A apreciação verificada no preço da moeda americana ontem, primeiro dia após o anuncio do “tapering” pelo FED americano, pode sugerir que as repercussões sobre o fato foram menores do que propagadas e projetadas.
A valorização ocorrida do preço do dólar foi tão somente uma reação natural ao fato novo e a perspectiva que se criou em torno dele, por isso resumiu-se tão somente a uma sinalização da tendência, a exemplo do que ocorreu no mercado internacional.
Este fato será mais um a impactar negativamente no câmbio no Brasil em 2014.
Em realidade, o cenário prospectivo para o câmbio no Brasil já era desfavorável em consequência da baixa atratividade exercida pelo país ao capital externo, decorrente fundamentalmente de causas domésticas.
Elevado déficit em transações correntes; politica fiscal deteriorada e sem margem para investimentos imprescindíveis; inflação; juros elevados; baixo crescimento, etc. colocaram o Brasil no rol dos países mais vulneráveis.
Estes já são fatores relevantes que fundamentam a perda de atratividade do país e a retração da atratividade perante os investidores internacionais.
É importante compreender que as reservas cambiais detidas pelo país servem como defesa da deterioração maior da moeda e solvência do país, mas não solucionam as causas que levaram o país a perder atratividade.
Portanto, a taxa cambial é tão somente consequência do conjunto de inúmeros fatos negativos e não causa.
A projeção recente do BC para o déficit em transações correntes em 2014 da ordem de US$ 78,0 Bi, semelhante ao que está sendo registrado este ano, deixa evidente que até mesmo a autoridade monetária não vê um cenário benigno para fluxos de recursos externos para o país.
As perspectivas consubstanciadas pelo cenário retrospectivo e prospectivo indicam que o volume de IED´s efetivos para participação na conta capital no país deve persistir cadente . Em 2012 o Brasil registrou na rubrica IED´s o montante de US$ 65,0 Bi, dos quais US$ 52,8 Bi em efetivos IED´s com participação no capital produtivo e US$ 12,4 Bi de empréstimos “intercompany” registrados como IED´s pelo critério do BC. Em 2013 a rubrica IED´s deve atingir montante quase semelhante, algo como US$ 63,0 Bi, mas dos quais somente estima-se que US$ 42,0 BI efetivos IED´s com participação no capital produtivo e US$ 21,0 Bi em empréstimos “intercompany”.
Deve ser registrado neste ano de 2013 um recuo de US$ 10,0 Bi nos IED´s efetivos que foram destinados a conta de capital, o que foi compensado pelo aumento dos empréstimos “intercompany” que, contudo, poderão ser retornados nos seus vencimentos.
Destaque-se ainda que queda considerável nos IED´s efetivos em conta de capital ocorreu num ambiente de liquidez abundante no mercado internacional a custos baixos.
O novo contexto após a decisão do FED dar inicio do “tapering” sugere menor liquidez e custos mais altos pode determinar. Em decorrência a propensão a investir no Brasil poderá ser afetada pela mudança deste cenário externo, agravado pelos problemas brasileiros de ordem doméstica. Poderá ocorrer um recuo maior nos IED´s efetivos e até mesmo nos empréstimos “intercompany” em 2014 em relação a 2013.
A projeção do governo é de que ocorra melhor desempenho da balança comercial, mas tudo leva a crer que continuaremos importando mais e exportando com baixo crescimento, pois o país tem baixa competitividade e produtividade. No ramo de “commodities” que é menos exigente de tecnologia do que os setores industriais há problemas inconcebíveis. Matéria jornalista de terça-feira evidenciou que para transportar uma saca de milho que custa R$ 9,00 do Mato Grosso ao porto de Santos o frete custa R$ 18,00. É o custo Brasil.
O Brasil é o grande obstáculo para o Brasil, e enquanto não resolvermos isto, o país não terá tração para o crescimento sustentável, que precisa de investimentos e reconhecer que o modelo consumo/crédito já esgotou a lacuna que existia na economia brasileira e que foi a mola propulsora do crescimento sem investimento.
Então, a decisão do FED é um agravante a mais no conjunto de fatores adversos presentes.
Vai impactar na taxa cambial?
Evidentemente que sim, devemos ter saída de recursos seja pela diminuição da liquidez internacional, seja pela recuperação da economia americana que deve segregar os investimentos que estão nos países emergentes, em especial os que estão mais vulneráveis.
O próprio BC ao realizar ajustes no seu programa de intervenção no mercado de câmbio deixou evidente pela nova estratégia adotada que tem foco nas pressões que ocorrerão agora a partir do mercado de câmbio à vista, sobre o qual pretende atuar com todos os instrumentos que dispõe, naturalmente procurando “administrar a taxa”.
Pode ser uma tarefa ingrata para a autoridade monetária, pois a pressão embora gradual ao longo do 1º trimestre tende, no nosso ponto de vista, ser contundente.
O BC certamente vai tentar, como já sinalizou, conter a depreciação do real, buscando evitar a contaminação da inflação e assim evitar que tenha que adotar medidas de politica monetária que passam pela elevação da SELIC.
Mas há outros fatores que podem impulsionar a inflação além do câmbio, como o represamento dos reajustes dos preços administrados ocorrido em 2013 que não deve se repetir em 2014 e a politica fiscal expansionista, que apesar dos discursos recentes das autoridades, será muito difícil de ser reorganizada em ano eleitoral.
Será muito difícil o governo conseguir um IPCA em 2014 menor do que em 2013, assim como um crescimento do PIB mais expressivo, já projetado pelo mercado financeiro em torno de 2% contra 3,8% do governo.
Os efeitos da decisão do FED repercutirão gradualmente, mais intensamente no 1º trimestre, aos quais se juntarão os problemas domésticos do Brasil, e isto certamente exercerá pressão de alta no preço do dólar.
O BC atuará, poderá ter um sucesso parcial, mas quanto mais buscar conter a depreciação do real, mas difícil ficará recompor a situação do setor externo, que continuará consumindo poupança externa cada vez mais intensamente.
Á margem deste cenário desfavorável ainda haverá o risco de perda de “rating” e, também, de ocorrência de movimentos especulativos diante da vulnerabilidade da moeda.
O excesso de intervencionismo e o montante de instrumentos e recursos para proteção do preço da moeda nacional podem atingir parâmetros desconfortante as avaliações dos investidores externos, contrariamente ao objetivo de tranquiliza-los, e pode ser mais um fator para a contração dos ingressos de recursos externos.
O conjunto dos efeitos da decisão do FED e dos problemas de natureza doméstica é que nos tem dado a convicção de um cenário desfavorável para o câmbio, com ênfase no 1º trimestre, quando entendemos que o preço da moeda americana possa atingir R$ 2,50.