O mercado financeiro teve ajuste acentuado nesta semana impulsionado a partir do mercado de dólar futuro, que naturalmente acabou contaminando o mercado de câmbio à vista, ao registrar forte movimento de desmonte das posições “compradas” futuras, notoriamente especulativas, montadas com prevalência por investidores estrangeiros, que se não atenuado poderia conduzir o preço da moeda americana a patamares de depreciação que consolidariam enormes prejuízos aos especuladores de forma rápida.
Contido, momentaneamente, o ímpeto do desmonte pelos especuladores, que tem na outra ponta os bancos posicionados vendidos, ávidos e aguardando a queda para se cobrirem de forma oportunista e lucrativa, os investidores “comprados” conseguiram atenuar a dinâmica de apreciação do real frente ao dólar no nosso mercado, e assim, amenizar a dinâmica da derrocada da qual eram os propulsores.
Com a contenção momentânea do desmonte de suas posições “compradas” conseguiram dar sustentação temporária da taxa cambial, mas no nosso entender nada mais do que um “stop and go” e a apreciação do real frente ao dólar deverá continuar ao longo do mês.
O preço da moeda americana em alta no mercado brasileiro perdeu suporte porque não estava sendo formado com fundamentos críveis e consistentes, tinha cunho absolutamente especulativo.
Nesta fase de inflexão será natural a ocorrência de “stop and go” para observação constante por parte dos “players” da trajetória da tramitação da Reforma da Previdência, como atitude de precaução a algum fato novo.
Acreditamos que a tramitação e aprovação da Reforma, a despeito de eventuais ruídos persistentes e repetitivos, deverão ocorrer naturalmente, visto que houve expressiva percepção política da sua absoluta necessidade. Agora cumpre o rito formal.
Evidente que há parâmetros para esta apreciação do real frente ao dólar neste momento, entendendo que seja bastante provável que ao final do mês esteja o preço no entorno de R$ 3,80.
Após atingir este patamar acreditamos que poderá haver maior sinergia na formação do preço local com o comportamento do preço no mercado internacional, pois o preço local estará descontaminado de exacerbação distorciva.
A Bovespa oscila no momento mais como consequência de comportamentos pontuais de alguns papéis envolvidos em negociações societárias, mas a perspectiva de chegada gradual dos investidores estrangeiros ao longo deste mês nos parece cada vez mais factível, na medida em que ocorrem sinais de que o FED poderá reduzir a taxa de juro americana, e isto poderá intensificar as operações de “carry trade” para direcionamento de recursos aos emergentes, antecipando-se, quem sabe, a um eventual “boom”.
Por outro lado, embora não destacado pelo BC, há grande possibilidade da SELIC vir a ser reduzida se até a próxima reunião do COPOM houver convicção sobre a aprovação da Reforma da Previdência e for mantido o viés de queda do IPCA.
Será natural que nesta fase de ajuste, inflexão, tanto do dólar, Bovespa e juros ocorram momentos voláteis, mas o importante é que o viés da tendência do ajuste se demonstre consistente.
A mutação de ânimos tende a ocorrer ainda com certa insegurança que deverá ser mitigada ao longo do mês, quando os movimentos forem se consolidando e for ficando evidente que o Brasil está recuperando dinâmica positiva fomentando as perspectivas de retomada da atividade econômica.
É compreensível, pois após perspectivas muito otimistas e alvissareiras ao início do ano, ocorreu severo movimento propagando o negativismo, e este fato agora fomenta a precaução.
O mês de maio teve um fluxo cambial positivo discreto da ordem de US$ 346,0 Mi, registrando fluxo comercial positivo de US$ 1,495 Bi e fluxo comercial financeiro negativo de US$ 1,149 Bi. No ano o fluxo cambial aponta superávit de US$ 1,753 Bi, sendo positivo comercial de US$ 6,878 Bi e negativo financeiro de US$ 5,126 Bi. As reservas cambiais do país estão em US$ 386,0 Bi e os bancos estão com suas posições vendidas (descobertas) em US$ 22,099 Bi, lastreadas parcialmente com linhas de financiamento em moeda estrangeira pelo Banco Central do Brasil.
Não temos dúvidas de que o Brasil está tendente a iniciar um movimento de recuperação efetiva no direcionamento do seu desempenho para momento e perspectivas bastante favoráveis.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO