O ingresso líquido de divisas no país continua fragilizando-se e confirmando-se negativa, o que provoca a expansão do montante das posições “vendidas” dos bancos no mercado de câmbio à vista.
Ontem, o BC divulgou o “status” do fluxo cambial até 22, pressuposto até 20, pois o critério da estatística é pelos valores liquidados, que normalmente ocorrem em D+2, que continuou sua evolução negativa atingindo US$ 2,840 Bi, sendo US$ 895,0 M negativos no fluxo comercial e US$ 1,945 Bi no fluxo comercial.
O montante das posições “vendidas” dos bancos no mercado à vista havia fechado janeiro com US$ 8,577 Bi e a este se agregando os US$ 2,840 Bi até o momento apurado em fevereiro, totaliza-se US$ 11,417 Bi.
Na ausência de fluxo este montante de posições “vendidas” vem sendo financiada pelas linhas externas de bancos estrangeiros, em sua quase totalidade, e uma parcela relativa aos saldos vendidos a serem entregues pelos bancos ao BC relativos às operações conjugadas de venda e compra realizadas em dezembro, das quais resta a ponta da venda dos bancos ao BC a ser cumprida.
O fluxo cambial vem se revelando negativo desde agosto do ano passado, exceto o mês de novembro, e parece, cada vez mais, tendência sustentável.
A manutenção dos bancos com posicionamento “vendido” no mercado à vista os faz, em tese, parceiros do BC na indução da apreciação do real, pois o foco é obter a cobertura a preço mais baixo do que foi praticado nas vendas, ainda mais, quando não há evidência clara de que tenham protegido esta exposição com “hedge”, visto deterem também no mercado de dólar futuro e no mercado de cupom cambial-DDI posicionamentos “vendidos”, data base 20, de US$ 1,940 Bi e US$ 2,934 Bi, respectivamente.
Saliente-se que o posicionamento “vendido” dos bancos no mercado à vista, além da indução colaborativa com o BC para apreciar o real, proporciona aos bancos captação de reais a custos substancialmente baixos, com base em engenharia financeira.
Portanto, como ao governo interessa a manutenção deste posicionamento e considerando também, que não pretende deixar os bancos em situação difícil pela necessidade imediata de cobrirem parte destas posições para não excederem os limites regulamentares, que determinaria pressão altista no preço do dólar, é bastante factível que o BC venha a elevar o limite de posição “vendida” por banco no mercado à vista de câmbio.
Porém, e efetivamente há um “porém”, a tendência de fluxo cambial negativo sustentável pode ir, gradativamente, colocando os bancos em situação de desconforto pelo aperto da liquidez, visto que em algum momento precisarão cobrir suas posições “vendidas” no todo ou em parte pela inconveniência de expandi-las num cenário de incerteza quanto ao ingresso de divisas, tornando inevitável a pressão de alta do preço do dólar, salvo se o BC passar a ofertar liquidez com dólares efetivos através leilões no mercado de câmbio à vista, o que não parece muito provável.
No nosso entender os bancos já avançaram em demasia na expansão de suas posições “vendidas” no mercado à vista, uma vez que o cenário de contração do fluxo cambial não recomenda esta atitude.
Afora este contexto que pode protelar por um tempo a participação dos bancos como aliados na apreciação do real, mas não por todo tempo, pois haverá o momento em que certamente optarão pela redução/cobertura das mesmas e, esta mudança pressionará o preço do dólar, há o risco do fluxo cambial colocar em dúvida a capacidade de captação dos recursos necessários ao financiamento do nosso déficit em transações correntes, e este é um fator que provocaria forte pressão altista no dólar, a despeito de termos reservas cambiais.
Por estas razões muito presentes no cenário do mercado de câmbio é que entendemos como pouco sustentável a estratégia do governo de utilizar o real apreciado como instrumento preponderante para conter a pressão inflacionária.
Continuamos com a convicção de que o cenário prospectivo para o preço do dólar em nosso país continua sugerindo o preço em alta.
O fundamento muito preconizado para sustentar a tese de que o dólar se deprecia na razão direta da valorização das “commodities” acaba por se fragilizar ante o princípio básico de que a escassez do bem (dólar) num ambiente de demanda provoca a elevação do seu preço. E esta é a perspectiva!