O Brasil viveu cinco meses iniciais do ano com o ambiente político fortemente polarizado com discussões ideológicas, corporativistas e outras, fato que subtraiu de forma contundente uma visão com maior acuidade sobre as efetivas perspectivas para a economia brasileira, que tendo ficado inerte e à mercê dos embates proteladores e já vindo claudicante de governos anteriores, só fez emergir a antevisão de queda contínua das projeções do PIB, o que foi confirmado no apurado relativo ao 1º trimestre.
O fato central de toda esta estagnação econômica decorreu da severa crise fiscal com que se defronta o país, e, a contenção de qualquer avanço concreto devido ao embate político em torno da propositura da Reforma da Previdência, passo inicial e fundamental para a mitigação dos drásticos efeitos paralisantes no avanço de quaisquer ações efetivas do novo governo.
O único ponto efetivo perceptível e sancionado foi a crescente redução da projeção do PIB para este ano, sendo que os demais indicadores foram mantidos praticamente estáveis, como as projeções para final do ano da SELIC, IPCA e CÂMBIO.
O Boletim FOCUS retratou isto, fundamentado na mediana das projeções das instituições financeiras, com precisão e, foi marcante o fato de não ter sido afetado na sua projeção sobre o preço do dólar pelo contínuo e perturbador, embora carente de fundamentos sustentáveis, movimento especulativo ocorrido no mercado futuro da moeda, que agora recrudesce retomando o alinhamento gradual na direção da normalidade.
Ao que tudo indica, com a mudança de postura dos políticos face à preocupante situação fiscal do país, o contexto da atividade econômica brasileira pode estar no seu momento marcante de inflexão, o que determinaria a retomada do clima otimista, tanto quanto existiu ao final do ano passado com vistas ao novo governo que seria empossado ao início do ano.
Desta forma, ocorrem sinais iniciais de melhora do ambiente, fragilização das irrealidades construídas neste período inicial do ano, e doravante será possível que, confirmados os avanços em torno da Reforma da Previdência, possam ser reavaliadas projeções severamente negativas e assim se tornarem mais amenas e promissoras.
O câmbio, onde o país não tem fragilidades e teve o seu preço distorcido por forte movimento especulativo absolutamente errático, tende a retomar o alinhamento com o seu ponto de equilíbrio “vis-a-vis” a situação das contas externas e do déficit em transações correntes do país. Nossas projeções apontam que este ponto está entre R$ 3,75 a R$ 3,80.
Há quem credite este ajuste em parte a fatores externos como a fragilização do dólar no mercado internacional, que comentamos abaixo, mas continuamos entendendo que o ponto de maior impacto é de natureza interna, visto que o preço no mercado interno estava absolutamente incompatível com a situação cambial do país, e, somente após o ajuste desta distorção o preço local poderá ter sinergia mais efetiva com o comportamento externo.
Os “comprados” especuladores no mercado futuro de dólar local, predominantemente estrangeiro, estão “queimando” suas posições para evitar maiores prejuízos e com isto intensificam a apreciação do real.
A BOVESPA, acreditamos, terá uma recuperação gradual, ainda com alguma volatilidade, retomando às perspectivas do início do ano que não se confirmaram passando a ser foco dos investidores nacionais e internacionais, pois com o encaminhamento, ainda que parcial, do equacionamento do problema fiscal do país, a economia deve reagir retomando dinamismo, mesmo que gradualmente, passando a gerar empregos, renda e consumo, além de melhora de arrecadação tributária pelo governo.
E, para tanto poderá contribuir na intensificação deste movimento a eventual redução do juro americano, que estimulará a realização de operações de “carry trade” forjando recursos que poderão ser direcionados para os emergentes, com destaque para o Brasil.
O dólar tem acusado baixas nas últimas semanas em relação a cesta das principais moedas, atribuindo-se como causa as expectativas de corte de juros pelo FED que acabam pressionando os rendimentos dos T-Bills. A rentabilidade caiu para o entorno de 2% refletindo repercussões a partir do pronunciamento de James Bullard, Presidente do FED St. Louis, que sinalizou possibilidade de corte de juro brevemente.
E, além disto, embora venha sendo negado pelo COPOM, há efetiva possibilidade da SELIC sofrer uma redução, tão logo consistente o encaminhamento da Reforma, para estimular a atividade econômica e investimentos, já que há a percepção de um viés de queda no IPCA.
O mercado de juro deverá repercutir a melhora do risco que estava sendo agravado com a insuficiência de recursos por parte do governo ante uma Dívida Pública expressiva.
Há grande chance de termos efetiva revirada no ambiente interno e suas perspectivas para o segundo semestre deste ano, com a economia retomando o destaque que havia sido subtraído pela política.
No mercado internacional as questões comerciais entre os Estados Unidos e China não sinalizam solução tão imediata quanto necessária e desejável, e, já há sinais de que o embate é danoso para ambas às partes com reflexos em suas economias.
O Brasil é concorrente e parceiro e, enquanto houver embate, poderá ser marginalmente favorecido em suas exportações, que estão precisando de maior dinamismo neste ano, tendo em vista que eventual retomada da atividade econômica deve intensificar o volume das importações.
Enfim, “há luz no final do túnel”, e o Brasil poderá a partir deste mês de junho reacender as perspectivas que fomentaram o elevado otimismo ocorrido ao início do ano.
O contraditório é que no momento em que a cena econômica mundial está acentuando a piora, o Brasil que tem se mantido “bem ruim” pode começar a “sair do buraco”, já que tem um mercado interno que pode se fortalecer com perspectivas novas.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO