O fluxo cambial, divulgado ontem pelo BC, evidencia insuficiência do fluxo financeiro para o país, deixando transparecer que o volume de captações recentes pode ficar abaixo das necessidades presentes.

Os dados até 26 de abril apontam que o fluxo está positivo no todo em US$ 1,702 Bi, resultante de positivo no comercial de US$ 4,344 Bi e negativo no financeiro de US$ 2,642 Bi.

Saliente-se que o fluxo comercial positivo está ancorado num ingresso atípico ocorrido no dia 15 da ordem de US$ 4,365 Bi, absolutamente fora do padrão, razão da estranheza.

Relevante destacar que o Ministério do Desenvolvimento divulgou dado, conforme matéria do jornal Valor Econômico, alardeando que o apetite do mercado consumidor brasileiro ajudou a criar um déficit recorde de mais de US$ 6,0 Bi no comércio exterior no 1º quadrimestre.

É notória a fragilização da nossa balança comercial que tem como previsão saldo positivo pouco acima de US$ 10,0 Bi para este ano, mas, é preciso maior detalhamento da informação gerada pelo MD, visto que sabidamente volume expressivo de importação da Petrobrás realizada em 2012 está tendo os dados imputados neste exercício, o que pode atenuar a relevância da informação, e, nos levar a crer que a balança comercial teve resultado efetivo bem pior em 2012, que só está sendo considerado por registro agora em 2013.

Mas, o fato concreto de nossa observação é que o fluxo financeiro está insuficiente, ou seja, o volume de saídas supera o de entradas, num ambiente em que se trabalha com a perspectiva de que as captações externas recentemente anunciadas fossem suficientes para sanar este desequilíbrio, o que não está sendo confirmado na prática.

Cabe acompanhar o comportamento destas captações com mais acuidade, visto que as intenções podem estar sendo inviabilizadas pelo custo adicional do “hedge” local ou até por sua inexistência para alguns prazos.

O país poderá conviver com uma carência de fluxo financeiro exatamente no momento em que o mercado internacional convive com excelente nível de liquidez e redução de taxas de juro, que será incrementado com a busca por investidores europeus de melhor rentabilidade após o BCE ter reduzido ontem a taxa de juro para 0,5% e apontar que poderá reduzi-la ainda mais.

Os bancos estão, com base nos números do BC, com posições “vendidas” no entorno de US$ 6,6 Bi no mercado à vista, um pouco menor do que na virada do mês de março para abril que registrava US$ 8,3 Bi, mas embora conveniente por permitir que captem reais a custo barato, as preocupações com o cenário externo que agrava suas perspectivas pode sugestioná-los a realizar a cobertura das mesmas, e, pelo que se percebe poderá não haver fluxo suficiente para este intento.

O mundo global vem se vendo em perspectivas piores, e, a maioria dos países vem tentando reagir cortando taxas de juros e injetando liquidez.

O Brasil, por estar convivendo com pressão inflacionária substantiva, está na contramão deste movimento e tende a elevar juro e não está conseguindo resposta positiva dos investimentos com base em desonerações de curto prazo que vêm estabelecendo de forma seletiva para setores de sua economia. E, embora nesta posição adversa, foca o crescimento econômico, o que torna absolutamente complexa a sua situação.

Se não flexionar as barreiras tributárias para o ingresso de recursos externos, ao que tem resistido até o momento, poderá ter carência de liquidez no mercado de câmbio, o que pode pressionar a alta do preço da moeda americana, ocorrência que não interessa, pois colocaria mais pressão na inflação. Restaria, então, ao BC vender dólares efetivos ao mercado à vista.

A cena externa que tem a China repercutindo em sua atividade industrial a queda das exportações consequente da crise dos países desenvolvidos e, por efeito direto, afetando os preços das “commodities agrícolas e metálicas”, tende a acentuar as preocupações a partir da piora da situação da União Europeia.
A Comissão Europeia, ao divulgar previsões para os próximos dois anos, informou que a economia da zona do euro contrairá mais do que o esperado este ano e os déficits orçamentários cairão lentamente. Acrescentou ainda que a economia da zona do euro irá contrair-se 0,4% este ano e crescer 1,2% no ano de 2014, revendo para pior suas projeções anteriores que eram de 0,3% e 1,4% respectivamente.

Destacou que França, Espanha, Itália e Holanda, importantes economias da zona do euro, estarão em recessão durante 2013.

Por outro lado, os Estados Unidos também se recuperam mais lentamente do que o esperado.

Desta forma, o Brasil não pode esperar quase nada do mercado global, restando somente o fato de que com o nível de taxa de juro que está praticando ainda poderia despertar interesse de investidores de curto prazo, não como outrora, mas em volume suficiente para equilibrar o fluxo cambial financeiro.

Continuamos com a convicção de que possa haver uma melhora o fluxo financeiro, porém não de forma sustentável e de forma absolutamente pontual, permitindo por um breve tempo a manutenção da taxa no entorno de R$ 2,00, razão pela qual consideramos ainda bastante indefinidas as perspectivas para a taxa cambial ao longo deste ano.

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