O comportamento do dólar ontem deixou evidente que o seu preço repercute motivos e razões internas e pouco ou nada tem a ver com o exterior nesta fase “administrado”

O Parlamento da pequena CHIPRE disse não ao projeto que pretendia instituir um imposto …

O Parlamento da pequena CHIPRE disse não ao projeto que pretendia instituir um imposto (confisco) extraordinário sobre os depósitos bancários e o fez de forma esmagadora, deixando evidente que os bancos centrais não são onipotentes e tem poderes limitados.

A prepotência do BCE insinuou uma ameaça de desarticulação do sistema bancário cipriota caso um acordo não fosse firmado e contrariou a afirmação do seu presidente Mario Draghi em meados do ano passado de que faria tudo o que fosse preciso para preservar a integridade da zona do euro.

A recusa do Parlamento cipriota levou o BCE a recuar, não sem algum estresse no mercado pela expectativa imediata, e anunciar em nota que vai garantir a liquidez do sistema bancário cipriota, desfazendo a tensão, pois havia o receio de que viesse a revogar o auxilio emergencial.

E o dólar no nosso mercado, ao qual muitos analistas atribuíram a alta de segunda-feira ligada ao problema em torno da questão cipriota, sem observar que o processo de apreciação do preço da moeda americana já ocorria a uma semana, acabou “passando recibo” que a despeito do comportamento externo repercute o desempenho do fluxo cambial para o país, e assim ocorreu discreta apreciação do real em decorrência de melhora pontual do fluxo financeiro.

Mas, como o fluxo cambial está com características pouco favoráveis, tudo leva a crer que a tendência de alta do preço será retomada e, se o BC não desejar que venha a romper o preço de R$ 2,00 vai ter que atuar nos próximos dias. Em tese, deve fazer a opção pela oferta de “swaps cambiais”, efeito venda para gerar oportunidade “hedge” para os bancos de forma a acomodar a expansão de posições “vendidas” no mercado à vista, ancoradas pela utilização das linhas externas junto aos banqueiros.

Este é o ponto da questão. Não se tem clareza até onde os bancos se sentirão confortáveis com a manutenção e expansão das posições “vendidas” no mercado de câmbio à vista, que lhes proporciona captação de reais a custos irrisórios senão nulos com a apreciação do real neutralizando o custo externo, mas que tem no cenário atual incertezas quanto melhora efetiva de fluxo cambial que lhes permita cobri-las sem deixá-los num “corner” devido à baixa liquidez e, a relutância do BC em fazer oferta de leilões de venda de moeda disponível para o mercado.

Está muito evidente que as pressões inflacionárias não estão sendo sensibilizadas pela apreciação do real, o que acaba gerando mais desestímulos ao setor produtivo do que benefícios com a reversão da inflação, que notoriamente não é alcançada e tem cada vez mais uma dinâmica preocupante e vai se disseminando por todos os setores da economia.

Têm-se como certa a elevação da taxa SELIC no mês de maio, o que se confirmado ocorrerá de forma tardia, e o mercado espera que ao longo do ano acabe subindo 1%, atingindo 8,25%.

Esta perspectiva de realinhamento da taxa SELIC com o seu efetivo papel na política monetária, cria real condição de flexibilização da taxa cambial deixando-a alinhar-se com os parâmetros de fluxo cambial, numa busca de re-incentivar o setor produtivo a retomar, ainda que tardiamente, investimentos e foco no mercado exterior.

A realidade é que maio já será tarde demais, tanto para conter a pressão inflacionária que por sua dinâmica acabará invadindo o 2º semestre e quem sabe também 2014, contrariando o discurso do governo de que no 2º semestre haverá a convergência de baixa da inflação, quanto para o dólar ser estimulante do setor produtivo.

A incerteza e indefinição aniquila a possibilidade de incremento do investimento no país, e sem investimento não há aumento de produtividade e competitividades, portanto não há crescimento.
 
E, as perspectivas de melhora do fluxo cambial com base nas exportações agrícolas podem vir a ser comprometidas pelos gargalos existentes que vem impedindo o embarque da safra.

Compradores já estão ameaçando cancelar contratos e estamos dando oportunidade aos mesmos para que fundamentem estas atitudes, que no fundo tem também a motivação de desejarem aproveitar a queda nos preços que ocorre no mercado internacional.

O maior importador chinês teria manifestado a intenção de cancelar compra de 2 milhões de toneladas, algo como 5% das exportações desta safra.

Como temos salientado, o cenário do nosso comércio exterior preocupa, bem como o contexto do fluxo cambial como um todo, o que nos leva seguidamente a repetir que nada do que se presencia é definitivo no câmbio para este ano.

 

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