Enfim, o FED decidiu e fez bom o compromisso de Ben Bernanke. E agora?

A decisão do FOMC validou o compromisso anunciado por seu Presidente Ben Bernanke de que o “tapering” seria definido este ano. A decisão de redução de US$ 10,0 Bi nos US$ 85,0 Bi mensal entra em vigor em janeiro próximo, não foi unanime mas teve larga aprovação de 9 a 1 e o FOMC destacou que tem plena confiança na melhora do cenário econômico americano.

Importante também foi a decisão de manutenção de juro entre zero e 0,25%, com perspectivas de ser alterado somente quando o desemprego ficar menor do que 6,5% e/ou a inflação que atualmente está em torno de 1% sinalize que pode superar 2%.

A decisão já estava no “radar” para o curtíssimo prazo, mas o seu anúncio hoje contrariou a projeção da maioria dos analistas no mundo todo.

Certamente haverá impactos em dimensões diversas no mercado global, com cada economia repercutindo na medida direta de sua dependência de capitais voláteis, que serão gradualmente reduzidos em sua liquidez, além de intensificar que ocorra expressivo retorno de capitais, em especial lotados nos mercados emergentes, para a economia americana, cuja recuperação tem forte poder de catalisar atratividade dos investidores.

O Brasil tem enfatizado o discurso, por inúmeras vozes, afirmando e reafirmando que está preparado para enfrentar os efeitos pressupostos desta medida nos fluxos de recursos estrangeiros que estão aplicados no país e, evidentemente, na taxa cambial.

Busca com isto atenuar as perspectivas de que possa ter impactos relevantes de saídas, mas por maior que seja o poder de intervenção do BC é inegável que se acentuarão os fluxos adversos e isto acarretará maior pressão sobre o preço da moeda americana.

A perspectiva de que o preço da moeda americana possa ser pressionado e elevado pode precipitar os movimentos de saída de recursos visando evitar uma taxa cambial muito exacerbada, já que quanto mais alta a taxa menor será o valor de dólares a serem remetidos para o exterior, embora possa se considerar que grande parte dos recursos aplicados no Brasil estejam com “hedge”, o que permitiria que a dinâmica de saída dos recursos ocorresse de forma mais gradual, sem evitar contudo a depreciação do real.

Decisão do FED à margem, a colocação ontem de projeção pelo BC para o déficit em transações correntes em 2014 da ordem de US$ 78,0 Bi, inquestionavelmente afeta as expectativas e sugere que a própria autoridade monetária não espera melhora de fluxos na área cambial, já que o número é muito semelhante ao deste ano de 2013, e a além desta projeção não foi aventada, absolutamente compreensível, a tendência de IED´s serem cadentes no próximo ano.

Este ano temos um déficit em transações correntes até novembro da ordem de US$ 72,7 Bi e nos últimos 12 meses US$ 81,1 Bi, equivalente a 3,66% do PIB, e o BC projeta US$ 79,0 Bi para o fechamento do ano. Importante lembrar que no ano de 2012 até novembro este déficit era de US$ 45,8 Bi, ou seja, 63% do atual, tendo ocorrido um crescimento de quase 60% na relação 2013/2012.

Os IED´s que o BC está projetando fechar 2013 com o montante de US$ 63,0 Bi, até novembro atingiram US$ 57,5 Bi, porém deve ser observado que deste total, US$ 38,1 Bi, algo como 66%, foram efetivamente IED´s para participação no capital, enquanto US$ 19,4 Bi, algo como 34% do total, foram empréstimos “intercompany” contabilizados, como usual, pelo BC como IED´s.

No ano de 2012 o total de IED´s foi de US$ 65,2 Bi, dos quais US$ 52,8 Bi, equivalente a 81%, destinados a participação no capital e US$ 12,4 Bi, algo como 19% do total, foram empréstimos “intercompany”, contabilizados, como usual, pelo BC como IED´s.

O ponto de destaque é que o volume de IED´s para participação no capital, recurso que vem para ficar e produzir, recuou de US$ 52,8 Bi em 2012 para US$ 38,1 Bi (até novembro com possibilidade de atingir US$ 42,0 Bi até dezembro) em 2013.

Por outro lado, foi expressivo o crescimento dos empréstimos “intercompany” que em 2012 foram de US$ 12,4 Bi, 19% do todo considerado IED´s, para US$ 19,4 Bi, até novembro, equivalente a 34% do todo.

Quando se diz que a atratividade do país é cadente perante os investidores encontra-se fundamentos nos números.

 E as tendências que ficam sinalizadas não são otimistas, pois dada à perspectiva de queda da liquidez internacional devido o “tapering” do FED a partir de janeiro no montante de US$ 10,0 Bi mensalmente, poderá afetar a tomada de decisão de investimentos por parte dos estrangeiros consequente da redução da liquidez e que se potencializa em relação ao Brasil pela identificação de poucas oportunidades na visão comparativa com outros emergentes e com a própria economia americana, é muito provável que o volume de IED´s com participação no capital siga em queda. E, por outro lado, nada garante que as empresas estrangeiras aqui estabelecidas continuem demandando empréstimos “intercompany” de suas matrizes e/ou coligadas, tendo em vista a dinâmica de crescimento do país ter sido aquém das projeções do governo e a crescente percepção de que o Brasil não ficou efetivamente mais rico, mas simplesmente mais caro e este é um ponto relevante na decisão de alocação de recursos das matrizes nas suas coligadas.

Tudo sugere que a NFE (necessidade de financiamento externo) continuará expressiva e, por conseguinte, continuaremos nos valendo da poupança externa dada a nossa carência e incapacidade de geração de poupança interna.

O BC terá a incumbência de, dentro do seu possível, mitigar a tendência de alta do preço da moeda americana, não sendo uma disputa com vitória certa, e isto poderá não contribuir para o acerto do descompasso no setor externo.

Ontem, após o expediente anunciou os ajustes no seu programa de intervenção no mercado de câmbio, que é objeto de nossa análise em Boletim Especial divulgado hoje.

O governo tem enfatizado que adotará linha de rigor na politica fiscal, mas sabidamente este pode ser um desafio com baixa probabilidade de sucesso, visto que 2014 será um ano eleitoral.

O Brasil está sob observação rigorosa das agências de “rating” que insinuam que podem reduzir a nota de crédito do país, e o desempenho fiscal é efetivamente o “x” da questão, e este é um risco efetivo em 2014, e, poderá ser motivador à retração de fluxos favoráveis.

O Brasil, afora o otimismo natural e necessário do governo, tem um empresariado com baixa propensão ao investimento e o mercado financeiro por suas instituições já começou a manifestar projeção de baixo crescimento do país no ano de 2014 como expressado pelo Boletim FOCUS do BC , que em sua ultima edição pontuou a revisão de 2,10% para 2,01%. Oportuno lembrar que o orçamento da União foi realizado com projeção de crescimento do PIB de 3,8%, absolutamente irreal ante o cenário prospectivo.

A ocorrência de pressão maior sobre o câmbio poderá afetar a politica monetária que precisará valer-se da elevação da SELIC, que assim poderá desincentivar o investimento.

O fluxo cambial divulgado ontem pelo BC revelou a tendência negativa se acentuando. Até o dia 13 último o fluxo comercial está negativo em US$ 1,876 Bi e o financeiro em US$ 2,354 Bi, totalizando no fechamento negativo US$ 4,230 Bi, após ter acumulado US$ 2,651 Bi até a semana antecedente finda no dia 6.

Com base nos números do BC os bancos devem estar com posições “vendidas”, data base 13, no montante de US$ 13,807 Bi, consequentes da geração de liquidez ao mercado dentro da estratégia adotada pelo BC e ancoradas em linhas de financiamento em moeda estrangeira concedidas pela própria autoridade monetária no total de US$ 15,686 Bi.

O montante de US$ 13,807 Bi é o total de fluxo cambial faltante ao país, tendo em vista que não houve intervenção do BC nem comprando e nem vendendo moeda a vista ao mercado.

Temos salientado que o preço da moeda americana pode atingir R$ 2,50 ao final do 1º trimestre, que entendemos um período mais critico, tendendo a fechar o ano em R$ 2,60.

Como dissemos anteriormente, a decisão do FED trará repercussões, mas o Brasil tem outros problemas relevantes como desafio em 2014.

A taxa de câmbio e sua tendência são consequências e não causa!

 

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