O Governo e o “Dilema de Sofia”. Se não escolher entre priorizar o combate à inflação ou o crescimento econômico…

O governo brasileiro enfrenta o pior cenário para gestão. Tem um ambiente inflacionário aquecido e um quadro pouco otimista em relação a crescimento econômico com antecedentes de 2,7% e algo em torno de 1%, que precisa ser revertido e revigorado, para que o país não comece a perder as conquistas mais recentes, e volte a ser tão somente “um país do futuro”.

Se não fizer a escolha para priorizar uma das pontas do problema, a exemplo do “dilema de Sofia”, poderá ver naufragar ambas neste ano de 2013.

Por isso, salientamos ontem que a afirmação de que a inflação está sob controle, feita pelo Presidente do BC antes de ontem, sinalizando que poderá se necessário, utilizar a elevação da taxa SELIC, sem mencionar que já vem utilizando o câmbio com o real apreciado, transpareceu mais uma atitude para demonstrar-se autônomo perante o mercado financeiro, mas, não ensejou nenhuma sinalização de imediata reação às pressões inflacionárias presentes, mas sim, que dará um tempo para observar os resultados com a estratégia atual.

Ocorre que a falta de ação contundente imediata e a tentativa de conquistar o crescimento em concomitância com a presença de inflação aquecida combatida com instrumentos inadequados, pode piorar cada vez mais as expectativas e mutilar de forma irrecuperável o animo do setor privado, que tenderá a estagnação e ao não investimento, fator imprescindível para o país conquistar competitividade e produtividade.

O país tem sabidamente um relevante problema de oferta, que vem sendo cada vez mais complementada pelas importações, já que não há expansão da capacidade de oferta compatível por parte da indústria nacional.

Dados indicam que no 4º trimestre o consumo interno de máquinas continuou estagnado; que as vendas do comércio em dezembro em relação a novembro caiu 0,5%, com destaque para a redução de 0,3% do ramo de supermercados e alimentos no Natal, quando a rigor ocorre expansão; e, o IBC-Br, indicador do BC prognosticando o crescimento do PIB, apontou desaceleração no fim de 2012.

Por outro lado, segundo dados da CNC base fevereiro, indicam que 61,5% das famílias se dizem endividadas, acima do verificado em janeiro de 60,2% e superior ao de fevereiro de 2012 que foi 57,4%.

As projeções para 2013 estão sendo revistas com muita rapidez, havendo uma tendência para o crescimento do PIB situar-se em 2,5%, nossa projeção formulada em dezembro último, e o IPCA em 6%. E isto ganha maior relevância, visto estarmos em meados do 1º trimestre do ano.

O fluxo cambial nos 3 dias úteis da semana de 13 a 15 foi negativo em US$ 750,0 M, elevando o saldo do mês para US$ 817,0 M, que compreende negativo comercial de US$ 654,0 M e negativo financeiro de US$ 163,0 M.

Os bancos, com base nos números do BC, devem estar vendidos em 13 (dia 15-D2) em torno de US$ 9,4 Bi no mercado a vista e mais US$ 4,9 Bi, data base ontem, no mercado futuro/dólar e cupom. Ao todo algo como US$ 14,3 Bi.

Terão, os bancos, que cumprir a entrega ao BC do volume que venderam a autoridade monetária nas operações conjugadas de dezembro vincendas neste mês, e isto exigirá que disponham de dólares à vista disponíveis, o que determinará um esforço para reduzir as posições vendidas, onde está contido este compromisso, a partir de compras no mercado, o que pode ser o fator de discreta pressão de alta do preço da moeda americana que se verifica desde ontem, ou terão que utilizar linhas externas para liquidez.

O fato é que os bancos estão substantivamente vendidos, e aparentam não estar totalmente com “hedge” por isso ocorrem ocasionais pressões para apreciação mais forte do dólar, as quais o BC tem contido com oferta de “swaps cambiais reversos”, mas em perspectiva, não havendo uma recuperação do fluxo cambial, pode ocorrer maior pressão altista sobre o preço da moeda, pois podem decidir a optar pela não expansão das posições vendidas ante um cenário negativo de fluxo cambial ou por atingirem os limites definidos pelo BC.

Face a isto tudo, é que consideramos que neste contexto inflacionário a utilização do real induzido à apreciação deixa de ser o instrumento adequado e deixa fadada ao insucesso a estratégia do governo.

O contexto é adverso para a apreciação do real sustentável, pois não há fluxo cambial confortável para o país, e certamente, o real apreciado artificialmente causará maiores danos à economia brasileira do que benefícios, pois inibe os investimentos por parte do setor produtivo ao fomentar incertezas sobre a política monetária e cambial.

 

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