Cada economia tem suas peculiaridades e o Brasil tem neste ano inúmeros problemas próprios e concretos nas contas externas que revelam expressiva tendência de déficit da ordem de US$ 80,0 Bi, com uma insuficiência de ingressos de quase US$ 20,0 Bi e um contexto em que os fluxos cambiais vêm se repetindo negativos semana a semana.
Este cenário é um diferencial fundamental para que o preço do dólar no Brasil não reproduza simetria com o comportamento da moeda no exterior, pois existem causas e razões que devem afetar diretamente a formação do preço localmente.
A insuficiência de fluxo já com transparência no dia 11 passado era de US$ 10,8 Bi, suportada pelas posições vendidas dos bancos, que assim evitam que o BC seja levado a realizar leilões de vendas de moeda efetiva sacando-as das reservas cambiais em definitivo, fazendo-o na forma de concessão de linhas de financiamento aos bancos (venda a vista com recompra futura) para darem suporte ao dito posicionamento vendido.
Há carência de fluxos favoráveis de dólares para o país, o que é um fator de indução à depreciação da moeda nacional.
Contudo, o preço da moeda americana é que sofre depreciação acentuada, desconexa com a realidade, contraditória, e, a primeira leitura é que existem fatores pontuais indutores para esta atipicidade.
Procura-se atribuir como causa a perspectiva de que o Brasil será aquinhoado com grandes volumes de recursos externos especulativos que virão em busca de rentabilidade. A perspectiva existe e até que se torne efetiva a ponto de tornar os fluxos líquidos para o pais positivos é tão somente uma esperança, enquanto a situação das contas externas brasileiras e a persistência dos fluxos negativos é uma realidade concreta, e, que, portanto, deveria prevalecer na fundamentação da formação do preço da moeda americana.
Deve-se ter em mente que a perspectiva de melhora dos fluxos existe, mas seguramente não a ponto de resolver o problema da insuficiência no todo. Mas não podemos perder de vista que os entraves americanos de natureza politica foram postergados por curto período, em janeiro já serão retomadas as discussões, o que já conspira quanto a intensidade do volume esperado. Por outro lado a questão do FED se for adiada para um momento posterior continuará sobre a mesa em 2014, não permitindo grandes aventuras aos especuladores.
E mais, como fator novo, a taxa cambial deprimida em torno de 5% pode ser um inviabilizador do fluxo de capitais especulativos, pois os investidores em oportunidades podem se sentir ameaçados com o risco da variação cambial que poderia anular o ganho com o juro.
Na realidade acreditamos que as perspectivas de intenso fluxo de capitais especulativos estão se fragilizando dado o breve período da postergação das discussões das relevantes questões que envolvem os Estados Unidos, e mais, dada a forte apreciação ocorrida no real.
É crível que o BC tenha interesse nesta apreciação do real visando o que destacou na ata do COPOM, ou seja, “reverter os danos causados pela inflação”. O dólar seria um dos instrumentos principais por obter respostas mais rápidas do que o juro.
Na mesma linha poderia atenuar os prejuízos da Petrobrás com perdas cambiais e até dar certa proteção aos bancos que com posições vendidas desejam adquirir divisas a preços mais baixos do que venderam.
Este é um cenário complexo e de difícil escolha. O que é mais importante, fechar as contas sem ter que utilizar reservas cambiais ou mitigar pressões inflacionárias com a artificial apreciação do real?
É inegável que o comportamento do dólar no nosso mercado é irreal, haja o que houver e presumivelmente uma ponta de especulação, e precisa ser corrigido.
Ontem, o dólar caiu frente ao real 1,29% enquanto o peso mexicano tão somente 0,43 e o peso chileno 0,33%. Até por esta observação se observam atipicidades.
Além disto, surge no curtíssimo prazo o vencimento de “swaps cambiais” da ordem de US$ 8,9 Bi, dos antigos não envolvidos no programa de liquidez diária do BC, e surge então o dilema.
A moeda nacional já está excessivamente apreciada e em total descompasso com a nossa realidade e pode conspirar contra o interesse de ter aumento de fluxo de recursos externos. Se rolar aprecia ainda mais o real e se não rolar provoca uma alta expressiva no preço da moeda americana que está depreciada excessivamente frente ao real.
Qual a saída? Este deve ser o dilema do BC neste momento e nada a ver com a interrupção do seu programa de liquidez diária anunciado até dezembro, e recentemente assegurado, se necessário, pelo Presidente Tombini, até o ano que vem. A interrupção do programa afetaria demasiadamente a credibilidade do BC, enquanto a não rolagem poderá ser uma decisão sem constrangimentos.
Quem sabe um meio termo, rolando parte e parte liquidando, o que já será suficiente para depreciar o real reconduzindo-o ao entorno de R$ 2,20, a despeito de entendermos que pelo quadro presente de insuficiência de fluxos o preço devesse estar em R$ 2,25.
O Banco Central do Brasil criou certo “stress” com a mudança de horário de divulgação dos leilões de “swaps cambiais” dentro do programa de oferta mínima diária, agora ocorre entre 19,30 hs e 20,30 hs. Há quem entenda que o objetivo foi de reduzir previsibilidade, mas isto parece absolutamente sem sentido, visto que o programa estabelece valores diários, o que invalida a tese. Mas de toda forma, qualquer anúncio por parte da autoridade, em especial quando se relacionarem com os “swaps cambiais” vincendos e colocados antes da vigência do programa, deve efetivamente ser realizado fora do expediente, como boa norma.
Enfim, é absolutamente incontestável que a apreciação que se observa do real é insustentável, e isto deixa em aberto um risco de mudança rápida de humores que pode representar uma oscilação até de 5%, basta o BC não rolar os US$ 8,9 Bi ou se ocorrer a percepção que os fluxos de recursos externos presumidos não se confirmarem tão intensos para resolver o problema das nossas contas externas, portanto, não conseguindo reverter a tendência de fluxos líquidos negativos.
O leilão do campo de Libra que se realiza segunda feira poderá gerar um fluxo equivalente a R$ 15,0 Bi relativo ao bônus previsto, algo como US$ 6,9 Bi, mas é provável que este montante se vier a se tornar efetivo ingresse à margem do mercado em novembro, diretamente para o Tesouro, e nestas circunstâncias não traria nenhum impacto na formação do preço da moeda americana, pelo menos é o que consta no momento.