O psicológico afeta realidade efetiva do Brasil e o impacto pode ser duradouro!

O Brasil teve a frustração das perspectivas de ingressos de recursos estrangeiros com os leilões do pré-sal, algo como US$ 8,5 Bi estimados contra US$ 1,7 Bi efetivados, mas o fluxo cambial de novembro até o dia 8, ainda assim, se revelou positivo em US$ 256,0 MM, que é o que vale como impacto direto no mercado à vista, e não houve por parte do BC, além da manutenção de sua rotina de rolagens das posições vincendas de contratos de swaps cambiais tradicionais e mixagem de ofertas de dólares à vista versus ofertas conjugadas de oferta de contratos de swaps cambiais reversos, que não interferem na formação do preço, portanto, nenhum fato ou atipicidade que pudesse justificar a pressão de alta sobre o preço da moeda americana frente ao dólar, muito pelo contrário.

Nos dias iniciais desta semana os “ruídos” emanados pelo mercado de câmbio não sugeriram grande demanda, mas sim baixo volume de negócios até atribuídos ao fortalecimento da depreciação do real frente ao dólar, que tem sido considerado como passageiro e insustentável.

A frustração com a fluxo cambial não consumado foi absorvido e naturalmente poderá ser diluído ao longo das semanas até o final do ano, e mesmo o fato político-jurídico da colocação em liberdade do ex-Presidente Lula e outros condenados não repercutiu agregando quaisquer preocupações adicionais no mercado financeiro.

Contudo, o ambiente negocial do mercado financeiro que não havia se sensibilizado com a eleição da Argentina, passou a denotar preocupações com a expansão das perturbações políticas no Chile, na Bolívia e enfim, nos desgastes que estas instabilidades provocam na região da América Latina, e assim colocaram o Brasil em estado de “atenção” para a contaminação.

Fatos novos internos como os embates políticos que vinham sendo marginalizados na consideração pelo mercado financeiro, agora parecem perturbar quando envolvem o Presidente Bolsonaro decidindo fundar um novo partido às vésperas de ano eleitoral e da votação de matérias importantes que precisarão de articulação e apoio no Congresso Nacional, e, o Presidente do Senado aventa a possibilidade de convocar uma Assembleia Constituinte para desta forma elucidar confrontos interpretativos de leis. Tudo conspira para a evolução dos avanços.

O sentimento é que o Brasil que estava defendido da crise nos países latino americanos arranjou uma forma própria de potencializar vulnerabilidades e se colocar em posição mais favorável a ser contaminado e desgastado também no âmbito da região latino americana.

Motivos podem ser diferentes, mas nesta ebulição não dá muito para que o mundo global nos distinga dos demais, então o lado psicológico passa a preponderar e a mixagem generaliza as preocupações sem distinguir uns dos outros.

Postura imediata é adotar a cautela e posições defensivas e estas se expressam no comportamento dos ativos do mercado financeiro, que “falam pelos números” que revelam, por vezes até sem volumes impactantes como sugere o mercado de câmbio neste período de agravamento da desvalorização.

Enfim, parece que o Brasil quer fazer parte do problema que intranquiliza a América Latina na visão dos investidores, e assim, provoca um comportamento defensivo no seu mercado financeiro que contamina a formação de preços dos ativos.

E não adianta olhar para fora e ficar procurando causas nos embates comerciais entre China e Estados Unidos, que certamente ainda perdurará com este jogo de cenas ao longo de 2020, assim como os desentendimentos entre o Presidente Trump e o FED na política de juros.

Esta é uma realidade que já está assentada e precificada e a percepção é de que a capacidade de prejudicar já esteja totalmente esgotada, então se há riscos estes poderão ser doravante de impactos favoráveis.

O Presidente Trump falou na terça-feira sobre a economia americana e suas críticas costumeiras ao FED e tateou sobre o tema China sem aprofundar-se concretamente.

Ontem, foi o dia do Presidente do FED:

Em texto publicado antes da aparição de Powell, o FED afirmou que os diretores veem uma “expansão sustentada” à frente na economia norte-americana, com o impacto total dos recentes cortes na taxa de juros ainda a serem sentidos, ao mesmo tempo em que o baixo desemprego impulsiona os gastos das famílias. Powell descartou preocupações acerca de uma desaceleração.

“O cenário-base permanece favorável”, disse o presidente em comentários preparados para um discurso ao Comitê Econômico Conjunto do Congresso, painel que inclui alguns membros da Câmara dos Deputados e do Senado.

Tudo leva a crer que não haverá redução de juro nos Estados Unidos, confrontando com os anseios do Presidente Trump.

Enfim, ao que parece nossos problemas maiores são os nossos mesmos e com eles podemos criar as inviabilidades para sucederem o otimismo presente nas perspectivas até recentemente para o país.

A situação do fluxo cambial persiste ruim (data base 8), porém não tem evoluído para pior, o BC já vendeu das reservas cambiais brasileiras quase US$ 24,0 Bi que estão reduzidas a US$ 368,817 Bi, com os bancos com posições vendidas (descobertas) de US$ 23,394 Bi ancoradas parcialmente por linhas concedidas pelo BC da ordem de US$ 8,250 Bi. O fluxo cambial do ano está negativo em US$ 21,209 Bi, menos do que as vendas do BC ao mercado, sendo US$ 36,357 Bi negativo no financeiro e US$ 15,148 Bi positivo no comercial.

O comportamento dos segmentos do nosso mercado financeiro entrou num ambiente de intranquilidade, afasta-se dos fundamentos e contraria as perspectivas positivas que mantinha até recentemente, e isto pode ser duradouro.


Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO

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