Baixa consideração a indicativos consistentes, decisões tardias e assimétricas, contradições declaratórias, provocaram a antecipação para o curto prazo de ambiente no câmbio que é preocupante na perspectiva de médio prazo.

O câmbio é o sensor magno da economia, e evidencia, rapidamente, quando algo ocorre positivo ou negativo no curto prazo ou gradativamente quando focado na tendência em perspectiva.

Por isso, cabe às autoridades monetárias a sintonia fina perceptiva da realidade no entorno dos fatores que influenciam a formação do seu preço.

E, parece que neste ponto começaram os problemas no nosso mercado de câmbio.

Perspectivas consistentes vêm de há muito apontando para perspectivas de queda dos fluxos de recursos para o país, visto que o mundo financeiro global sinalizou que passara a observar o Brasil mais acentuadamente por suas fragilidades e menos por suas atribuídas virtudes.

Crescimento baixo, inflação ascendente, “dribles” na política fiscal para fechar o superávit primário face aos gastos excessivos, baixo nível de investimentos, esgotamento do modelo adotado para crescimento, mostravam um país com baixa tração para o crescimento e com menores atrativos aos investidores. Além destes pontos, o país impôs-se severa redução do juro, e com isto, perdeu a atratividade dos capitais especulativos.

O país que num dado momento acreditou-se foco de “tsunamis monetários” e que em razão disto blindou-se com uma série de barreiras tributárias ao ingresso dos recursos externos, não reagiu a este cenário adverso e, não retirou prudentemente as barreiras para corrigir a tendência de fluxos menores.

Aparentemente, menosprezou estes sinais, ao considerar-se ainda atrativo e interessante ao capital externo.

E houve muita relutância para que ocorresse a primeira desintervenção efetiva, não por prazo, mas por desoneração. Retirou o tributo do IOF de 6% dos recursos externos direcionados às aplicações em renda fixa, e, certamente aqui, houve novo equívoco de avaliação, pois focava captar recursos de longo prazo e com isto impactar de forma redutora nas taxas de juros.

A medida deixou evidente uma assimetria visto que não desonerava também em linha o IOF incidente sobre os derivativos, com o que o BC preservava para si o monitoramento da formação do preço da moeda americana, já que não viabilizava a formação de liquidez própria pelo mercado no mercado futuro, preferindo ser o autor da oferta da liquidez, via leilões de “swaps cambiais”.

Em curto espaço de tempo esta assimetria mostrou suas consequências. Ficou evidente que o país já não catalisava o interesse de capitais externos de qualidade, havendo, contudo, espaço para atrair capitais especulativos, face à concomitância da elevação da taxa de juro Selic e a sua tendência de alta de pelo menos mais 1%.

Mas, capitais voláteis precisam de liquidez no mercado futuro onde se protegem e arbitram taxas dos ativos financeiros.

O mercado por seus “players” principais passou a pressionar o governo para a retirada do IOF de 1% incidente no mercado de derivativos, o governo mostrou-se resistente, então esta pressão veio via pressão de apreciação do preço da moeda estrangeira no nosso mercado.

Como o mercado global detonou uma série de críticas ao Brasil, havendo até sinalização de rebaixamento da nota por parte da agência de rating Standard & Poors, as atenções para a s nossas fragilidades foram acentuadas internamente, já que olhávamos muito para fora.

Por outro lado, estando em pleno desenvolvimento um movimento no mercado internacional, com grande conteúdo especulativo, alavancado pela expectativa de que os Estados Unidos venham a dar início à redução do seu programa de incentivo à retomada da atividade econômica, o que sugere menor liquidez e encarecimento do custo dos recursos, que na ponta desagua em valorização do dólar, procurou-se atribuir a este fator a alta do preço da moeda americana no nosso mercado.

O Copom havia realizado forte elevação na taxa Selic com uma retórica bastante agravada em termos de enfrentamento da pressão inflacionária. Este fato era absolutamente incompatível com uma taxa de dólar aviltada no nosso mercado de câmbio.

Então, ocorreram declarações de inúmeras autoridades brasileiras falando que o câmbio é “flutuante”, “flexível”, etc., tratando com um certo descaso a alta do preço, que claramente confrontava com os objetivos da alta da taxa Selic e o teor dos fundamentos apresentados para tanto.

Era o contraditório presente.

Na realidade o fluxo cambial no mês de maio e 1ª semana de junho apresentaram uma melhora pontual suprindo a necessidade de curto prazo, deixando os bancos “comprados” no mercado à vista em torno de US$ 7,0 Bi. O problema do Brasil continua sendo a perspectiva de que ao longo do ano não receba fluxos externos suficientes para financiar o crescente déficit em transações correntes, exigindo o uso das reservas cambiais.

Mas o movimento de pressão sobre o governo imposto pelo mercado continuava pela retirada do IOF de 1% sobre os derivativos e isto inflava, em princípio, “no vazio” a taxa cambial.

A alta repercutiu no mercado e contaminou a economia, então as empresas com passivos expostos em moeda estrangeira precipitaram movimento de demanda por “hedge” e com isto passaram a exercer pressão sobre a taxa cambial no mercado futuro, e, deu no que todos presenciaram, taxa exacerbada e atuação do BC ofertando “swaps cambiais” sem obter sucesso.

Detalhe relevante. Os bancos estavam “vendidos” no mercado de dólar futuro no dia 3 de junho em US$ 3,5 Bi, e a despeito de toda oferta e colocação realizada pelo BC no período de “swaps cambiais”, no dia 11 haviam aumentado esta posição vendida para US$ 5,8 Bi. Os bancos, portanto, num ambiente de forte alta, aumentaram suas posições vendidas no mercado futuro em uma semana em US$ 2,3 Bi afora o que possam ter adquirido do BC.

Neste ponto estava um dos fatores para acentuar da alta. Empresas, com passivos em moeda estrangeira em busca de “hedge” e o mercado com baixa liquidez, sendo atendidas em suas demandas pelos bancos, e, como consequência, a alta do preço dólar se tornou consistente.

Os bancos, tanto como nós que expressávamos esta necessidade como inevitável, tinham a convicção de que o governo seria levado a desonerar os derivativos do IOF de 1%, para que o mercado passasse a ser o agente da liquidez no mercado futuro, por isso atenderam a demanda das empresas aumentando suas posições vendidas no mercado futuro de dólar num cenário de alta do preço.

Vamos ter o ajuste na taxa cambial com apreciação do real e volatilidade, pois haverá disputa de interesses entre comprados e vendidos no mercado futuro.

Certamente, a medida contribui para que ocorram ingressos de recursos externos, com predominância de cunho especulativo, melhorando o fluxo cambial.

Contudo, a perspectiva das contas externas brasileiras continuará preocupante, o que pode determinar uma alta do preço da moeda americana mais gradual ao longo do ano.

O governo, após os contraditórios cometidos, esforça-se agora em demonstrar comprometimento efetivo com o combate à inflação e, a Presidente Dilma deverá anunciar medidas de aperto fiscal, visando atenuar as criticas à politica expansionista que alavanca a inflação.

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