Ontem, o BC divulgou o fluxo cambial até o dia 15 de março e os números confirmaram a tendência ao negativo, acumulando líquido no mês US$ 990,0 M e no trimestre até aquela data US$ 3,481 BI.
Ontem, o BC divulgou o fluxo cambial até o dia 15 de março e os números confirmaram a tendência ao negativo, acumulando líquido no mês US$ 990,0 M e no trimestre até aquela data US$ 3,481 bi.
No ano passado no mesmo período, tínhamos saldos positivos líquido no mês de US$ 5,670 bi e no trimestre até aquela data US$ 18,658 bi.
No trimestre até o dia 15 de março a diferença entre 2012 e 2013 está negativa em US$ 22,1 bi, o que é preocupante para um país que precisa de financiamento externo para seu déficit em transações correntes que é crescente e se projeta para algo em torno de US$ 65,0 bi.
E merece atenção quando observamos que o 1º quadrimestre é que concentrou no ano passado o fluxo cambial positivo, que a partir de então tem tido viés negativo consistente, salvo no mês de novembro passado, e falta pouco para que se complete aquele período neste ano.
Ronda sobre o Brasil o risco de perder a sua condição de “investment grade”, muito especulado recentemente e com repercussões no mercado de CDS (Credit Default Swaps), que são contratos que medem o custo de proteção contra um calote. Estava cotado a 121 pontos no início deste mês e no último dia 18 havia sido elevado para 129,9 pontos para dívida brasileira de 5 anos.
Neste ano o salto já atingiu 19,61%.
Esta é uma ocorrência que está fora do contexto da maioria dos analistas, mas gradualmente tem sido observada uma deterioração da percepção de risco do Brasil, como observou recentemente o estrategista do BNP Paribas, Diego Donadio, em matéria do Valor Econômico, tendo ainda complementado que a estratégia adotada pelo governo para fazer frente à pressão inflacionária crescente afeta as contas públicas e pode, efetivamente, impactar a classificação de risco em algum momento. Salientou, de forma precisa, que “a dívida pública bruta vai continuar aumentando, o que significa que o país caminha para um “downgrade”, e que, “ter reserva internacional é bom, mas o que evita “downgrade” é ter as contas em ordem”.
Consideramos que há interna e externamente a percepção de que a contínua intervenção do governo agrega mais incertezas sobre a política econômica, e não se tem clareza bastante sobre a política monetária e cambial, deixando transparecer que há uma postura leniente no enfrentamento das pressões inflacionárias.
Segundo estrategistas em mercados emergentes, alguns investidores já começam a pensar no Brasil como “underweight”, abaixo da média do mercado, o que deixa patente que a visão sobre o Brasil no mercado internacional sofre mudanças muito rápidas, para pior.
Tudo isto contribui para que a atratividade já cadente do Brasil no mercado internacional se acentue e evidencie as repercussões consequentes nos números do fluxo cambial.
E, soma-se à concorrência de outras economias emergentes que vêm ganhando destaque, o fato dos Estados Unidos, em recuperação gradual de sua atividade econômica – projeção de ontem do FED crescimento entre 2,3% a 2,8% do PIB este ano – que acaba retomando atratividade para os investidores, em detrimento dos emergentes.
Na ponta o impacto da redução do fluxo de recursos externos deve repercutir no preço da moeda americana apreciando-a, como regra de mercado, por isso consideramos de sustentabilidade improvável a estratégia do governo de utilizar a apreciação do real neste ambiente adverso para conter a pressão inflacionária. Salvo se o BC optar por suprir o mercado de câmbio com divisas efetivas e não somente com “swaps cambiais”, o que não parece provável.
Como já vimos destacando desde que esta estratégia foi retomada, a resultante será muito provavelmente de maiores danos do que benefícios, pois não resolve o problema da inflação mais desestimula a nossa performance no comércio exterior e inibe pelas indefinições os investimentos, que é o requisito maior para que o país cresça, conquistando competitividade e produtividade.
Nos produtos agrícolas onde temos melhor desempenho, nossas deficiências de infraestrutura são os grandes entraves e dificultam o escoamento das safras, comprometendo nossa imagem no exterior e levando tradicionais clientes a cancelarem contratos e buscarem suprimento em outros mercados.
O porto de Santos apresenta filas de 22 km de congestionamento para o embarque da safra de soja, com demora de 3 a 5 dias para que os caminhões possam descarregar suas cargas.
Compradores cancelam contratos e afetam o preço internacional. Grande cliente chinês que adquiriu 2 milhões de toneladas de soja, 5% das nossas exportações, está ameaçando de cancelamento do contrato, visto que deveriam ter-lhe sido despachados 12 navios nos meses de fevereiro e março e até agora só 2 foram despachados.
A situação é de caos, e ainda teremos a safra de milho, etc. Este gargalo para as exportações quebra expectativas quanto a fluxos cambiais advindos destas exportações, pois haverá reflexo nos preços internacionais, prejudicando a performance brasileira.
Ademais, temos problemas também nas importações aportadas, pois com o término da denominada “guerra fiscal” estão sendo deslocados para o porto de Santos estimados 600.000 containers anuais que anteriormente iam para o Espírito Santo e Santa Catarina, e há demora para desembaraço aduaneiro.
E há perspectivas de expansão de novos terminais no porto para mais 1 milhão de containers anuais.
O escoamento do movimento do porto se dá 72% por via rodoviária e 28% ferroviário.
Como se pode deparar, a perspectiva é de piora do quadro, o que dará maior visibilidade às deficiências de infraestrutura do país.
Há com que se preocupar!
Indefinições e incertezas não contribuem nem para a contenção da inflação e nem para incremento da atividade econômica, ambições já bastante difíceis de serem acomodadas conjuntamente em contextos com maior clareza de propósitos.