Já não faz mais sentido reouvirmos afirmações do Ministro da Fazenda Guido Mantega, ante a persistência da espiral inflacionária e a fragilização do fluxo cambial, que tem viés impeditivo à continuidade da estratégia de apreciar o real para conter as pressões inflacionárias, de que “reforça atenção à inflação e não descarta medidas”, isto na semana antecedente à próxima reunião do COPOM, cuja decisão sobre a elevação da taxa SELIC não tem consenso, nem no mercado financeiro e nem por parte do governo.
Falta ação efetiva e até pró ativa por parte do governo, o que fortalece a imagem de leniência ante o “status quo” desfavorável e que gera incertezas que travam as decisões empresariais na área econômica.
De nada vale o governo ficar prospectando o mínimo lado bom da noticia ruim, como ocorre agora em torno do IPCA que rompeu o teto da meta no seu acumulado de 12 meses, ao atingir 6,59%. E, mais se olharmos o INPC a inflação para os que ganham até 5 SM a inflação atingiu 7,22%, mas o sentimento é que é maior. O fato de a difusão ter recuado de 72% para 69% não é algo expressivo, visto que a inflação esta disseminada em 69% dos produtos.
A colocação de que abril será melhor é uma hipótese, mas devemos considerar que temos à frente os reajustes dos transportes públicos postergados de janeiro/fevereiro e que vão impactar elevando a inflação.
Atendo-nos mais especificamente ao câmbio, é notório a partir dos números e perspectivas de que o cenário este ano é desconfortante.
Até semanas atrás faltava perspectiva de melhora efetiva do fluxo comercial para o Brasil, então surgiu a oportunidade única, e quem sabe última, de aproveitarmos a liquidez que será promovida pelo governo japonês no afã de recompor a cambaleante atividade de sua economia, que envolve inclusive o estímulo ao surgimento da inflação, para amealharmos volume suficiente de captações às necessidades para este ano, em que enfrenta comportamento adverso na questão do fluxo de recursos externos.
Os recursos dos programas americano e europeu que foram imaginados convergir em grande monta para o Brasil não aconteceram e, não aconteceram não em razão das barreiras tributárias ancoradas no IOF que foram criadas, simplesmente não vieram para o Brasil, que tem perdido atratividade perante os investidores estrangeiros em detrimento de outros países emergentes.
As barreiras tributárias aos ingressos de capitais estrangeiros criadas com o IOF poderiam ter sido retiradas já no 1º trimestre, porém o governo parece ter acreditado que poderia se repetir o bom volume de fluxo ocorrido historicamente neste período dos anos antecedentes, no que foi surpreendido pela queda abrupta da atratividade do país perante os investidores estrangeiros, o que levou o fluxo cambial fechar em negativos US$ 2,1 Bi ante mais de US$ 18,0 Bi positivos no ano de 2012.
Ocorre que os investidores japoneses, tradicionalmente, são investidores no Brasil, com somas absolutamente relevantes e isto fortalece a convicção de que viriam com recursos para o país, diferentemente dos americanos e europeus nos últimos programas.
O mercado financeiro está agindo com base nas perspectivas a partir da convicção de que o governo desonerará da tributação do IOF, até com ajustes de prazo nos empréstimos, os ingressos de recursos externos. Por isso, a apreciação do real se acentuou rapidamente a partir da colocação no mercado desta possibilidade, ainda que na forma de “boato”, e não porque tenha havido incremento do fluxo cambial favorável ou qualquer ação direta do governo.
Há sinais claros em todos os segmentos. Dólar se deprecia; bolsa se prepara para IPO´s e vem ajustando seus preços; captações de recursos no exterior vêm sendo articuladas; enfim o “boato” estrategicamente colocado e que se tornou viral nos segmentos do mercado financeiro vem demonstrando total viabilidade para tornar-se fato concreto.
Ontem houve sinais positivos emitidos pela China e que impactaram favoravelmente nos preços das “commodities”, fato que se admite ter influencia no preço do dólar, mas acreditamos que neste momento o fator determinante da apreciação do real é a perspectiva de que a desoneração sobre os ingressos de recursos seja efetivada pelo governo.
Afinal, o fluxo cambial anunciado da 1ª semana de abril confirmou o viés negativo, embora discreta e modestamente positivo no canal financeiro.
Desta vez, ao que tudo indica por imperativo, o Ministro Mantega terá que desejar todos os efeitos do que, sofismando, denominou como “guerra cambial”, para que o país possa construir estratégias sustentáveis para o enfrentamento do complexo quadro da economia brasileira.
O tempo é agora, o que justifica o comportamento do mercado de câmbio ancorado na expectativa forjada a partir do “boato”.