Economias desenvolvidas se recuperam e emergentes vulneráveis se fragilizam!

No período decadente das maiores economias desenvolvidas, as economias emergentes tiveram a oportunidade de ocupar lugar de destaque no cenário mundial, o que lhes deu a enganosa impressão de que o quadro decrépito pós 2008 seria mantido e que até passariam a ocupar o lugar das economias mais importantes nos negócios e nas mesas de negociações.

Cada um dos emergentes valeu-se de seus potenciais imediatos para estimular o crescimento.

Passados mais de cinco anos, ocorrem, ainda que gradualmente, a recuperação da atividade econômica das economias ditas desenvolvidas, e, então, o grau de acerto ou erro de cada economia emergente começa a evidenciar-se nos resultados e nas suas vulnerabilidades, mostrando situações dispares entre as mesmas.

O Brasil, neste período, deu sequência ao seu modelo de oportunidade de crescimento que já vinha praticando, pois tendo uma população com um potencial enorme de demandas reprimidas, bastou manter estimulada a concessão de crédito com grande participação das instituições financeiras governamentais para dinamizar a demanda e consequentemente a atividade econômica, sem, contudo, precisar fazer investimentos, o que permitiu também a ampliação dos programas sociais e a expansão dos gastos.

Afora isto, o país foi beneficiado no periodo pelo “boom das commodities”, o que lhe permitiu conquistar superávits no setor externo, o que também já perdeu intensidade.

O modelo de crescimento esgotou-se, mas foi persistido, deixando evidente que faltaram os investimentos públicos e privados, e então restou um país com baixíssima tração para o crescimento, e que ainda registra baixo desemprego e um incremento de ganhos salarias que ainda superam a produtividade, o que contribui, afora outras razões, para a inflação resistente

O governo buscou fazer desonerações pontuais e direcionadas, mas errou na forma, e colheu resultados pífios.

Particularizando, os analistas internos e externos colocam o Brasil num grupo de 5 economias que consideram mais vulneráveis e com riscos agravados em perspectiva, baseado num quadro macroeconômico atual bastante fragilizado, sem perspectiva de reversão imediata.

Está crescendo a percepção de que neste período o país tornou-se um país caro e que manteve todas as deficiências estruturais pela ausência de investimentos e que o efeito riqueza que foi extravasado foi meramente um equívoco.

O contexto macroeconômico a que foi conduzido tem levado o país a perder atratividade perante os investidores externos, com perspectivas de agravamento deste quadro tendo em vista os desafios que teria que enfrentar para reorganizar-se, que envolvem contenção das pressões inflacionárias que já colocam para a população a sensação de que a inflação está bem acima do que os índices apontam; politica fiscal absolutamente deteriorada e que não deixa margem mínima sequer para o governo investir nas imensas deficiências estruturais presentes no país e é vista como um risco que pode rebaixar a nota de crédito do país; carência de reformas imprescindíveis como trabalhista e tributária; enfim problemas inúmeros de governança e coordenação contaminados pelo ambiente eleitoral, etc….

Há muito que fazer e não se espera que depois do país ter se sentido enganosamente “quase” desenvolvido e rico e estar se redescobrindo agora ainda “em desenvolvimento” e caro, num ano eleitoral, haja condições de se ter expectativa de que a gestão governamental pratique aperto monetário e que passe a gastar menos e com melhor qualidade.

O tamanho do problema Brasil tem sido amplamente comentado e analisado quase que cotidianamente por analistas internos e externos, por isso sobejamente conhecidos.

Sem que se repense o modelo de crescimento para o Brasil não há como ser restabelecida a atratividade do país perante os investidores estrangeiros.

O fluxo cambial negativo fechado no ano de 2013 é uma evidencia com números da perda de atratividade do país, sendo a síntese de algo muito maior.

Seja pela redução do programa do FED, seja pela recuperação da economia americana, ou seja pela falta de oportunidades no Brasil que estão presentes em outras economias, o fato é que a tendência de saída de recursos do país deve intensificar-se já a partir do final deste mês de janeiro, e cada vez mais fica evidente que não há grande atração dos investidores estrangeiros pelo Brasil, pois mesmo nas privatizações da infraestrutura que estão sendo promovidas pelo governo a presença estrangeira tem estado abaixo da expectativa.

Os ativos brasileiros já estão repercutindo esta realidade, ainda muito discreto, dos desmontes das posições, que já fazem parte da orientação que vem sendo dada pelas grandes instituições mundiais em relação às posições de investimentos nos emergentes.

A queda que se verifica na BOVESPA e sinais, ainda que discretos, de apreciação do preço da moeda americana não são movimentos sem causa, mas o principio do que deverá vir com mais intensidade.

As perspectivas estão amplamente desfavoráveis ao Brasil neste ano de 2014, e não é que haja um pessimismo generalizado, mas sim, é que faltam razões para otimismo.

O câmbio e o setor externo tendem a ser o grande destaque negativo do ano.

O governo precisa observar com mais acurácia e rigor os dispêndios de moeda estrangeira por parte dos brasileiros, apertando nos controles dos fluxos (retorno do Siscomex? O fiscal automático) e das vendas para o turismo, por vezes meramente importações sem pagar impostos, e que atingiram cifras alarmantes para um país que teve carência de ingresso de divisas no ano findo.

Não se trata de sugerir o retrocesso, muito pelo contrário, mas simplesmente corrigir excessos concedidos num momento de enganosa interpretação de que estávamos com abundância de divisas externas, como se fosse um fato irreversível.

Não pode cometer o equívoco de entender que as reservas cambiais resolverão quaisquer problemas e que com intervenções provendo liquidez “administre” o preço da moeda, pois na realidade precisa evitar o desperdício de moeda quando há sinais de que está tendente a se tornar escassa em seus fluxos para o país.

O país precisa de um choque de realidade na área cambial, pois os tempos de “tsunamis” já se foram, agora são tempos de “ressaca”!

 

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