A fala de ontem do Presidente do BC, Alexandre Tombini, sinalizou que a autoridade monetária persistirá um pouco além das expectativas do mercado na estratégia atual, não renegando, contudo, eventual retomada de utilização da SELIC no esforço de contenção das pressões inflacionárias, porém não sem dar um tempo maior para medir os efeitos da estratégia presente.
A manifestação da autoridade procura dar transparência para o que parece confuso e pouco claro no momento, mas embora tenha fragilizado de imediato a tendência de alta do mercado de juro e levado ao mínimo o preço da moeda americana, não se pode afirmar que tenha gerado conforto ao mercado, que tem a percepção de que as pressões inflacionárias precisam ser contidas de imediato, sem concessão de tempo maior, visto estar se disseminando por todos os setores da nossa economia.
Provavelmente seriam necessárias medidas e atitudes mais imediatas e contundentes frente à inflação que está surpreendendo até os mais pessimistas por sua intensidade, pois demonstraria de maneira enfática que o governo reage à pressão inflacionária de forma austera, o que seria um bom sinal.
Nossa percepção indica que o país não tem tempo a perder, para não ter mais um ano de decepção com o crescimento econômico, por isso as medidas que forem necessárias deveriam ocorrer com rapidez e serem fortes.
Dar um tempo para uma estratégia que é totalmente desestimulante à indústria nacional, que assim não se motiva ao investimento e, portanto, não conquista competitividade, pode consumir um tempo irrecuperável para um país que precisa reencontrar o caminho do crescimento.
O modelo de crescimento ancorado na transferência de renda em programas sociais e estímulo ao consumo com crédito farto já cumpriu o seu papel, pois é politica que repercute no curto prazo, mas não é sustentável, pois existem limites. Já deu sua contribuição, mas o país precisa melhorar e muito sua infraestrutura, conquistar melhorias de competitividade e produtividade, de forma a que possa promover o incremento da oferta.
O governo precisa estimular, com desonerações tributárias amplas e não seletivas e setoriais e com uma profunda reforma trabalhista, o investimento e o aumento da produtividade e competitividade do setor produtivo nacional.
Precisa promover a convicção e confiança do setor produtivo na sua politica monetária, que não deve ser excessivamente mutante gerando incertezas e precisa ser menos intervencionista.
O dólar precisa de estabilidade e curso quase dentro do normal, pois é um dos elementos fundamentais para as decisões empresariais, assim como o juro, que foi afastado e ajustado dos patamares impensáveis e injustificados praticados até um passado recente, mas não pode ser congelado no cumprimento de sua relevância na política monetária ante o comportamento da inflação.
Excessos de interferências e declarações a respeito do câmbio, principalmente, e do juro, conspiram contra as expectativas, que ante incertezas tornam-se negativas. Este é um desafio atualmente para o governo que precisa recolocar as expectativas na linha do otimismo, visto que sofreram forte desgaste logo ao inicio do ano. Atitudes seriam mais valiosas do que palavras.
Pelas declarações do Presidente Tombini, continuaremos com “mais do mesmo” o que fragiliza a convicção de que o governo esteja absolutamente atento às pressões inflacionárias, e, mais podemos estar comprometendo com a espera um tempo que poderá faltar adiante para que o país tenha uma melhora no nível do crescimento neste 2013.
Tudo indica que por mais uns 3 a 4 meses o BC continuará administrando o preço do dólar na faixa atual, observando resultados na contenção da inflação. Caso ocorra insucesso, deverá utilizar a elevação da taxa SELIC, ficando a duvida se será mantida a politica de apreciação do real como “coadjuvante” ou se ocorrerá uma discreta liberação, pois a indústria nacional nesta altura já poderá estar gerando indicativos cadentes de atividade.
Mas poderemos ter volatilidade neste período, visto que há um viés negativo no fluxo cambial, que se for mantido poderá provocar falta de liquidez no mercado à vista do câmbio, ensejando que o BC possa ser levado a ter que realizar leilão de venda de dólares efetivos à vista.
É possível que a autoridade monetária esteja dando um tempo para observar o comportamento da inflação, que poderá fazer falta no futuro se o crescimento econômico não demonstrar vitalidade.