O governo brasileiro vem sustentando o discurso de que não negligenciará com a inflação, e, se assim agir com rigor, certamente comprometerá o crescimento do PIB neste ano, que, também, repetidamente, tem salientado ser objetivo conjunto.
Este é um cenário que impõe a escolha e priorização de um dos objetivos, ou a inflação ou o crescimento, ambos ao mesmo tempo, a rigor, não são alcançáveis com sucesso e ganham enorme propensão ao insucesso.
Analistas mais focados na análise da política fiscal do governo detectam deterioração nas contas públicas no 1º trimestre, já que foi o pior desempenho dos últimos 3 anos. A economia do governo para pagar juros da DP, o superávit primário, ficou em R$ 30,7 Bi, queda de 33% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados divulgados pelo BC, sendo que só no mês de março com o superávit primário de US$ 3,5 Bi, a queda foi de 66% no confronto com o mesmo mês em 2012.
Análises indicam que a política de gastos públicos para incentivar a economia, não provocou reação dos investimentos como esperado e os reflexos positivos no crescimento do PIB ainda são muito discretos. Em tese, desonerações visando o curto prazo não incentivam investimentos, que focam mais as perspectivas de longo prazo. É natural então, que a arrecadação seja cadente e ocorram dificuldades para alcançar a meta de superávit primário.
A dívida pública bruta do Brasil está em 59,2% do PIB e pelos conceitos metodológicos internacionais em 54,9%. Na Rússia o índice atinge 12,2% e na China 31,7%. Este é um dado muito considerado nas análises dos investidores estrangeiros.
O Brasil está se defrontando com o “dilema de Sofia” e, naturalmente, deveria fazer a escolha do que será mais importante: crescimento ou contenção da inflação? Quadro extremamente difícil de ser acomodado, principalmente num ano pré-eleitoral, e tentar acomodar ambas situações é inviável.
Na área cambial vislumbra-se melhora do fluxo com base nos anúncios de captações externas por parte das empresas brasileiras na forma de empréstimos, e, nos recursos externos direcionados para IPO´s na BM&F Bovespa.
A situação externa está bastante favorável em decorrência do programa do Japão que está promovendo enorme liquidez no mercado internacional e queda de juro, ao qual agora poderão se agregar recursos europeus que tendem a se deslocar buscando melhor rentabilidade, como consequência da redução do juro para 0,5% decidida pelo BCE.
Mas temos fatores limitantes que poderão colocar-se como obstruções a esta oportunidade de melhora do fluxo cambial.
O encarecimento do “hedge” (proteção) para estas captações vem indicando que na somatória o custo da operação supera os custos possíveis internos de captação. Isto decorre da carência de disponibilidade de “hedge”, decorrente das incertezas quanto ao comportamento do câmbio.
Temos projeções de IED´s e saldo de balança comercial que tendem, em sua somatória, ficar abaixo do déficit em transações correntes, o que nos faz dependentes da melhora do fluxo financeiro.
O governo, como se sabe, vem relutando em reduzir o prazo dos empréstimos de 1 ano para algo como 90 dias para que ocorra a incidência do IOF de 6%, bem como para que ocorra um fluxo mais intenso de recursos externos de curto prazo.
Tudo indica que seja levado pelas circunstâncias a relaxar, ainda que parcialmente, as barreiras tributárias presentes ao fluxo de recursos externos.
Um contexto com pressão inflacionária, onde fez a opção de utilização da SELIC, com fluxo cambial não sustentável, agregado a pressões sobre o superávit primário, com desonerações que vêm sendo concedidas, sem uma política de longo prazo que é fundamental para definições de investimentos, tornam o ambiente de uma enorme complexidade.
Até onde vai a SELIC para que alcance o objetivo? Até onde chegará o preço do dólar num ambiente adverso de ingressos? Como ficará a política fiscal do governo e seus gastos?
Por ora, a perspectiva de que as captações externas anunciadas sejam consolidadas com os ingressos dos recursos e a ocorrência de IPO´s sustenta a expectativa de que haverá melhora do fluxo cambial, o que atenua pressão altista do preço que se manterá no entorno de R$ 2,00, mas não se pode vislumbrar com esta tranquilidade a perspectiva que resta, que poderá passar a exercer pressão de alta após o momento pontual.
E, o pior é que quando se observa o cenário externo o que se constata não é tranquilizador. O BCE reduziu a taxa de juro para 0,50% focando estimular as economias da região; o Japão está desenvolvendo substantivo programa gerando liquidez; o FED americano demonstrou pouco otimismo reconhecendo que a economia americana dá sinais de fraca recuperação; e, para piorar a indústria chinesa dá sinais de perda de folego em abril, com o PMI indicando 50,6 pontos ante expectativa de 51,0 pontos, refletindo queda das encomendas de exportações, sinal de fragilização da economia global.
Otimismo é bom, mas neste momento há com que se preocupar e não sugere otimismo!