O Brasil tem desafios sérios em suas contas externas que se revelam desconfortáveis ao propagar a possibilidade dos fluxos líquidos não serem suficientes para financiar o déficit em transações correntes.
O fato de ter reservas cambiais promove um conforto relativo, já que, se não atingir volume compatível de ingressos líquidos para bancar o déficit, poderá ser utilizada parcialmente, contudo, não sem deixar consignada a incapacidade do país de atrair recursos externos suficientes.
Por outro lado, a sinalização da agência de rating S&P, embora enunciando um quadro já conhecido em relação ao país, não deixa de ter um impacto negativo conceitual sobre o país no mercado internacional.
A contrapartida deste cenário efetivo e real está centrada na perspectiva de que o FED venha a prolongar a vigência do seu programa de incentivo monetário intacto, visto que os dados da economia americana não vêm sancionando indicadores favoráveis a sua redução imediata, o que deprime as taxas “yelds” dos T-Bills, e com isto, ocorra um intervalo de tempo que viabilize fluxo de recursos especulativos para o Brasil pela oportunidade que o país vem proporcionando de ganhos devido às altas sequentes da taxa Selic.
Este contexto sugere uma taxa entre R$ 2,20 a R$ 2,25, com a ação profilática do BC ofertando liquidez diária ao mercado de câmbio contendo os movimentos especulativos.
A questão em “suspense” do orçamento americano e do teto da dívida podem ter efeito negativo às ambições brasileiras de intensificação de fluxos financeiros especulativos para o país, pois as incertezas, embora ninguém acredite em “default” americano, mas sim numa solução “arrastada”, podem retardar a decisão dos especuladores migrarem com suas operações para os países emergentes.
Como temos repetidamente mencionado, a necessidade do Brasil de recursos externos para o financiamento do déficit em transações correntes é relevante. Temos IED´s projetados em US$ 60,0 Bi e o déficit tendente a US$ 80,0 Bi ao final do ano, e é baixa ou quase nenhuma a contribuição que poderá vir do incremento de saldo da balança comercial.
Não podemos deixar de lembrar que os bancos já estão com as “posições vendidas” em torno de US$ 7,0 Bi, pontificando bem a carência de fluxos mais intensos. Desde que o BC não interfira no mercado de câmbio à vista, comprando ou vendendo, este é o termômetro da necessidade.
Dependemos diretamente do fluxo direcionado para aplicações em renda fixa e renda variável, e captações externas, algumas até “chapa branca”, para fechar as contas.
O desafio é grande.
Mas, objetivamente, o que queremos demonstrar é que, com este contexto atual envolvendo o nosso mercado de câmbio, com perspectivas contra maiores do que as perspectivas pró, não nos parece razoável que se tenha uma formação com viés de apreciação do real.
Na nossa visão o preço da moeda americana deveria estar neste momento no intervalo entre R$ 2,23 a R$ 2,25 e não insinuando tendência de ir abaixo de R$ 2,20.
Este comportamento sugere a presença de movimento especulativo no mercado futuro a partir dos “comprados” e que acaba por deformar o preço mais equilibrado da moeda americana.
Assim, da mesma forma que o BC coibiu a especulação que conduzia à alta, deverá agir para inibir o movimento especulativo que aprecia o real sem que existam fundamentos críveis para tanto.
Não será necessário interromper o programa de liquidez diária, mas simplesmente deixar de rolar as posições vincendas de “swaps cambiais” ou fazer uma oferta de “swap cambial reverso” imprevista para colocar ordem na casa.
E, não há tempo a perder, o Copom deveria aplicar uma elevação na próxima reunião de 0,75% na Selic com duplo objetivo, confrontar com a inflação e aumentar a atratividade do país ao capital externo especulativo.
Há um intervalo de tempo em que esta necessidade será mais premente, qual seja entre o agora e os fluxos iniciais de investimentos direcionados às concessões na infraestrutura, e inevitavelmente precisará ser satisfeita com a predominância do capital especulativo.
E, como temos destacado, entendemos que o governo deveria reduzir o prazo dos empréstimos externos sujeitos ao IOF de 6% para 90 dias, ao invés dos 360 dias atuais, visto que neste momento precisa priorizar todas as possibilidades de intensificação do fluxo de recursos para o país.