O fluxo cambial fechado de 2013 retrata a realidade da perda de atratividade do país, permitindo que a perspectiva para 2014 possa ser bem pior.
Saldo negativo de US$ 12,2 Bi, consequente de fluxo comercial positivo de US$ 11,1 Bi e fluxo financeiro negativo de US$ 23,396 Bi.
Faz tempo que não se via resultado tão ruim. O pior desde 2002!
O fluxo comercial manteve a performance do ano de 2012 quando registrou positivos US$ 11,1 Bi, embora com volumes totais crescentes em 2013, não houve incremento do saldo positivo, visto que as importações cresceram mais do que as exportações.
Porém, no fluxo financeiro ficou toda a evidência da perda de atratividade do país, tendo ocorrido uma retração de expressivo montante de US$ 31,8 Bi. Em 2012 o fluxo foi positivo em US$ 8,4 Bi e em 2013 foi negativo de US$ 23,4 Bi.
Ficou faltando dólares para suprir a necessidade de demanda do mercado de câmbio à vista, o que foi mitigado pela intervenção do BC com uma estratégia de triangular o suprimento desta liquidez faltante através a concessão de linhas de financiamento em moeda estrangeira oriunda das reservas cambiais aos bancos, para que estes constituindo posições “vendidas” irrigassem a liquidez ao mercado.
Os bancos fecharam o ano com posições “vendidas” de US$ 18,124 Bi, composta pelo fluxo negativo deste ano de US$ 12,2 Bi e mais US$ 6,7 Bi migrada do mês de dezembro de 2012. Estas posições “vendidas” estavam lastreadas por linhas de financiamento concedidas pelo BC da ordem de US$ 16,986 Bi.
Devemos considerar que o cenário predominante em 2013 para o Brasil não se configurava tão desfavorável quanto a perspectiva presente para 2014 no setor externo.
O contexto adverso ao Brasil que se vislumbra para 2014 tem fatores que induzem a projetar-se saídas mais intensas de recursos do país e forte retração nos ingressos.
Há o FED iniciando neste mês de janeiro o processo de redução de US$ 10,0 Bi mensais no seu programa de incentivo monetário de US$ 85,0 Bi mensais, o que deve gradualmente impactar na liquidez do mercado internacional e consequentemente elevar o custo dos recursos financeiros.
Há economias em condições de plena atratividade pelas oportunidades que proporcionam, com destaque para a própria economia americana que dá sinais de retomada de ritmo de crescimento e que com isto passa a carrear para sua economia recursos que estão locados nas economias emergentes, em especial naquelas que se configuram como mais vulneráveis.
Ontem a ADP, empresa de processamento de folhas de pagamentos nos Estados Unidos, divulgou que de novembro para dezembro foram criadas 238 mil novas vagas de trabalho, dado que supera as projeções dos analistas que se situavam entre 200 mil a 215 mil vagas. Predomina a percepção de que os empresários estão mais confiantes e por isso contratam mais. O setor de construção teve o melhor mês desde 2006.
Há o risco de perda de rating pelo Brasil em razão da sua situação macroeconômica, em especial deterioração expressiva da política fiscal, a despeito de todo esforço do governo em buscar forjar resultados e divulga-los com ênfase, mas extremamente vulneráveis na sua composição, que acabam causando mais desgastes.
Estes são fatores que devem fomentar o movimento de saída de recursos do país, e na outra ponta temos o Brasil por si só despertando baixa atratividade ao capital externo, dada a inúmeros fatores que corroeram sua atratividade. O país deve crescer menos em 2014 do que em 2013; não sugere aos analistas possibilidades de que consiga reverter o quadro de deterioração da política fiscal, ainda mais por ser ano eleitoral; deve persistir com inflação elevada e exigindo elevação da taxa SELIC de forma mais contundente do que as projeções atuais.
A reação à percepção antecipada de forte retração nos ingressos por parte do governo parece que está na estratégia de não recorrência das estatais ao BNDES e ao Tesouro para empréstimos e/ou recursos, mas sim buscar captação externa, como a da Petrobrás já anunciada.
As privatizações, que poderiam ser a “janela” de atratividade para ingresso de investimentos, aparentam despertar pouco interesse aos investidores estrangeiros, tendo sido, até agora, mais foco de empresas nacionais, por vezes com recursos do BNDES.
Estamos projetando para 2014 um saldo negativo para o déficit em transações correntes, ainda moderado, da ordem de US$ 80,0 Bi e um montante de IED´s, bastante conservador, da ordem de US$ 55,0 Bi, aqui já inclusos os empréstimos “intercompany”.
Nossa balança comercial não deve ter brilho outra vez, e embora as safras agrícolas sinalizem crescimento, devemos ter forte concorrência americana nas exportações de soja e milho, o que tende a inibir melhora de preço.
As perspectivas é que fomentam a formação da tendência da taxa cambial no Brasil.
Dados ruins para o Brasil como fluxo cambial negativo fechado em 2013 evidenciando insuficiência de ingressos que vem exigindo a presença do BC para suprir, ainda de forma indireta, a liquidez e dados bons para os Estados Unidos, em especial no quesito emprego, que colocam em perspectiva uma eventual aceleração no processo de redução do programa do FED e até revisão da política de juros, impactam na formação do preço da moeda americana no nosso mercado de câmbio, como ocorreu ontem.
Contudo, no nosso entendimento, a intensificação de pressão de demanda ainda esta por ocorrer, nos parecendo inevitável que se torne realidade ao longo deste 1º trimestre, o que impactará fortemente no preço do dólar exigindo presença continua do BC intervindo no mercado de câmbio a vista procurando conter a alta.
2013 foi desapontador para o nosso setor externo e 2014 não permite perspectivas melhores.