Em contextos complexos e indefinidos, atitudes devem substituir palavras e o silêncio pode ser a melhor mensagem

Ocorreu uma piora significativa nas expectativas logo ao início deste ano, motivada pela dinâmica forte e imprevista da inflação, que continua se mostrando resistente, e isto causou uma perturbação e indefinição na política monetária do governo, que não tem se evidenciado capaz de promover a contenção da pressão inflacionária e, nem de repor as expectativas em linha de otimismo.

Este cenário, logo ao início do ano, vem causando enorme desconforto ao governo que vê concretas ameaças ao crescimento da atividade econômica, ofuscado nos dois últimos anos em que cresceu 2,7% e em torno de 1,0%, respectivamente, dos piores senão o pior desempenho entre os emergentes.

O governo que havia promovido de forma ousada, porém necessária, brusca redução na taxa SELIC com o objetivo de torná-la o instrumento fomentador dos investimentos por parte do setor produtivo para com isto obter melhora substantiva da oferta, compatibilizando-a com os parâmetros de demanda que vem sendo estimuladas com política de estimulo ao crédito, ante uma imprevista pressão inflacionária viu-se obrigado a defrontar-se com este problema perturbador da política monetária.

Não desejando optar pela utilização da SELIC no confronto com as pressões inflacionárias, optou por uma política heterodoxa, mantendo-a como instrumento de fomento ao investimento e optando por mutilar a formação do preço da moeda americana induzindo a apreciação do real.

Ocorre que esta prática já adotada pelo governo anterior, porém com a utilização da SELIC e a taxa cambial com o real apreciado como “coadjuvante” se revelou tarefa mais fácil naquele ambiente antecedente, quando o país atraia enormes cifras de recursos especulativos do exterior, face à extraordinária remuneração que proporcionava, e tinha um mercado de derivativos aberto para a especulação que apreciava o real. Na atualidade o cenário é outro, já não há fluxos generosos de recursos para o país, muito pelo contrário, e isto dificulta muito a indução da apreciação do real, o que a torna tarefa difícil e de baixa sustentabilidade.

Há neste momento muitas dúvidas e incertezas quanto à política monetária que vem sendo praticada pelo governo e isto impacta nas expectativas, que saíram do otimismo em dezembro passado para o negativo logo ao inicio do ano, e este fato coloca em risco a recuperação da economia brasileira.

Tudo indica que o governo será levado a ter que utilizar a SELIC, ficando a dúvida se precisará do real apreciado como “coadjuvante” ou não para combater a inflação.

Na contramão desta quase certeza fica a dúvida de quanto isto poderá comprometer o crescimento econômico e se será capaz de evitar que a inflação ultrapasse o seu piso superior da meta, e que reflexos poderão ter no emprego, renda, inadimplência, etc.

Enfim, é tudo uma incógnita neste momento e o que se espera é que ajustes sejam feitos face ao acompanhamento dos comportamentos reagentes as estratégias adotadas. A única certeza é que o quadro é complexo e, se o governo tentar conquistar o crescimento e a contenção da inflação ao mesmo tempo, poderá ter insucesso em ambos objetivos.

Mas, notoriamente, este é um quadro perturbador para o governo e, naturalmente, para o país, e, isto tem provocado inúmeras manifestações por parte dos integrantes do “staff” do governo no sentido de procurar reverter às expectativas, sem o que não ocorrerá o desejado crescimento econômico.

Este é um momento para observação e monitoramento, nada é certo e definitivo, portanto não comportaria manifestações enfáticas prognosticando quanto será o IPCA; que não teremos medidas no câmbio, etc., pois estamos num cenário de imprevisibilidades buscando acertar a melhor política monetária possível para um quadro que confronta pressões inflacionárias que comprometem o claro objetivo de conquistar um crescimento revigorado.

Atitudes por parte do governo falam mais do que as palavras, o que nos faz crer que o silencio seria a melhor mensagem e confundiria menos o que já está muito complexo.

Os fundamentos de formação do preço do câmbio estão adversos para o Brasil, e isto poderá impor cenário perturbador no mercado de câmbio, promovendo volatilidade e exigindo do BC intensa atuação para sustentar o seu propósito de manter o real apreciado, podendo chegar à necessidade de realizar leilão de venda de dólares efetivos à vista.

Estaria disposto a isto ou optaria por uma alta mais forte na SELIC e soltaria um pouco o câmbio para incentivar a indústria nacional, afastando-se da política heterodoxa atual.

A alta do dólar nesta semana pouco tem a ver com cenário externo, mas sim com a baixa liquidez no nosso mercado de câmbio, tendo como fator adicional a necessidade dos bancos cumprirem a entrega dos dólares ao BC das operações conjugadas de dezembro vincendas este mês.

O argumento de que o câmbio mais elevado é inflacionário tem quanto de realidade no nosso contexto? Não estaríamos valorizando em demasia itens menores em detrimento dos maiores? O Japão viu sua moeda, o Yen, sair da relação 160 unidades por dólar para 80 unidades sem ocorrer impacto na inflação.

 

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