Sempre que abordado como tema a visão prospectiva do comportamento do dólar no mercado brasileiro, há uma gama de explicações que procuram atenuar os riscos presentes e atribuir às intervenções do BC poderio amplo sobre a formação do preço, procurando ignorar as circunstâncias que envolvem o próprio mercado e suas perspectivas de curto, médio e longo prazo.
Subestimar os riscos existentes para os países emergentes de uma forma ampla e mais especifica para o Brasil, que além de tudo tem problemas de natureza própria e uma eleição para o cargo máximo executivo, pode vir a se revelar em grave erro, perspectivas cada vez menores de crescimento econômico, o que sugere retração dos IED´s, inflação alta e com preços relevantes na economia reprimidos, expressivo déficit em transações correntes, e conta com substantivo volume de capitais especulativos ingressados no inicio do ano e que não convivem bem com ambientes em que há incertezas.
Enfim, entendem que basta continuar com as intervenções com “swaps cambiais”, mas ninguém aventa a possibilidade de repercussões negativas em torno desta ação quando atingir volume mais expressivo do que o já considerável montante de US$ 92,0 Bi. Temos sido cautelosos quando mencionamos que “a diferença entre remédio e veneno é a dosagem”. Se o mercado entender que a proteção que está sendo excessiva, este instrumento pode perder eficácia.
Já sinalizamos dias atrás, fato hoje confirmado pelo jornal Valor, que a demanda por “swaps cambiais” para a finalidade de “hedge” é cadente, e que uma parcela da oferta que o BC continua realizando está sendo adquirido por especuladores que tem convicção de que o preço da moeda americana pode ser apreciado abruptamente.
Quando o Brasil sofreu ataque ao real, isto ainda ao tempo do BC presidido por Henrique Meirelles, o país não havia ainda feito uso dos “swaps cambiais”, mas dos “swaps cambiais reversos” já que havia intenso fluxo cambial positivo e o BC imbuído em aumentar reservas cambiais, comprando todo o fluxo a ponto de deixar os bancos com posições vendidas, estrategicamente para atuarem apreciando o real. A reversão abrupta do preço da moeda americana, fruto da intensa especulação sobre o real, foi fortemente contida com a oferta de “swaps cambiais”.
Ocorre que no cenário atual o BC já gastou grande parte do seu arsenal tendo colocado US$ 92,0 Bi de swaps cambiais, os bancos estão com posições vendidas em torno de US$ 15,0 Bi não por estratégia, mas por falta de fluxo suficiente o que os leva a serem os geradores da liquidez do mercado à vista, substituindo temporariamente o BC a quem caberia esta função.
Tudo se alinha para aumentar a intensificação da demanda no mercado à vista e, não se pode desprezar um movimento especulativo a partir dos posicionamentos dos especuladores no mercado futuro, que provocaria a necessidade do BC expandir a oferta de swaps cambiais em montante muito acima dos US$ 92,0 Bi.
Até que montante seria confortável a colocação de “swaps cambiais”? E até que ponto os bancos estariam dispostos a bancar a liquidez com posições vendidas, que a rigor expandem seus endividamentos de curto prazo?
Nossa perspectiva é de que se intensifique o movimento de saída de recursos do país, ao mesmo tempo em que tende a termos retração dos ingressos, inclusive de IED´s.
É preciso um olhar com maior acurácia sobre o cenário prospectivo.
E há mais a ser acompanhado e observado como eventual mudança da politica monetária americana pelo FED. Enquanto Janet Yellen mantém um discurso com a preocupação de não emitir sinais precisos, no mercado financeiro americano os investidores já demonstram estar se preparando para o aumento de juro.
A confirmação deste evento certamente promoverá intenso movimento reversivo de capitais dos países emergentes para o mercado americano, e isto determinaria pressão sobre a formação do preço no mercado de câmbio brasileiro.
O déficit em transações correntes registrou negativos US$ 6,0 Bi em julho, acumulando no ano US$ 49,330 Bi e nos últimos 12 meses US$ 78,4 Bi, conforme Relatório do Setor Externo do BC. A projeção do BC para o fechamento do ano é de US$ 80,0 Bi, mas não descartamos a possibilidade de atingir US$ 85,0 Bi. O Boletim FOCUS projeta US$ 81,90 Bi.
Os IED´s atingiram US$ 5,9 Bi em julho, sendo US$ 3,5 Bi em conta capital e US$ 2,4 Bi líquidos nos empréstimos intercompanies. No ano acumula US$ 64,0 Bi, porém acreditamos que ocorra alguma retração no ingresso destes recursos nos 5 meses finais do ano, provavelmente não atingindo os US$ 60,0 Bi projetados pelo Boletim FOCUS.
Os gastos registrados como de turismo brasileiro no exterior somaram US$ 2,415 Bi, mas como efeito da Copa ingressaram US$ 789,0 M, ficando esta conta reduzida para US$ 1,625 Bi. No ano esta conta acumula US$ 10,465 Bi. O BC projeta para o ano todo US$ 18,0 Bi, mas acreditamos que possa atingir US$ 20,0 Bi.
O Boletim FOCUS reduziu mais uma vez a projeção para o crescimento do PIB de 0,79% para 0,70%.
Não nos parece sensato acreditar em total calmaria no mercado de câmbio, ancorada na intervenção do BC, com pequeno ajuste na taxa cambial.
Há desafios e riscos neste 2º semestre que sugerem precaução pois podem ocorrer turbulências.
No nosso entender o viés é de alta do preço da moeda americana.