Muitas incertezas e muitas esperanças por parte das autoridades brasileiras que conduzem a política monetária, que se tornou complexa ao converter-se ao heterodoxo alterando o papel de cada instrumento na busca de objetivos e, por isso, perde credibilidade, na medida em que a inflação demonstra vitalidade acima do previsto e pode ser insensível ao preço do real artificialmente apreciado, ao mesmo tempo em que a economia não evidencia recuperação ancorada por uma taxa SELIC bastante reduzida.
Por vezes, é interessante olhar-se contra o mercado para ter uma visão mais próxima do acerto.
O real está fortemente apreciado e deixa a impressão de que esta administração governamental do preço da moeda ocorre de forma tranquila e sustentável.
O fundamento indica que temos um fluxo cambial adverso para o país e uma balança comercial que dá sinais de debilidade, o que não sugere apreciação do real.
Ao fluxo atribui-se perspectiva de melhora com o inicio da comercialização das safras agrícolas, mas é necessário atentar para o fato que temos concorrência em alguns itens relevantes e que a sorte ocorrida no ano passado com quebras de safras no exterior pode não ocorrer neste ano, e os preços podem ficar relativamente debilitados nas bolsas internacionais combinados com um preço de dólar no Brasil fora do ponto.
A balança comercial com resultados pífios é justificada como consequência do retardamento (sic) dos registros das importações da Petrobrás relativas ao ano de 2012. Contudo, o processo de importações de petróleo por parte da Petrobrás continuará e, segundo a própria empresa, pode crescer 22% em volume, portanto este é um fato continuo e não ocasional e nem pontual. No ano acumula déficit de US$ 4,78 Bi, tendo registrado déficit em fevereiro de US$ 741,0 M até o dia 10.
Resta ainda observar como se comportará o fluxo financeiro para o Brasil, já que nossa Bovespa pouco atrai investidores e nosso juro já não é generoso como outrora, ao mesmo tempo em que surgiram outras economias emergentes despertando interesses aos grandes investidores.
Neste momento, não ocorrem “oposições” no mercado de câmbio à apreciação do real. Os bancos são aliados do governo na medida em que estão posicionados “vendidos” entre mercado à vista e futuro/derivativos em torno de US$ 15,0 Bi. O interesse em se cobrir a preços abaixo dos praticados nas vendas é absoluto, por isso, às vezes, ocorre uma forçada de acentuar a apreciação do real, que o BC tem que intervir com os “swaps cambiais reversos” para sinalizar que não deseja apreciação maior.
Mas se olharmos contra o mercado, em perspectiva mantido o fluxo cambial negativo para o país e com a balança comercial sustentando seu déficit, o que parece tranquilo neste momento pode se tornar preocupante.
O real apreciado incentiva a importação e a substituição dos produtos nacionais e insumos, destruindo um pouco mais o parque industrial brasileiro, que desta forma perde incentivo ao investimento e pode começar a demitir. Incentiva também o turismo brasileiro que registrou no ano passado gastos no exterior da ordem de US$ 22,0 Bi, que compensando os US$ 6,0 Bi de gastos de estrangeiros no país, deu um saldo negativo de US$ 16,0 Bi, quase a totalidade do nosso saldo de balança comercial.
O crescimento do país tende a ficar comprometido.
O Boletim FOCUS datado de 8 e divulgado ontem eleva a projeção do IPCA-2013 para 5,71%, mantendo a SELIC em 7,25% e reduzindo a projeção de crescimento do PIB para 3,09% e da produção industrial para 3,10%. As projeções pioram muito rapidamente considerando que estamos no meio do 1º trimestre do ano.
O crescimento do PIB brasileiro tende a ficar projetado abaixo de 3% proximamente e a projeção da produção industrial está superestimada devendo ficar bastante distante da atual para pior.
A projeção do dólar reduzida a R$ 2,03 pode estar comprometida por não estar amparada pelos fundamentos e pode estar contaminada pelo posicionamento vendido dos bancos na moeda, que sugere, por conveniência, não realizar projeção mais ousada.
O cenário externo quando se observa a Europa surpreende com a retração do PIB de 0,6% no ultimo trimestre, com Alemanha com queda de 0,6%, uma surpresa, e França 0,3%. O Japão entrou em recessão ao registrar no ultimo trimestre retração de 0,4% no PIB.
Importante sinalização dada ontem pelo Presidente americano Obama e confirmada pelas autoridades da União Europeia acerca da criação de uma zona de livre comércio entre ambos, o que poderá ter importantes impactos no comercio exterior, com reflexos na China e nos países emergentes.
O Brasil tem sido mais defensivo do que agressivo no comércio exterior, como seria recomendável para um país emergente. O Mercosul não evolui nos acordos com Estados Unidos e com a Europa, e perde tempo demasiado com países como a Argentina, que são símbolos do retrocesso.
O G-20 aborda um tema que envolve a utilização das paridades monetárias distorcidas pelos países integrantes do grupo no comércio exterior. Esta é uma discussão que não enseja expectativas, visto que não há inocentes, todos em intensidade maior ou menor interferem na formação do preço das suas moedas. Uns estimulando o seu potencial e outros os reduzindo de forma substantiva, para atender a interesses afins ou não.
Nosso ponto de vista continua sendo que haverá pressão sobre a formação do preço da moeda americana no Brasil e, que ocorrerá o consenso sobre o baixo alcance e contribuição do real apreciado sobre os fatores de pressão inflacionária.
Não descartamos que, em perspectiva, a SELIC venha a ser elevada e a administração do preço do câmbio seja relaxada pelo governo, deixando o foco em conter efetivamente a intensidade das pressões inflacionárias e, visando não desestimular a atividade econômica do país.