O dólar está em alta desde a semana passada e, agora atribuímos o fato à pequena Chipre, preservando o nosso hábito de buscar as causas nas razões externas e não nas internas

A pequenina ilha de Chipre com seus 1,2 milhões de …

A pequenina ilha de Chipre com seus 1,2 milhões de habitantes e US$ 22,0 B de PIB sofreu uma agressão que quebrou regras na calada da noite e, que coloca em real perspectiva que o mesmo possa ocorrer com os demais países periféricos da zona do euro.

Assim, pequena, Chipre integra a zona do euro e é uma espécie de zona livre para os depósitos de milionários estrangeiros, com predominância dos russos, que conquistaram fortunas na ilegalidade. Esta é a sua importância, e mesmo com esta característica Chipre quebrou e recorreu aos órgãos financiadores da zona do euro pedindo algo como US$ 8,0 a US$ 10,0 Bi, mas para lograr êxito teve a determinação de proceder ao confisco sobre os depósitos bancários, acima de 20.000 euros, em percentuais elevados aplicados de forma diferenciada de acordo com montantes depositados por cada correntista, para obter quantia complementar às suas necessidades.

Pode? Ora, se pode passou a ser um risco para Grécia, Portugal, Espanha, etc. e assim a grande maioria dos países integrantes da zona do euro ficaram expostos a serem submetidos ao mesmo tratamento.

Portanto, um novo risco está presente na zona do euro, o que pode estimular as populações dos países em dificuldades a retomarem o hábito de reter moeda em espécie em seu poder, toda vez que o ambiente deste ou daquele país se mostrar fragilizada. Corridas a bancos não deverão ser incomuns com esta nova prática introduzida pelas autoridades e outros órgãos financiadores da crise da zona do euro.

Mas, enfim, foi uma medida de austeridade absolutamente desnecessária, pois a questão principal não se restringe à pequena Chipre, que se fosse mantida quebrada não alteraria nada no contexto econômico global, mas sim ao fato de ter criado um novo e agravante risco para os depositantes de recursos em bancos estabelecidos em economias que estão em crise.

Mas, daí atribuir-se ao fato a alta do preço do dólar no nosso mercado local, fato que já vem ocorrendo desde semana passada, sob o argumento que na incerteza optaram pelo dólar como garantia o que exerceu pressão, etc.

Afinal, o nosso mercado de câmbio dito livre não é tão livre e não se pode comprar dólares à vontade, salvo se tiver lastro no mercado à vista, sendo possível, contudo, comprar-se no mercado futuro, onde não há entrega física e sim liquidação financeira, mas que também atualmente  não tem liquidez suficiente para atender grandes demandas.

Assim, desviamos mais uma vez a atenção para o exterior, buscando localizar lá as razões da falta de liquidez que vem se acentuando no nosso mercado local, quando elas estão aqui mesmo e pouco tem a ver com o contexto externo, salvo pela razão dos recursos externos não estarem fluindo de lá para cá como seria desejável e necessário.

Outra alegação é que o mercado conteve a alta para evitar a presença do BC. Não faz sentido, pois se a liquidez está baixa, a presença da autoridade monetária se faz necessária se não desejar que continue a dinâmica de valorização da moeda americana.

Enfim, o dólar vem se valorizando no Brasil devido ao nível de oferta da moeda no mercado à vista ser cadente e as perspectivas não serem animadoras, pois na medida em que se vislumbram os dólares das safras agrícolas, se vê o fluxo de investimentos com viés pouco favorável.

A visão deve ser prospectiva no contexto cambial e focarem-se esforços para recuperar o fluxo favorável, que será missão altamente desafiadora, ao invés de ficar quantificando os desempenhos retrospectivos deste ou daquele fluxo para o país, que provavelmente não se repetirá neste momento da mesma forma e intensidade, pois o mundo global mudou a forma de nos observar e isto impactou na nossa atratividade.

O preço da moeda americana está subindo porque a liquidez no nosso mercado à vista está ficando apertada e, se o BC não atuar assim continuará se valorizando. A necessidade é efetiva de moeda disponível, contudo o BC vem estimulando que os bancos utilizem suas linhas externas junto aos banqueiros, evitando assim que seja levado à necessidade de ofertar leilões de divisas efetivas, e na contra-ponta poderá ofertar “swaps cambiais”, proporcionando a realização de “hedge” pelos os bancos.

Mas este é um quadro que tende a ter uma reversão se for se consolidando a perspectiva de que teremos fluxo cambial muito apertado este ano ou mesmo negativo, por isso é bastante provável que os bancos passem a requisitar leilões diretos do BC de moeda disponível e não “swaps cambiais”, por não desejarem expandir mais suas exposições em moeda americana.

Vamos aguardar, nos parece que já não estamos tão distantes deste quadro ainda mais apertado no mercado à vista.

 

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