É do instinto dos operadores nos vários segmentos dos mercados serem conduzidos por sentimentos extremos nas suas análises e convicções.
A perspectiva de que o FED americano venha a postergar o início das mudanças no seu programa de incentivo monetário, focado na reativação de atividade econômica americana, criou no Brasil a perspectiva de que possa ser a solução para a complementariedade dos fluxos de recursos externos, embora especulativos, que estão insuficientes para fazer face ao financiamento do expressivo déficit em transações correntes registrado pelo país este ano.
Por enquanto esta visão é de perspectiva e esperança na acepção de que o país encontre, neste contexto prospectivo, a solução para um problema real, efetivo e quantificável presente nas contas externas do Brasil.
Este fato “quebrou” a tendência de uma depreciação maior e rápida da moeda brasileira, o real, como reação à fragilidade das nossas contas externas, ao ancorar no mesmo a perspectiva intensa de que poderá ser a solução do problema.
O preço da moeda americana que foi objeto de especulação movida pelos “players” comprados no mercado futuro de dólar a partir da convicção dos impactos que as contas externas deterioradas causariam, teve o conteúdo especulativo expurgado pela estratégia de oferta diária de liquidez mínima adotada pelo BC, o que levou o preço a ceder de R$ 2,45 para R$ 2,30.
A expectativa de que fluxos de capitais especulativos poderão vir levaram o preço a recuar para o intervalo entre R$ 2,20 e R$ 2,25.
Os fluxos líquidos ainda não se tornaram positivos para o país, embora tenha havido sinais de melhora no fluxo financeiro, mas a questão americana em torno do orçamento e do teto de endividamento podem provocar, já havendo levantamentos apontando a existência de dados neste sentido, retração nos fluxos de recursos pressupostos em decorrência das incertezas presentes.
Então, nada justifica um preço de dólar muito próximo de R$ 2,20, sendo mais lógico que estivesse no entorno de R$ 2,25.
É verdade que a demanda por “hedge” de curto prazo é cadente, mas ocorre que o também dado fundamental para formação do preço, o fluxo cambial, ainda não se fez positivo e as nossas contas externas são bastante desconfortáveis.
Por isso, por entender que neste momento a taxa cambial deveria estar mais elevada é que percebemos que esteja ocorrendo um discreto, porém eficaz, movimento especulativo por parte dos “players” vendidos, mais especificamente os bancos, no mercado à vista e no mercado futuro de dólar, forçando uma apreciação do real.
Se o Banco Central persistir complacente a este movimento poderá ocorrer, na medida em que a solução definitiva da questão americana se arraste com soluções temporárias, mudanças abruptas no preço da moeda americana atual, a partir da percepção de que o fluxo de recursos externos esteja se contraindo devido às incertezas, pressionada por demanda efetiva para aproveitar o preço baixo com remessas por parte de importadores e remessas financeiras de toda natureza e que podem restabelecer a demanda por “hedge” de curto prazo.
Entendemos que a ação do BC nesta fase de observação de comportamento dos fluxos e das expectativas e da formação do preço da moeda americana deve ser amplamente profilática, evitando que ocorram exacerbações atípicas para mais ou para menos, evitando eficazmente a ocorrência de volatilidade ou alterações mais expressivas de forma brusca, visto que prejudica sensivelmente as questões negociais do comércio exterior, e leva aos ajustes de preços atrelados ao dólar a ser corrigidos pela pior hipótese, impactando na inflação.
Mitigar os efeitos da inflação com o preço do real deformado foi experiência do passado que a enquadrou na meta, mas deixou efeitos nefastos na economia que não se recuperaram até os dias atuais.
Taxa cambial em torno de R$ 2,20 é absolutamente desequilibrada neste momento, pois além dos motivos externos, o Brasil tem causas próprias de forte impacto na formação do preço da moeda americana.