps cambiais”, por isso não realizou oferta após a de 27 de março, por saber da ineficácia.
Sem a abertura para o ingresso oportuno destes recursos oriundos da liquidez do programa do Japão, a tendência será de aperto na liquidez e isto não se resolve com os instrumentos financeiros “swaps cambiais”, que permitem que se proteja a exposição, mas, como todos sabem, não gera a disponibilidade por não envolver movimento físico de moeda, que será a necessidade.
O surgimento da perspectiva de melhora do fluxo a partir do programa do Japão se constitui num fato favorável para as intenções do BC e, tornou-se quase óbvia, por isso surgiu o oportuno “boato” que pegou quanto à expectativa de que o BC/MF reagiria ao fato novo retirando as barreiras tributárias.
O Brasil enfrenta um momento de muito desconforto com a inflação, e a despeito do governo vir fazendo concessões visando mitigar as pressões, os parâmetros atuais são preocupantes, resistentes e há expressiva disseminação da alta de preços por toda economia, com destaque para os alimentos, tendo havido um recrudescimento dos serviços, embora ainda pesando muito.
Da mesma forma que se mostra hesitante para adotar as medidas na área de câmbio, o governo tem se mostrado na definição da estratégia de confrontação com a espiral inflacionária via elevação do juro.
O mercado financeiro clama pela alta da SELIC, mas há muitos setores procurando demonstrar que será pouco efetiva a contribuição de uma alta, visto que a realidade das taxas de juro no mercado de crédito está muito distante e pouco sensível aos parâmetros da taxa SELIC. Neste momento, causaria muitos ruídos e seria um desincentivo ao investimento e ao crescimento econômico do país.
O consenso é quase absoluto no mercado financeiro de que o COPOM elevará a taxa SELIC na reunião da próxima semana.
Entendemos que se o governo liberasse as barreiras tributárias estimulando o ingresso de recursos externos poderia impor uma apreciação administrada e mais forte ao real, já que este preço sensibiliza o preço dos alimentos, sejam os de origem nacional exportáveis, seja pela importação que pressiona o preço do nacional.
Desta forma, evitaria a elevação do juro que causará ruídos muito mais intensos na economia, sem prover benefícios equivalentes, e utilizaria o dólar depreciado focando a inflação dos preços dos alimentos, neste momento em que o item serviços demonstrou recuo.
Este é um jogo de xadrez, se errar a pedra pode perder o jogo.