Cenário global e turbulências no cenário latino determinam posturas defensivas!

O ambiente latino americano está ficando conturbado e os riscos de que a contaminação possa estar mais estreita do que se possa imaginar, a despeito de “a priori” se perceber baixa sinergia, conduziu o mercado brasileiro a postura mais defensiva e cautelosa.

Afinal, as mudanças recentes havidas no país no contexto político e jurídico, embora assimiladas pela maturidade do mercado, merecem postura de resguardo para evitar surpresas, e isto, provoca ajustes de posições operacionais reduzindo exposição a riscos que podem ter aquecimento também a partir dos países vizinhos.

A Bolívia está em ebulição com a queda do governo e o processo sucessório, enquanto o Chile por mais que o governo busque equacionar as razões dos movimentos sociais há continuidade das perturbações.

 E o peso chileno foi desvalorizado mais de 4%!

Quem sabe no mundo dos “hedges” não estejam sendo demandados dólares versus real no mercado futuro local conjugado com operações externas de pesos chilenos contra real, etc… Enfim, o mundo dos derivativos não tem pátria e nem lugar e é altamente criativo. Esta é só uma especulação não há evidências de materialização, pelo menos por enquanto.

O dólar teve o preço apreciado frente ao real e não se percebeu aumento de demanda da divisa norte americana no mercado à vista, a ponto de nem o BC ter colocado dólares à vista de sua oferta diária e nem consumado operações de swap cambial reverso.

Por outro lado, na Bovespa também ocorreu movimento defensivo determinando realização de lucros.

Não se pode perder de vista que no Brasil sexta-feira (dia 15) será feriado e logo após quarta-feira (dia 20) novamente, o que intensifica a cautela e precaução.

Como “pano de fundo” ainda se justificava o ambiente também às expectativas em torno da fala do Presidente Trump, sempre uma incógnita e que provoca estresse no comportamento dos mercados.

Um pouco de cada coisa e se altera o comportamento dos inúmeros segmentos do mercado financeiro, câmbio, bolsa e juros.

O Brasil está temente de desgastes maiores do que a já prejudicial insegurança jurídica emanada da recente decisão do STF, visto que precisará manter incólume a credibilidade e confiança no país para lograr êxito na implementação de programa ambicioso de privatizações.

Então, os agentes do mercado, dando mostras da maturidade que ressaltamos ontem, procuraram mitigar riscos presentes no momento e neutralizá-los acomodando-se com sensatez na defensiva.

No Brasil, a “criatividade” na cena política acaba prejudicando a cena mais importante que é a econômica focada na dinamização da atividade econômica e que vai bem, e então o Presidente da República anuncia um novo partido “todo seu” na véspera de um ano eleitoral e o Presidente do Senado Federal anuncia a possibilidade de uma nova Constituinte para superar os desencontros de interpretações jurídicas.

Os mais recentes acontecimentos podem ter impacto negativo para o país, que vinha ganhando destaque e retomando preferência entre os latinos e que precisa melhorar os fluxos de investimentos com as privatizações, para atenuar os riscos de rombo nas contas externas pois o saldo de transações correntes do Brasil nos últimos 12 meses saltou de 0,75% do PIB para 2,05%, expressivo.

Trump, como sempre perspicaz, cutucou ressaltando que com a Europa há muitos caminhos para ajustes melhor do que com a China, e que esta manipula dados, etc…. e fica claro que o “enrolation” entre ambas as potências continua sem ter emitido quaisquer sinais concretos a respeito, focando mais a situação da economia americana e retomando suas críticas contumazes ao FED.

Enfim, um cenário com perturbações “próximas” e “dentro” do país, e acaba prevalecendo o entendimento que ora se está à esquerda ou ora se está à direita e assim retarda que se vá à frente.

Certo parece que não é tempo para ousadias, há muitas variáveis que podem se tornar impactantes, então a opção pela cautela é uma postura sensata.

Mas não acreditamos que o dólar sustente-se com preço nos níveis atuais e tenda gradualmente para fechar o ano no em torno de R$ 4,00 e a Bolsa, com volatilidade, aos 110 mil pontos.


Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO

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