O estresse do mercado de câmbio é tamanho, que o anúncio de reunião entre o Ministro Mantega e a Presidenta Dilma impactou mais na formação do preço do dólar do que, efetivamente, as ofertas de “swaps cambiais” feitas pelo BC

Os protagonistas do mercado de câmbio sabem que é absolutamente necessário que o BC e o MF adotem medidas focadas no mercado de câmbio, e a expectativa é que promova  desintervenção absoluta, retirando o IOF de 1% incidente sobre o mercado de derivativos, para que este tenha tração própria e incremente a liquidez, e, reduza a incidência do tributo de 6% sobre empréstimos para o prazo de 90 dias.

Há sinais de que o BC poderia elevar os limites de posições vendidas dos bancos no mercado à vista, mas esta medida tende, no nosso entendimento, a ter baixa repercussão, visto que o momento é adverso para as linhas externas que estão se contraindo e encarecendo, além das perspectivas de fluxos de recursos para o país no curto prazo são temerosas. As incertezas presentes conspiram sobre a possibilidade de sucesso por esta opção.

Por isso ontem, ficou muito evidente que a alta é insegura nos parâmetros atuais, fundamentada nas perspectivas de que o fluxo de recursos para o país possa ser insuficiente, e com uma série de justificativas adicionais procedentes e até improcedentes.

O anúncio de que haveria uma reunião entre o Ministro Mantega e a Presidenta Dilma, teve impacto mais relevante na formação do preço do dólar, sustentando-o em baixa, do que as ofertas de “swaps cambiais” pelo BC ao longo do dia.

O preço da moeda cedeu pela expectativa de que poderiam surgir novas medidas em torno do mercado de câmbio, e, qualquer que seja das possíveis neste momento, o viés do preço da moeda americana tenderá a queda, por isso cedeu e não retomou a tendência de alta.

E, como nada foi anunciado, continuará convivendo com esta expectativa, pelo menos até sexta-feira, quando a Presidenta Dilma segundo informações da imprensa, anunciará pacote de medidas fiscais, e, isto poderá “segurar” a expansão da taxa cambial.

Até lá deverá ser atenuada a pressão de busca por “hedge” por parte das empresas com passivos expostos, e, que pela baixa liquidez no mercado futuro acaba pressionando a formação do preço da moeda estrangeira, também, no mercado à vista.

Cabe ao BC e ao MF agirem não com medidas paliativas e repetitivas, mas focando solução de mercado para o quadro atual, pois é absolutamente desnecessário deixar propagar de um ambiente administrável para um ambiente de pânico, até porque, em última instância, o país tem reservas cambiais.

É bem verdade, como salienta Cristiano Romero em sua coluna no jornal Valor, que o nervosismo do mercado nos últimos dias, com reflexos nos segmentos de juros, câmbio e ações, mostra que chegou ao fim, pelo menos para os países emergentes, a era do experimentalismo em matéria de política econômica.

Começa a se fechar a janela de oportunidade, propiciada pelo excesso de liquidez no mundo, para realização de reformas estruturais.

Destaca, ainda, pontualmente que “o Brasil está saindo do ciclo internacional de liquidez com inflação mais alta, crescimento menor, baixa taxa de investimento, déficit externo crescente, deterioração das contas públicas e credibilidade abalada”.

Claramente, o país viveu a euforia do modelo “acesso ao consumo das classes baixas atreladas à oferta forte de crédito” para um “soluço de crescimento”, e deixou de aproveitar para construir-se de forma sustentável, e agora, corre o sério risco do retrocesso, pois está sem tração para crescer, pois ficou preponderantemente a “conta a resgatar” dos desequilíbrios e desgastes, e que não é pequena.

Mas, inegavelmente, houve tempo suficiente para a percepção de que o quadro poderia tornar-se adverso, e não agimos previdentemente, pois de há muito os investidores estrangeiros passaram a nos observar mais pelas fragilidades do que pelos atributos.

Agora, com o cenário global convivendo até de forma exacerbada e com grande conteúdo especulativo no entorno, há perspectiva de retração da liquidez internacional pela reversão do programa americano de estimulo a sua economia, que envolveu US$ 3,4 Tri, e compreende compras mensais de ativos da ordem de US$ 85,0 Bi, face à melhora da economia americana, os países emergentes tendem a enfrentar um período de “ressaca” de fluxos externos e neste refluxo podem perder muito do que supostamente haviam construído sem os devidos alicerces.

As recentes críticas internacionais e a atitude da agência de rating Standard & Poors determinando um rebaixamento primário conceitual de estável para negativo, e colocando a possibilidade de um rebaixamento da nota brasileira, acenderam a “luz vermelha”, pois se perdermos o conceito de “investment grade” poderemos ter uma saída obrigatória de recursos externos do país, ai sim, de grandes proporções.

Ao longo dos últimos meses vimos destacando que o governo estava frente ao “dilema de Sofia” e que precisaria escolher qual era a prioridade, visto que “estimular o crescimento e implantar medidas de contenção de inflação” ao mesmo tempo tende a resultar em insucesso de ambos.

O próprio BC em sua ata deixou evidente que a política fiscal era expansionista. E, naturalmente, isto impacta na obtenção limpa do superávit primário, e, tem grande potencial inflacionário.

Por outro lado, as sinalizações do déficit em transações correntes em forte tendência de elevação, num ambiente de queda acentuada de fluxos de recursos, já se evidenciavam nos primeiros meses do ano, e, o BC/MF mantiveram as amarras impeditivas ao ingresso de capitais estrangeiros ainda numa fase favorável para o país.

Quando o fizeram recentemente, com a retirada do IOF de 6% sobre os ingressos para renda fixa, deixaram de desonerar também o mercado de derivativos no qual incide o IOF de 1% criando uma assimetria, confiantes de que iria ingressar capital de longo prazo e que facilitaria a colocação dos papéis públicos.

Já era tarde para esta perspectiva, o ponto de atração do país neste momento é o juro crescente. Depois de retomada a sequência de altas da Selic para conter a inflação e o capital externo, que ainda pode ser atraído, terá predominância do especulativo, mas que só virá se for revertida a taxação no mercado de derivativos.

A questão é que com a retomada do dinamismo do mercado de derivativos a taxa cambial deve tender à apreciação do real, e a liquidez pelo acentuado volume de giro deste mercado, promoverá a oportunidade de “hedge” para as empresas que tem exposição em moeda estrangeira sem proteção.

É sumamente importante que o anúncio das medidas fiscais e outras eventuais na próxima sexta-feira, seja feita diretamente pela Presidenta Dilma com todo rigor, e clareza, para que fique claramente demonstrado o compromisso com a austeridade fiscal, a ponto de provocar credibilidade e  repercussões efetivas.

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