As perspectivas da “onda de liquidez japonesa” no mercado global apreciam as moedas dos países emergentes, mas o governo brasileiro precisa derrubar as barreiras ao ingresso, para colher os benefícios

O mercado de câmbio brasileiro e não só ele, como também o de juros e renda variável vivem um momento de expectativa acerca do cenário externo fortemente afetado pelo plano de estímulo à atividade econômica anunciado pelo Japão, que prevê liquidez adicional de US$ 1,4 tri em 2 anos e que tem a pretensão clara de promover o retorno de pelo menos 2% de inflação, induzindo a população ao consumo, com a motivação de que comprando hoje pagará menos que amanhã.

O “start” deste movimento de otimismo que fortaleceu, ainda sem causa efetiva, a apreciação do real; o anúncio seguido de IPO´s programados para a BM&FBovespa e uma renovada ebulição no direcionamento de captações externas por empresas brasileiras, surgiu a partir de um insinuado “boato” estrategicamente colocado de que o governo estaria ultimando medidas para desonerar os ingressos de recursos externos da tributação com o IOF.

O “boato” faz senso, por isso tornou-se viral e avançou contaminando todos os segmentos do mercado financeiro e afetando a formação de preços e posicionamentos.

O Brasil vem com problemas no câmbio que apresenta baixo fluxo cambial, tendo sido extremamente desapontador no 1º trimestre, período habitualmente mais vigoroso historicamente. As perspectivas presentes não sugerem melhora expressiva, até pelo contrário, mesmo que consideremos uma eventual melhora com o fluxo cambial das safras agrícolas.

O BC já não detinha instrumentos viáveis, exceto a venda de divisas à vista para o mercado, para dar sustentação à sua ambição de utilizar o real apreciado como instrumento contingenciador das pressões inflacionárias, e por enquanto esta sendo beneficiado pelos efeitos imediatos do “boato”.

A inflação é algo cada vez mais preocupante. O IPCA de março registrou 0,47%, pouco abaixo das projeções, mas suficiente para implodir o teto máximo da meta nos últimos 12 meses, totalizando 6,59%, maior desde novembro de 2011 quando registrou 6,64%.

A alternativa mais imediata para agir na contenção da espiral inflacionária que tem grande difusão na economia, estimada já em 75%, é aumentar o juro SELIC, mas isto pode estar provocando constrangimentos ao governo que fez da queda do juro uma das suas principais bandeiras. Também deve ser considerado que o juro efetivamente praticado nas transações comerciais da nossa economia está muitíssimo acima dos parâmetros da SELIC, o que conspira contra o seu real alcance como medida e pode afetar os investimentos.

Para contornar a necessidade de elevar o juro que vem sendo clamado pelo mercado financeiro, o governo precisaria ter a capacidade de “massacrar” o preço do dólar, o que no atual contexto não tem a menor condição, muito pelo contrário, já tem baixo poder de fogo para apreciar o real.

Então, o programa japonês surge como extraordinária oportunidade, até pela proximidade do investidor japonês com o Brasil, para que o governo retire as barreiras tributárias do IOF postas num momento em que anteviu “tsunamis” que não ocorreram e julgando que não viesse ser necessário, e abrindo o país para receber o fluxo de recursos, usufruindo o que o Ministro Mantega sofismou como “guerra cambial”, abrindo as “comportas” para recebermos os dólares que o país está precisando, caso contrário terá, muito provavelmente, que utilizar as reservas cambiais.

Quando colocamos a hipótese de que o Brasil está precisando de dólares, basta observar que o fluxo financeiro está sem dinamismo e o próprio Boletim FOCUS projeta IED´s em US$ 60,0 Bi e Superávit da balança comercial em US$ 11,0 Bi contra um déficit em transações correntes de US$ 68,0 Bi.

Com a “abertura” o governo poderia atrair fluxo cambial favorável mais intenso para os IPO´s que estão sendo revitalizados, provavelmente até com certo oportunismo face ao anúncio japonês sendo retirados das gavetas, ao mesmo tempo em que empresas redinamizam as tomadas de recursos externos na forma de empréstimos, agora provavelmente a custos mais atraentes.

Admitimos mesmo que haja uma demanda reprimida para empréstimos de curtíssimo prazo entre 91 dias a um ano, que seria também um fator de pressão sobre os juros internos.

Enfim, melhorando o ingresso o fluxo cambial permitirá que o real seja apreciado de forma mais intensa, contribuindo principalmente para retirar pressão inflacionária no item alimentos, reduzindo a necessidade de elevação maior da taxa SELIC, ou até mesmo de conter a sua ocorrência.

Como o anuncio do IPCA nos níveis elevados e preocupantes, o governo precisa demonstrar-se “vivo e atento” atuando firme neste complexo cenário em que precisa crescer obrigatoriamente, sem, contudo, estimular a inflação.

É possível que tenhamos novidades neste intervalo entre hoje e a reunião do COPOM, caso contrário será desprezada, provavelmente, a grande e ultima oportunidade de recuperarmos o fluxo cambial, e a partir dele construir as estratégias necessárias para sair desta situação de desconforto.

É o momento de mais ações efetivas e menos discursos “operacionais”.

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