A intensidade das pressões inflacionárias está surpreendendo e o IPCA de 0,86% em janeiro, acumulando 6,15% nos últimos 12 meses, sendo 11,1% nos alimentos, causou efeitos imediatos de desconforto às autoridades do governo, fato ratificado em declaração feita ontem pelo Presidente do BC Alexandre Tombini, ao qual se seguiu forte apreciação do real, num sinal claro de que dispondo de uma única estratégia operacional neste momento o governo busca intensificá-la, já que as demais estão comprometidas pela palavra (não aumentar o juro) e pela inconveniência de serem adotadas (medidas macro prudenciais).
À margem desta estratégia o governo estuda desonerar de tributos à cesta básica, visto que a inflação está mais forte para a população de mais baixa renda, porque os alimentos, por razões climáticas, registraram fortes altas. Esta decisão deve impactar no índice apurado pelo IBGE, mas será pontual.
O IBGE ainda ressaltou que a redução da tarifa de energia elétrica residencial, vigente a partir do dia 24, foi decisiva para conter a aceleração do IPCA em janeiro, a despeito do curto período de vigência naquele mês.
Os alimentos que causaram maior impacto foram tomate, batata inglesa, cebola, hortaliças, farinha de mandioca e cenoura. Pergunta-se, o que a apreciação do real pode causar de efeito nestes preços? Salvo se passarmos a importar, também, alimentos…
O segmento serviços continua impulsionando a inflação, e enquanto se espera perda de intensidade inflacionária por parte dos alimentos, em perspectiva se projeta preços dos serviços com viés de alta. Neste quesito de serviços não se vislumbram efeitos do real apreciado.
A inflação torna-se cada vez mais um complexo problema para o país e para as autoridades monetárias dirigentes, visto que, no quadro atual, deixa baixíssimo espaço de manobra para ações estratégicas visando conter a sua alta.
O contexto tende a induzir mudança de atitude atual por parte do governo, deixando a politica heterodoxa que colocou a SELIC em prol do crescimento econômico e o câmbio como ancora do controle inflacionário, revertendo ambos para as suas características próprias dentro da política monetária. Se persistir pela opção atual a inflação poderá se tornar problema ainda de maior dimensão.
Mas, acreditamos que será muito difícil o governo ceder às pressões do mercado de imediato, porque a mudança de postura afetaria ainda mais negativamente a credibilidade da política econômica que vem sendo implementada pelo governo.
O mercado já está muito confuso, por isso impulsiona alta no mercado de juro, e nota por parte do governo muita insegurança sobre o que está fazendo. O BC opera focando a apreciação do real como antidoto às pressões inflacionárias e não ratifica com declarações esta notória postura.
Ao mesmo tempo, o Ministro Mantega declara que não permitirá o dólar a R$ 1,85 e o Ministro Pimentel diz que câmbio é “vigilante” e mira os R$ 2,00. Por outro lado, coroando as manifestações por ações ou palavras, todos sustentam que o “cambio é flutuante” e, contraditoriamente, o que se vê é a apreciação do real num ambiente de fluxo cambial negativo.
O governo está mesmo sendo colocado em “xeque” pela questão inflacionária e, a opção pelo “tratamento” com real apreciado, num ambiente de fluxo cambial negativo para o país, com viés de sustentabilidade, torna mais difícil a viabilização da opção escolhida, podendo resultar em insucesso, mas não só isto, deixando malefícios significativos para a economia, como efeitos colaterais desincentivadores para o setor produtivo afetando a propensão ao investimento.
Neste cenário o confronto da ação do governo com a realidade do mercado de câmbio resultará em volatilidade e baixa sustentabilidade para a estratégia governamental.
O mercado, contudo, cada vez mais, vê como absolutamente necessário que o governo eleve a taxa SELIC para tentar reverter a curva aquecida da inflação, podendo deixar o câmbio como “ancora coadjuvante” num patamar mais elevado a ponto de estimular a indústria a retomar os investimentos e aumentar a oferta, que é efetivamente o grande problema.
Não deve ser descartada uma “meia volta volver” na estratégia, pois se não houver reação eficaz e contundente a pressão inflacionária, num ambiente de politica fiscal expansionista por parte do governo, poderá comprometer as expectativas em torno de um desempenho melhor da economia brasileira neste ano 2013.
Salientamos, mais uma vez, a opção pelo real apreciado por parte do governo para conter a pressão inflacionária não é sustentável e encontrará fortes resistências dos fundamentos do mercado ao longo do ano.