Demoramos anos para termos a confirmação prática de que reduzir o juro, no caso brasileiro, não fomenta a inflação, sendo que nunca conseguimos uma boa fundamentação dos “por quês” a mantivemos tão elevada ao longo de anos.
Ao menor sinal de aquecimento inflacionário, sem uma melhor análise crítica sobre as causas, o mercado financeiro clama pelo aumento da SELIC, valendo-se do grande acesso que dispõe na mídia, e assim, parece que, de tanto insistir, a profecia se auto realizará, sem que se tenha efetiva convicção de que seja a estratégia adequada para o perfil de inflação presente.
A nossa inflação está com um elevado grau de difusão, algo como 69,7%, embora cadente, com destaque ao item alimentos e serviços, se bem que estes demonstraram certo recuo na participação na última medição.
Temos um problema decorrente do aumento do salário nominal em descompasso com o crescimento da economia, da oferta, o que pressiona os preços pela nova demanda da classe média. Mas, não vemos como o aumento da taxa SELIC poderá atenuar o problema dos preços dos alimentos e dos serviços, sendo que neste pela contaminação da propagação do fato inflação poderá até alavancar preços, causando efeito contrário.
Bastou o IPCA acumulado de 12 meses ter rompido o teto da meta de 6,5% e termos a mudança do preço relativo do “tomate” e parece que se tornou inevitável que se eleve a SELIC, que poderá ser puramente uma ilusão como linha estratégica optativa para o caso.
Por isso, temos destacado que a melhor opção no momento seja pela apreciação do real, com efeitos imediatos, poupando-se a elevação da SELIC, que poderá afetar mais a propensão ao investimento e ao crescimento.
A SERASA Experian aponta em relatório divulgado hoje que a inadimplência do consumidor teve alta de 10,5% no 1º trimestre em comparação ao ano passado, período em que, a despeito deste crescimento, 7,2 M de brasileiros deixaram a lista de inadimplentes, valendo-se, em grande parte, de renegociações e juros reduzidos. Um aumento da SELIC não contribui para este quadro.
Há neste momento, como temos destacado, uma oportunidade única e quem sabe última de resgatarmos o fluxo cambial para o Brasil, que vem se mostrando preocupante e absolutamente insuficiente e, ao mesmo tempo pressionarmos com a apreciação do real, com fundamentos e não forjada com dificuldades crescentes, os preços dos alimentos e a complementariedade da oferta interna, inclusive de alimentos, com importações.
O Japão colocou em curso um programa que já esta fomentando expressiva liquidez no mercado internacional e, para nos valermos deste fato imprevisto, mas interessante para o Brasil neste momento, o governo deveria desonerar do IOF os ingressos de capitais estrangeiros para investimentos em renda variável e fixa, bem como reduzir o prazo dos empréstimos sujeitos ao tributo.
Com um fluxo melhor resolveria o desequilíbrio atual de baixa intensidade de ingresso de recursos externos, que coloca em perspectiva até a possibilidade do governo ter que vir a utilizar as reservas cambiais e, que se torna fator impeditivo para que possa utilizar com conforto o real apreciado como estratégia de contenção inflacionária.
O governo poderá deixar de retirar a barreira tributária que mesmo assim o preço da moeda americana será depreciado, mas nos privaremos do fluxo de ingresso das divisas que poderia ser conquistado para atenuar a sua fragilidade presente e em perspectiva.
A depreciação do dólar será fomentada a partir do mercado de derivativos operado no mercado externo, em especial com contratos a termo de dólar versus real, e este será o caminho alternativo ante a manutenção da tributação de IOF vigente, com o agravante de que o BC perde a capacidade de gestão da taxa administrada e pode não dispor de instrumentos adequados no caso de uma especulação mais intensa orquestrada a partir do exterior.
Retirando as barreiras, mitigaria este risco e continuaria no comando da formação do preço da moeda americana no nosso mercado.
Portanto, a medida não teria aquele teor de ser criticado como motivador da desindustrialização, como num passado recente, visto que a apreciação do real ocorreria, como já está ocorrendo neste momento em que retroagiu de R$ 2,03 para R$ 1,97, com ou sem ingresso da moeda americana, não sendo o governo o ator principal do fato, mas estaria prevalecendo-se do mesmo para, à margem, tirar o melhor proveito estratégico.
O Boletim FOCUS divulgado hoje aponta projeção para os IED´s ainda em US$ 60,0 Bi e superávit da balança comercial retrocedendo a US$ 10,64 Bi, mantendo o déficit em transações correntes em US$ 68,0 Bi. Como se vê, precisamos de fluxo de recursos, principalmente financeiro.
O dado desapontador do exterior veio hoje da China que cresceu 7,7% anualizado no 1º trimestre, com queda de 0,2% em relação ao período anterior, o que está gerando inquietações no mercado global.