Tudo aparenta muita calma, mas quando se vai a fundo é fácil de observar que o Brasil precisa intensificar seus esforços para aumentar rapidamente sua atratividade a tempo de obter melhora relevante de fluxos de recursos externos, nesta época do ano, ainda que preponderantemente especulativos.
O Brasil tem um expressivo “gap” representado pela NFE – Necessidade de Financiamento Externo decorrente da expressividade do déficit em transações correntes e o volume insuficiente dos IED´s – Investimentos Estrangeiros Diretos.
Nossa balança comercial, turbinada pelas exportações de plataformas da Petrobrás, ao todo no ano US$ 4,7 Bi, neste mês US$ 1,9 Bi, o que a tirou do vermelho passando-a à positiva em US$ 246,0 M, e no ano sem esta contabilização a balança estaria negativa em US$ 4,5 Bi.
Poder-se-ia afirmar que as importações da Petrobrás do ano passado e as que foram contabilizadas neste ano têm igual valor, mas nada retira o conceito de péssimo desempenho da balança comercial este ano.
Afinal, não está sobrando divisas, ao contrário, está faltando e não é pouco.
Vivemos a perspectiva de que a eventual postergação do início do desmonte do programa de incentivo monetário do FED se dê tão somente em meados do 1º semestre, se houver sinais positivos consistentes da economia americana, em especial no emprego, e com isto, capitais especulativos possam migrar para os países emergentes, em especial para o Brasil.
Precisariam ser em grande monta para suficiência das necessidades do país neste momento.
Esta perspectiva até sinalizou confirmação, porém com volumes ainda suficientes, mas devemos considerar que o embate político nos Estados Unidos em torno do orçamento e do teto de endividamento provocam, mesmo por parte dos especuladores, retração na tomada de decisão de investir nos emergentes, como reflexo das incertezas em torno da disputa entre democratas e republicanos.
A rigor, não se imagina que o problema seja conduzido a um “default” dos Estados Unidos, mas também não se deve imaginar uma solução plena para a disputa, que deve ter meias soluções acomodativas que farão com que este assunto seja arrastado por algum tempo.
Esta não solução pode impactar nas expectativas de fluxos mais intensos de capitais especulativos para o país, portanto, não promovendo melhora substantiva das necessidades presentes, colocando mais evidente a necessidade do governo vir a ter necessidade de utilizar parte de suas reservas cambiais.
Não sem motivo o Presidente do BC, Alexandre Tombini, tem mencionado “an passant” em suas considerações, a existência das reservas do país, assim como o fez nesta semana o FMI.
Contudo, é razoável admitir-se que idealmente o BC não tem a intenção de utilizar parte das reservas cambiais, sendo desejável que os fluxos melhorem para fazer face à necessidade, ou na pior das hipóteses, deixar que as posições “vendidas” dos bancos deem suporte a esta insuficiência, o que naturalmente não passaria desapercebido e poderia impactar apreciando o preço do dólar.
Por isso, entendemos que o real apreciado neste momento, cotado a R$ 2,20, está fora dos fundamentos que sugerem uma taxa mais elevada, provavelmente mais próxima de R$ 2,25, face ao programa político americano impactando negativamente nos efeitos positivos vistos a partir da postergação possível do início da redução do programa do FED.
A leitura que temos desta apreciação do real é da presença de movimento especulativo por parte dos vendidos no mercado futuro de dólar, valendo-se da baixa demanda, da mesma forma que ocorreu por parte dos comprados neste mercado quando o dólar foi a R$ 2,45 e o BC em 22 de agosto resolveu instituir um programa de liquidez mínima diária que inibiu o movimento especulativo dos comprados.
O BC não precisa e, acreditamos, nem deve interromper o seu programa, mas pode deixar de rolar os vencimentos de “swaps cambiais” antecedentes ao programa para coibir a especulação.
Teríamos uma taxa cambial mais coerente com as circunstâncias atuais, atraente para os investidores especulativos que não veriam risco de perda cambial imediato.
Adicionalmente, e como fator tão importante quanto à taxa cambial equilibrada, o Copom poderia elevar hoje a taxa Selic de 9,0% para 9,75% antecipando o que acabará fazendo até o final do ano, atacando de forma mais contundente a inflação e, principalmente, fazendo o nosso juro ser mais atraente para os investidores estrangeiros.
Uma taxa de juro mais atraente poderia desbloquear as decisões dos investidores estrangeiros das incertezas em torno da questão americana, e, o país poderia ter uma intensificação dos fluxos de recursos externos.
O governo precisa antecipar-se no tempo para ainda ter a perspectiva de que o país possa atrair volume considerável de recursos externos.