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O Governo tem nos bancos, posicionados “vendidos” no mercado à vista, parceiros no desafio de manter o real apreciado em ambiente adverso de fluxo cambial, mas a perspectiva de baixa liquidez se acentuando

Há uma falsa convicção no mercado de câmbio de que o BC pode colocar o dólar ao preço que desejar, basta querer, e para esta ou aquela opção de momento pode manipular os movimentos com a utilização dos instrumentos financeiros “swaps cambiais” ou “swaps cambiais reversos” no mercado futuro de dólar, ou ainda, com as operações conjugadas de venda e compra efetiva de dólares, “swaps”, no mercado de câmbio à vista.

Frequentemente se ouve isto.

Neste momento há uma sensação de relativa estabilidade do preço da moeda, mas isto esta sendo favorecido pelo fato dos bancos estarem “vendidos” no mercado à vista e, também, no futuro, o que os faz aliados.

Contudo, este quadro em perspectiva pode ter turbulências e uma pressão altista no preço da moeda americana.

Esta estratégia de buscar apreciar o real e ter a parceria dos bancos com posições “vendidas” viabiliza-se de forma sustentável quando o fluxo cambial de recursos externos para o país é satisfatório, permitindo até que o BC através leilões de compra eleve as reservas cambiais do país, podendo até adquirir mais do que o fluxo positivo, induzindo os bancos a constituírem posições “vendidas” especulativas e indutoras firmes da depreciação do preço da moeda americana, que acabam combinadas com captação de reais a custos baixíssimos mediante a utilização de linhas externas.

Mas este não é cenário presente. Os bancos estão com posições “vendidas” em decorrência da baixa liquidez presente no mercado de câmbio à vista, consequente do fluxo cambial persistentemente negativo nos últimos 8 meses, exceto novembro.
 
Estas posições “vendidas” estão ancoradas em grande parte em linhas externas junto a banqueiros, e já atingem algo próximo a US$ 12,0 Bi, e se o fluxo cambial persistir negativo tende a ser aumentada, porém isto pode trazer certo desconforto para os bancos se não houver perspectiva de reversão do fluxo a positivo proporcionando a viabilização da cobertura da exposição em moeda estrangeira.

Não parece que estejam “hedge” neste momento, pois mantém posições “vendidas” também no mercado futuro, mas o problema não é só estarem ou não protegidos, mas sim que para solução desta situação do posicionamento no mercado à vista é necessário dólar efetivo, disponível, e este só advém de superávit no fluxo cambial ou via BC com venda efetiva de dólares ao mercado à vista, sacando das reservas cambiais.

Para manter este quadro o BC pode ir gradualmente ampliando os limites de posições “vendidas” dos bancos, mas a incógnita é até que ponto estes estariam dispostos a ficar expostos em moeda americana, num cenário adverso de fluxo comercial.

Grande parte do mercado de câmbio nutre perspectivas favoráveis com fluxos de recursos decorrentes do inicio de negociação das safras agrícolas, mas na contramão deste contexto temos sinais cadentes dos fluxos de investimentos de toda natureza para o Brasil.

Por isso, se a “ressaca” de ingresso de divisas persistir, deve ocorrer volatilidade e não será tão calmo quanto pode estar parecendo o BC manter o real apreciado, a menos que venda dólares das reservas cambiais ao mercado.

Merecem citação dois fatos relevantes.

No Brasil foi divulgado pelo IBGE o PIB de 2012 confirmando o já esperado 0,9% que já estava precificado pelo mercado, e não confirmou as expectativas criadas em torno do indicativo IBC-Br do Banco Central do Brasil.

Do lado da oferta, a indústria teve retração de 0,8% no confronto com 2011, enquanto o setor de serviços cresceu 1,7% e a agropecuária teve recuo de 2,3%.

Do lado da demanda, o consumo das famílias cresceu 3,1% e do governo 3,2%.

A FBCF (formação bruta de capital fixo) que representa o investimento em máquinas e equipamentos e construção civil caiu 4% no ano. A taxa de investimento atingiu 18,1%, ficando muito aquém da grande maioria dos principais emergentes.

No setor externo, as exportações cresceram 0,5% e as importações 0,2% no ano.

Afinal, 2012 foi um ano decepcionante com o crescimento de 0,9%, valendo lembrar que a previsão inicial do governo era de crescimento de 4,5%, e não se pode debitar esta performance como causa direta e principal da crise internacional.

Outro fato relevante foi o anúncio do desemprego na eurozona atingindo 11,9%, algo como 19 milhões de desempregados. França e Itália ficaram neste entorno, enquanto a Espanha atingiu 26% e na faixa etária dos mais jovens ultrapassou 55,0%.

Esta situação fragiliza muito a tese defendida da austeridade fiscal para a região, já que o quadro cada vez mais é caótico.

 

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