O FEDERAL RESERVE americano expressou na ata da sua mais recente reunião do FOMC, divulgada ontem, sinais crescentes na propensão dos seus membros apoiarem mudança na política monetária americana, o que passa pela elevação do juro. Não há um convencimento pleno, mas foi ressaltado que a autoridade monetária tem ficado surpresa com a velocidade com que o mercado de trabalho do país está se recuperando, mas a percepção é que agora estão mais próximos de um consenso do que antes.
Este fato acabou por sensibilizar a formação do preço da moeda americana no nosso mercado, pois o real que se desvalorizava ante o dólar, mas até então em patamar inferior as demais moedas latinas, a partir dai acentuou a desvalorização, ocorrendo volatilidade.
Na mesma linha a Bovespa também oscilou repercutindo o fato.
Temos destacado que o Brasil ainda passará pelo impacto de saídas mais fortes de capitais especulativos que adentraram o país no inicio do ano, ao mesmo tempo em que tudo leva a crer que haverá retração dos fluxos de ingressos de todas as naturezas, inclusive os direcionados para conta capital, denominados IED´s, pois o quadro atual da economia brasileira com seus indicadores bastante fragilizados afetam a sua atratividade e por ser ano eleitoral relevante sugerem prudencial cautela por parte dos investidores estrangeiros.
Este contexto deve concentrar-se no curto/curtíssimo prazo ou seja, dentro deste 2º semestre.
A ocorrência de uma sinalização mais efetiva por parte do FED a respeito de mudança na política monetária americana num período mais curto do que o atualmente imaginado, poderá se transformar em forte fator indutor adicional a saídas mais volumosas de recursos estrangeiros do Brasil, potencializando um movimento de saída já presente no radar.
É preciso ficar atento a reunião deste final de semana em Jackson Hole, nos Estados Unidos, quando estarão presentes as maiores autoridades monetárias do mundo e a Presidente do FED americano poderá falar e então poderão ocorrer novas sinalizações relevantes.
O texto da Ata do FOMC potencializou as expectativas em torno desta reunião em Jackson Hole.
Os mais de US$ 92,0 Bi de contratos de swaps cambiais mantidos no mercado pelo BC para garantir o preço da moeda nacional, o real, já é uma evidência da fragilidade do país, embora o Brasil disponha de US$ 380,0 Bi de reservas cambiais, e que tende a se tornar mais evidente ainda quando a demanda no mercado de câmbio à vista se acentuar pondo à prova os parcos instrumentos de intervenção que o BC dispõe e que poderão até se transformar em fator fomentador de especulação, pois a exuberância do montante de swaps cambiais “em ser” no mercado poderá potencializar a percepção da fragilidade da moeda nacional.
Isto sem desconsiderar que os bancos vêm bancando a liquidez no mercado de câmbio à vista com posições vendidas de US$ 15,0 Bi, poupando assim o BC da intervenção com leilões de venda à vista para o mercado.
Estas ainda discretas trepidações que causam notícias desfavoráveis sugerindo saída de recursos do país, certamente tendem a ser potencializadas quando o presumível se tornar fato concreto.
É preciso entender que grande parte dos passivos existentes em moeda estrangeira está protegido, porém é importante lembrar que “swap cambial” não é divisa disponível mas tão somente um instrumento financeiro que garante o preço, mas que quando ocorrer a pressão da transição do passivo “em ser” para a sua liquidação, a pressão será por moeda disponível.
Desta forma, a aparente calmaria em torno do câmbio é algo absolutamente enganosa. Há razões para precauções no curto prazo e notoriamente a solução para uma nova formatação estratégica de monitoramento dependerá de inúmeros fatores que precisarão convergir favoravelmente. Não há mágicas, seja este ou aquele o novo dirigente.
Por enquanto encontramos a porta de entrada com os swaps cambiais para atenuar a demanda decorrente da insegurança na moeda, mas ao que tudo indica não há no contexto atual porta de saída acessível. E este é o risco, pois com o crescimento do montante colocado no mercado poderá ocorrer a transformação do remédio em veneno. Este é um detalhe que não vem sendo considerado por alguns analistas que ainda acham que o BC deve intensificar a intervenção no câmbio, etc. parecendo tudo muito fácil.
O BC divulgou ontem os dados do fluxo cambial até 15 de agosto último. Na semana o fluxo foi negativo em US$ 738,0 M e no mês está positivo em US$ 500,0 M, composto por US$ 778,0 M negativo comercial e US$ 1,278 Bi positivo financeiro. No ano o fluxo está positivo em US$ 2,856 Bi, mas acreditamos que a tendência é de tornar-se negativo ao longo deste semestre.
Continuamos com a percepção de que os fluxos cambiais para o Brasil tendem ao negativo, e o que é preocupante é o fato de que a pressão poderá ocorrer forte num curto espaço de tempo.