Sabidamente, grande parte do volume de posições “compradas” no mercado futuro de dólar teve motivação puramente especulativa, fato percebido, porém nem sempre destacado, e foi construído com a prevalência de investidores/especuladores estrangeiros, valendo-se do antigo perfil brasileiro de que a qualquer fragilidade o primeiro sinalizador é repercutido no valor da moeda americana.
Esta já não é uma realidade presente, na atualidade o quesito cambial é, muito provavelmente, o único setor altamente defendido de crises, já que o país detém reservas cambiais excessivas face às suas necessidades e com o isto o BC pode praticar operações estruturadas para suprir demandas no mercado a vista e/ou no mercado futuro quando efetivas, e isto não se tornou necessário ao longo dos últimos meses, a despeito do agravamento da apreciação do dólar frente ao real.
A autoridade monetária agiu com extrema sensatez a partir do diagnóstico correto de que o movimento de pressão no preço da moeda americana era puramente de cunho especulativo e não rigorosamente de demanda por moeda efetiva ou “hedge”, e neste caso teria oferecido contratos novos de “swaps cambiais”. Manteve-se corretamente à margem do ocorrido.
A aposta, embora reconhecidamente errática e sem fundamentos quanto ao ativo, estava ancorada na perspectiva do caos nos pontos fundamentais objetivados pelo novo governo, praticamente “cercado” por embates ideológicos, corporativos e midiáticos. Desta forma, as reações estavam impulsionadas pelo emocional e distante do racional.
O país não teve nenhum movimento concreto de fuga de capitais e de pressões efetivas de demandas. O fato perceptível, face às incertezas sobre os avanços nos intuitos governamentais na busca da governabilidade a partir da superação ou equacionamento da severa crise fiscal, foi o recuo dos investidores estrangeiros em relação ao país e o agravamento da inércia da atividade econômica, e o natural decréscimo sobre as perspectivas do PIB.
Com a melhora do ambiente político em torno da tramitação da Reforma da Previdência, a despeito da evidente deficiência de articulação política por parte do governo por notória inexperiência, com ressalva ao empenho positivo do Ministro da Economia Paulo Guedes, sinalizando o entendimento de que sem a Reforma o cenário prospectivo seria realmente o caos, perdeu suporte o foco motriz da especulação que impactou sobre a formação do preço da moeda americana no nosso mercado e, também, no mercado de juro, que teria reflexos diretos em caso de crise fiscal agravada.
Este nova realidade impactou diretamente no movimento especulativo contido nas posições “compradas” no mercado de dólar futuro, e, neste momento, coloca os investidores/especuladores num “corner”, pois os mesmos sentem que precisam sair deste posicionamento inviabilizado pelos fatos e circunstâncias, mas ao adotarem a iniciativa do “desmonte” se tornam os propulsores da intensificação da depreciação do preço do dólar frente ao real, o que é efetivamente um “corner”, ainda mais quando tem no posicionamento oposto como “vendidos”, ávidos para adquirir os dólares a preços convenientes para alavancar exponencialmente seus lucros, os bancos, que nunca deixaram de evidenciar, através a mediana de projeções do Boletim Focus, sua convicção num preço da moeda americana ao redor de R$ 3,80.
Este é o contexto atual, inegável pelos fatos concretos, e que tem como motivação marginal a queda do dólar no mercado internacional frente a cesta de moedas, que, contudo, no nosso entender, é só um argumento a mais, visto que o índice dólar atual está em torno de 97,00, não devendo passar desapercebido que ao longo do último ano flutuou entre 93,18 a 98,26, com uma variação de 3,61%, e em 9/1/19 estava em 94,792 e em 9/4/19 estava em 96,670, e nunca se destacou com a ênfase atual movimento sinérgico entre este comportamento e o comportamento do preço do dólar no nosso mercado futuro, como se busca fazê-lo neste momento.
Agora, é um argumento a mais quando se busca não reconhecer frontalmente o movimento especulativo articulado que perde suporte e se fragiliza rapidamente. Ontem o índice dólar apontava queda considerável contra cesta de moedas, enquanto no Brasil demonstrava resistência ante o real.
Ontem, mencionamos a ocorrência possível do “stop and go” por parte dos “comprados” na dinâmica do desmanche que tende a conduzir o preço da moeda americana no nosso mercado ao entorno de R$ 3,80, visto que a despeito da crescente confiança em torno da aprovação da Reforma, sempre ocorrem ruídos e discretos embates que podem retardar as expectativas otimistas de momento.
Isto pode transparecer volatilidade no processo de ajuste.
Acreditamos que haverá um comportamento sinérgico entre o preço local da moeda americana e o mercado global após atingida a “depuração” do excesso contido no preço atual praticado no país.
A Reforma da Previdência, como fator inicial de uma série de reformas necessárias ao país, quando aprovada ou na iminência de sê-la, deverá consolidar a melhora de percepção efetiva das perspectivas para o país, e, com isto, os investidores estrangeiros deverão fluir recursos para o Brasil, para a conta capital e para o mercado financeiro, e a economia deverá confirmar o que já vem dando sinais de repercussões discretas iniciais.
Tudo indica e nos leva a crer que ainda há tempo para reverter moderadamente as nefastas projeções presentes para este ano.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO