Em nosso ponto de vista é ilusório atribuir-se às tendências eleitorais a contenção do preço da moeda americana no nosso mercado de câmbio, e a esta altura já se pode considerar relativo o peso da oferta de “swaps cambiais” com foco em efetiva geração de “hedge”.
Acreditamos que já há entre os tomadores dos US$ 92,0 Bi de contratos de “swaps cambiais” uma participação não desprezível de investidores especuladores, e, que estão aumentando suas posições e a quem interessa, nesta fase, a moeda americana com preço mais favorável, que, por mais contraditório que possa parecer vem de encontro com o interesse da autoridade monetária com foco no controle inflacionário.
Há uma realidade bastante adversa a ser transposta não sem perturbações no curto prazo, assim entendido dentro deste 2º semestre, e um longo percurso moroso e prolongado para que o novo governo, assim entendido o atual reeleito ou novo, para reconquistar a credibilidade e atratividade externa que hoje falta ao país, através a qual será possível transformar anseios em realidade.
O país, num ambiente de menor liquidez internacional, precisará aumentar os fluxos de recursos externos produtivos e não rigorosamente especulativos para renda fixa e variável, para poder planejar o desmonte da magnânima intervenção que vem ocorrendo por parte da autoridade monetária brasileira no mercado de câmbio, que até o momento revela montantes como US$ 92,0 Bi em contratos de “swaps cambiais” e uma carência de fluxos que vem sendo ancorada pelos bancos em posições vendidas no mercado à vista no montante atual de US$ 15,0 Bi.
A normalização do curso do nosso mercado de câmbio implicará, se todas as pedras do tabuleiro se encaixarem, num tempo que consumirá todo o ano de 2015.
Como a relação causa/efeito é de longa maturação, havendo ainda uma enormidade de “ses” no trajeto, não há porque atribuir-se agora algo ainda muito distante e com muitas incertezas.
Trabalhamos com a convicção de que o BC não tem como evitar a continuidade da oferta de “swaps cambiais”, via rolagens e/ou novas ofertas, e não há rota que possa sugerir movimento reversivo enquanto não forem reconquistados fluxos cambiais robustos.
Temos dúvidas de como reagirão os investidores, em especial os especuladores, quando este volume de contratos de “swaps cambiais” “em ser” atingir US$ 100,0 Bi. Um nível de intervenção expressivo que pode ser interpretado como um esforço superlativo para conter a fragilidade da moeda, e este pode ser o “gatilho” para os especuladores transformarem o remédio em veneno atacando o real.
Mas pode ser argumentado, o país tem reservas cambiais de US$ 380,0 Bi e poderá usá-las para atender a demanda crescente no mercado à vista e com isto reduzir o estoque de contratos de “swaps cambiais”. Tecnicamente parece perfeito, mas há a inconveniência de gastar reservas cambiais num momento em que o país não tem perspectivas de recuperação de fluxos no curto prazo e a liquidez internacional tende a redução. O uso das reservas cambiais de forma clara e objetiva pode ensejar também movimento especulativo sobre o real por evidenciar a fragilidade do país em atrair recursos suficientes.
O FED americano sinalizou na sua Ata da última reunião do FOMC que as perspectivas para a mudança da política monetária aumentaram a probabilidade de implementação no curto prazo, com amplo destaque do mercado de trabalho. Mas não é só isto, dados novos continuam evidenciando que a recuperação da economia americana é efetiva, como destacou o economista chefe do Instituto Conference Board, e dados divulgados ontem indicaram que em julho as vendas de imóveis usados tiveram o 4º aumento seguido com expansão de 2,4%; o PMI de manufaturas subiu para 58,0 pontos, ante projeção de 55,7 pontos e 55,8 pontos em junho; o Índice de Produção da Filadélfia com 28,0 pontos ante projeção de 19,2 pontos e 23,9 pontos em junho.
Neste final de semana haverá a reunião dos presidentes dos bancos centrais do mundo inteiro, além de autoridades americanas como os representantes regionais do FED americano, para discutir o contexto atual das economias globais, etc. A presidente do FED americano Janet Yellen fará pronunciamento e há expectativa de que possa abordar aspectos da política monetária americana.
Há com que o Brasil se preocupar e há riscos em torno da formação do preço do câmbio em perspectiva que não estão sendo precificados e que deixam espaço para correções mais abruptas.
Ontem, o real é o que teve menor apreciação ante o dólar na comparação com as principais moedas latinas, o que já é um sinal importante, mas na realidade devemos observar nossas realidades atuais e menos a dos outros países, que, embora também emergentes, tem contextos diferentes.
Parece que já temos uma terceira via influenciando a formação do preço da moeda americana no nosso mercado de câmbio, que agora ajuda a apreciar o real, mas que certamente almeja realizar ganhos num curto espaço de tempo com sua depreciação.
Importante observar!