O cenário prospectivo para o comportamento do preço do dólar no mercado de câmbio brasileiro, a partir dos dados disponíveis e suas efetivas tendências, não é incentivador a “apostas” na queda do preço da moeda americana, visto que há riscos concretos que podem revelá-las estratégia equivocada com ônus ao final.
As mudanças do governo no trato da SELIC que foi reduzida a 7,25%, com um corte de 550 pontos no espaço de um ano, provocou um choque expressivo na rentabilidade proporcionada pelo mercado financeiro nos seus produtos, o que tem conduzido gestores e investidores à busca de novas oportunidades. E, neste afã, podem ocorrer precipitações e adentrarem equivocadamente em operações de altíssimo risco.
Afinal, que fundamentos técnicos existem para apostar na queda do preço da moeda americana no nosso mercado de câmbio, que não seja unicamente a “manifesta” intenção do governo de utilizá-lo como “ancora” da política monetária como fator de contenção às pressões inflacionárias?
O ambiente como vimos salientando, contudo, tem evidências de existência de fatores reais em oposição a esta ação do governo, que são fortes e podem inibir que a manipulação do preço da moeda americana não seja tão fácil quanto parece e venha a exigir continuas intervenções do BC no mercado e até a disponibilização de dólares à vista, fazendo uso das nossas reservas cambiais.
Temos um fluxo cambial negativo em janeiro, sequente ao mesmo perfil de dezembro, justamente no período em que os fluxos de recursos para o país historicamente se revelam fortes, deixando evidente que há perda de atratividade por parte dos investidores estrangeiros.
O 1º trimestre do ano é sempre o período de maior fluxo positivo para o Brasil, e a tendência que se detecta atualmente não sugere que 2013 vá confirmar este comportamento.
Há no confronto do mês de janeiro de 2011 a 2013 uma relevante mudança no perfil do fluxo cambial para o Brasil.
Em 2011, janeiro apontou fluxo comercial positivo de US$ 1,077 Bi; em 2012, também positivo, de US$ 381,0 M e em 2013, negativo US$ 4,755 Bi. Tivemos em 2011, fluxo financeiro positivo de US$ 14,4 Bi; em 2012, também positivo, de US$ 6,9 Bi e em 2013, também positivo, US$ 2,3 Bi.
Como se pode notar o fluxo comercial teve uma reversão abrupta, embora se possa argumentar que existe um saldo a contratar câmbio de US$ 22,2 Bi de exportações já realizadas e US$ 8,7 Bi de importações, que representa um fluxo liquido em perspectiva de US$ 13,5 Bi, que, contudo, pode se retardar muito para ser efetivado face à taxa cambial deprimida.
No fluxo financeiro a queda é expressiva e isto deixa evidente a perda de atratividade dos investidores estrangeiros pelo país.
A leitura que fica deste cenário é de que as mudanças promovidas pelo governo em dezembro, ampliando o prazo para os Pagamentos Antecipados de Exportação e reduzindo o prazo dos Empréstimos Externos sujeitos ao IOF de 6%, não agregaram aumento de fluxo cambial.
Por isso, é necessária muita cautela em relação ao câmbio, até porque acreditamos que os efeitos para conter as pressões inflacionárias serão parcos, já que estas decorrem fortemente do item serviços, que não sofre interferência da cotação do dólar, mas, em contraposição poderá causar efeitos negativos no setor produtivo, que desestimulado, mais uma vez, poderá sinalizar com desemprego.
Como já vimos anteriormente, não é difícil do governo voltar a colocar o preço do dólar pró-incentivo da indústria e, optar por outras alternativas, se houver indicadores ruins sobre a produção industrial e desemprego.
A inflação é, contudo, o fato inesperado para o governo neste inicio de ano devido a sua resistência e tendência de aquecimento, contrariando as expectativas de que pudesse convergir para o centro da meta, a partir da SELIC mantida em 7,25%.
O IPCA de janeiro registrou alta de 0,86% e é o maior desde 2005, segundo o IBGE, e acumula nos últimos 12 meses 6,15%, o maior nível em um ano e já muito próximo do teto da meta que é de 6,50%.
O governo espera que a inflação desacelere ao longo do ano, após o corte das tarifas de energia e com o real apreciado, porém os dados de janeiro que ainda não repercutiram estes pontos, não devem passar muita confiança ao mercado, que demonstra isto no mercado de juro, e, aos investidores.
Há um sentimento de perda de credibilidade na politica econômica, e, cada medida arquitetada pelo MF para buscar de forma canhestra cumprir a meta do superávit primário, que não está cumprindo, põe mais nebulosidade em questões que deveriam ser absolutamente transparentes.
Evidente que estas “ocorrências” não passam desapercebidas aos investidores estrangeiros e pode vir a afetar o fluxo de IED´s para o país.
Portanto, consideramos que será muito difícil para o BC a gestão tendente ao real apreciado de forma sustentável, visto que as forças opostas são consideráveis.