O governo – BC e MF – precisa atuar para mudar as perspectivas que cercam o mercado de câmbio e os seus fluxos de ingressos prognosticados como cadentes, que poderão se tornar insuficientes para financiar o expressivo déficit em transações correntes com acentuado viés de crescimento sustentável.
Precisamos aumentar a convicção de que dólares ingressarão no nosso mercado para suprir esta carência, que por si é um dos vetores de forte impacto altista na formação do preço da moeda americana, além de outros aspectos presentes no contexto de deterioração dos fundamentos da economia brasileira, em especial a política físcal, severamente observada pelo mercado internacional, e que só faz acentuar a perda de atratividade por parte do país, fato que só se agrava, visto não ser novo.
Não se pode menosprezar a decisão da agência de “rating” S&P alterando de neutra para negativa a perspectiva da nota do Brasil, deixando no horizonte a possibilidade de uma reclassificação que pode provocar forte retirada obrigatória de recursos de investidores, principalmente grandes fundos, por questões normativas. Este ato da agência já provoca reflexos com a alta do conceito de risco do índice do JPMorgan, bem como os CDS (credit default swap) acentuaram o risco brasileiro.
“Swap cambial” não é dólar, mas sim, instrumento financeiro indexado à variação cambial e do juro, serve como proteção contra as variações, mas não paga conta no exterior. Sua liquidação é puramente financeira por diferença. A oferta deste instrumento dada as circunstâncias atuais não provoca apreciação do real dada às circunstâncias, portanto, não é o adequado.
O que paga a conta é o dólar efetivo, na forma de moeda, e é deste que o país precisa aumentar a perspectiva de melhora dos fluxos de ingressos, para atenuar as pressões altistas.
Por isso, é que o mercado por seus “players” não demonstra grande voracidade quando o BC realiza os leilões de “swaps cambiais”, o que fica evidente pela não colocação do todo ofertado, e, a queda pontual que ocorre no momento dos leilões é movimento do próprio mercado só para otimizar as operações, sendo que depois, a alta do preço é retomada.
Foi assim ontem, quando o BC colocou “swaps cambiais” em torno de US$ 2,1 Bi.
Há todo um ambiente negativo em torno do Brasil no mercado internacional, onde são destacadas todas as nossas fragilidades e, pouco ou quase nada das virtudes que eram propagadas num passado recente. O país está sob intensa observação crítica.
É muito improvável que o governo consiga atrair investidores de longo prazo e recursos externos “de qualidade” neste momento, por isso deve adequar-se para receber capitais especulativos como fluxo de curto prazo, retirando a tributação de IOF de 1% incidente sobre os posicionamentos e variações no mercado de derivativos, em linha simétrica com a decisão adotada de retirar o IOF de 6% sobre os ingressos de recursos externos direcionados à aplicação em renda fixa.
As operações no mercado de derivativos não são geradoras de fluxos, mas viabilizam o ingresso de recursos externos fazendo a contra face no mercado futuro das operações de ingressos de dólares efetivos no mercado à vista, e intensificam a liquidez.
Sem esta operacionalidade restabelecida ocorre a retração dos ingressos, mesmo os de caráter especulativos, que no nosso modo de entender é o que sobrou com probabilidade imediata de se interessar pela rentabilidade do país, em especial agora com a alta da taxa Selic e a tendência de que poderá ser mais elevada, em pelo menos mais 1%.
É bem verdade que, com o mercado de derivativos operativo, a autoridade monetária perde parte da capacidade plena de monitoramento da formação do preço da moeda americana, e o receio é que ocorra muita volatilidade, mas o fato é que a volatilidade já está presente e as ações do BC com leilões não têm conseguido coibir. Mas a realidade é que as circunstâncias atuais motivam esta ousadia por parte das autoridades monetárias.
Estabelecer uma “queda de braço” com o mercado ao não desonerar o mercado de derivativos, não é postura conveniente para o momento, até porque é bastante adverso para o país, e a reação que se espera é benigna na forma de apreciação do real, o que preservará a efetividade da taxa Selic como instrumento de contenção inflacionária, que no momento está sob intenso risco de não ser validada pelo preço elevado da moeda americana.
É preciso que o governo adote medidas que provoquem a mudança de expectativas para os fluxos de ingressos. A desintervenção com a reversão da incidência do IOF de 6% nos ingressos direcionados à renda fixa, foi uma atitude correta, embora bastante tardia, mas após uma melhora de expectativa ficou claro que os capitais de longo prazo não estão tendentes a buscar rentabilidade no Brasil, e o humor retomou o seu lado negativo, em linha com o predominante no exterior em relação ao país.
Então, de imediato, o governo deveria ter agido no mercado de derivativos com o mesmo vigor, evitando o cenário que ocorre no momento em que não consegue reverter a pressão altista, grande parte ocorrendo “no vazio”, o que sinaliza pressão do mercado de câmbio, por seus “players”, por medidas complementares de desintervenção, agora no mercado de derivativos.
Não é convincente o posicionamento do governo buscando passar a impressão de que o dólar terá o preço que o mercado formar. Isto não ocorre desde 1999, quando o mercado passou a ser considerado “flutuante”, sem nunca ter deixado de ser “administrado”. E o momento com inflação aquecida e perturbadora não valida que esta possa ser a postura do governo, que vem desconstruindo a sua grande conquista de ter reduzido o juro no país no afã de conter a inflação.
Enganam-se os que imaginam que o dólar neste patamar leve a recuperação da competitividade da indústria nacional e das exportações. Atualmente, a participação dos insumos importados na produção da indústria brasileira é extremamente elevada e esta fatia sofre todo o impacto da alta do dólar onerando o preço final do produto.
Ademais, a indústria nacional precisa de um preço de dólar estável e sustentável para que possa formar seus preços e, então, focar o mercado externo para reconquistar espaços perdidos num cenário em que se intensificou substantivamente a concorrência, visto que com a crise internacional a grande maioria dos países focou compensar a queda de demanda interna com a demanda externa. E isto demanda tempo e muito esforço.
O governo não deve “piscar” neste ambiente conturbado, pois corre o risco de alimentar o espiral inflacionário e ver o crescimento perdurar nanico.