O câmbio expressa em seu preço a síntese do contexto geral, em que os sinais dos indicadores relevantes, que já eram amarelos, começam a mudar para vermelhos

Déficit em transações correntes mantendo forte tendência de alta, mitigada em junho por repatriação atípica de quase US$ 5,0 Bi, mas que deve ficar no fechamento do ano no entorno de US$ 80,0 Bi, num contexto de fluxo cambial líquido negativo, sugerindo que os recursos líquidos captados pelo país serão insuficientes para o financiamento.

 Ao final, o BC poderá ter que lançar mão das reservas cambiais para atender a demanda do mercado de câmbio à vista para fazer face à este desequilíbrio.

Superávit primário do 1º semestre cadente 21% frente a 2012, num ambiente em que o governo arrecada cada vez mais, por contraditório que possa parecer, deixando evidente que a política fiscal é expansionista. Resultado do superávit fiscal nos últimos 12 meses atinge a marca de 2,0%, sugerindo que possa fechar o ano abaixo deste parâmetro, ante uma meta inicial de 3,1% já reduzida para 2,3% em razão de compensações de desonerações e investimentos.

 Nesta linha a dívida de governo passa a ser observada com maior rigor e vai ser objeto de severas críticas, enquanto a dívida pública será onerada, não se descartando quem comece a questioná-la quanto a desconfortos. Estimativas do mercado já sugerem que o superávit primário, sem mágicas, ficará em torno de 1,7%.

Exportamos de menos e importamos de mais, o que leva a nossa balança comercial a ter tendência a sancionar fechamento do ano com saldo deficitário. 

Passamos pelo “boom” das commodities, nos fizemos dependentes da economia chinesa, nos transformando em exportadores “coloniais” e não desenvolvemos uma indústria pujante e competitiva, já que foi subjugada pelo entusiasmo das exportações agrícolas e metálicas.

A complementação da oferta insuficiente é consolidada com importações crescentes, além do efeito substituição decorrente do fator preço.

Hoje o “boom” das commodities é passado, a China vai mais devagar e cercada de pontos questionáveis, e nos faz falta a indústria capaz e competitiva.

Os insumos e produtos acabados importados já ocupam 25% do mercado consumidor brasileiro, assim, quando o dólar sobe injeta inflação na economia.

Enfim, o Brasil promissor e já do futuro foi perdendo seus predicados maiores porque estavam forjados em  realidade insustentável. Tínhamos os “pés de barro” e estamos descobrindo isto agora de uma forma, até certo, ponto traumática.

O modelo que desenvolvemos para crescer foi de oportunidade, não induzido com investimentos, mas valendo-se do “status” ocioso da nossa indústria e da existência de demanda reprimida por parte da nossa população, que nunca havia tido acesso ao crédito e ao consumo mais efetivo.

O que resta é a evidência de que este modelo era finito, restaram contas a pagar, rolagem de dívidas para atenuar a inadimplência imediata, e agora, já há alguns sinais de inadimplência nas rolagens resultantes.

Foi-se embora nossa atratividade perante investidores estrangeiros por razões sobejamente conhecidas e por nós inúmeras vezes repetidas, mas nos apercebemos disto tardiamente.

Tendo desaparecido a atratividade por parte dos investidores estrangeiros, seja para o setor produtivo, seja para aplicadores em renda fixa e/ou variável, falta fluxo cambial suficiente para o país.

A queda no fluxo de recursos externos é consequência de uma causa representada por uma enormidade de indicadores ruins e senões do próprio Brasil, mas isto é de difícil reconhecimento, por isso, é mais fácil atribuir a causas externas e a elas debitar as consequências.

O FED americano vai resolver se reduz, continua, posterga, etc. a respeito do seu programa de incentivo monetário, mas o Brasil continuará com as suas mazelas e precisará corrigi-las por si mesmo, pois nada será diferente se o governo não fizer pelo país o que ele  está precisando efetivamente.

A questão em torno do FED está servindo de “cortina de fumaça” para desviar as atenções quanto aos problemas tipicamente “made in Brazil”.

Hoje ocorre a reunião do FOMC americano e isto deve provocar volatilidade nos mercados internacionais, e, no Brasil, também, já que o especulador é elemento presente em todos os mercados globais.

Hoje está evidente que o governo superlativou a capacidade de atração de recursos externos para o país, errou ao criar barreiras excessivas e errou novamente ao não ter percebido de que o país já não despertava atração dos investidores externos e já havia sinais de enfraquecimento de fluxos de recursos.

Procurou corrigir o erro desmontando as barreiras normativas e tributárias, mas o fez tardiamente quando o interesse dos capitais externos já tinha o Brasil fora do radar.

O BC tem tentado de toda forma estimular fluxos de recursos externos para o país, buscando assim, evitar de ter que realizar leilão de venda à vista no mercado de câmbio, que seria uma sinalização forte de fragilização dos fluxos e poderia motivar movimento especulativo sobre o real.

Como já dissemos, liberou as posições vendidas dos bancos no mercado à vista das barreiras normativas, visando que passem a ser os geradores de liquidez neste segmento em lugar do BC, mas o fato é que o cenário prospectivo de fluxo de recursos é tão inseguro que para assumirem posições vendidas no mercado à vista precisarão fazer “hedge” no mercado futuro, o que pressiona a taxa do dólar colocando-a em alta.

Liberou e desonerou então a captação de recursos externos no exterior pelas filiais e coligadas dos bancos nacionais, buscando estimular esta ação pelos bancos que canalizariam estes recursos para o mercado de câmbio, otimizando o fluxo cambial gerando liquidez, com direcionamento para aplicação em arbitragens no nosso mercado. Ocorre que as taxas de juro em dólar geradas pelo mercado de cupom cambial não estão atraentes, e, da mesma forma com o mercado futuro com liquidez também escassa se buscassem proteger estes ingressos pressionariam a taxa cambial para cima.

Enfim, há um “corner” de difícil superação no mercado de câmbio, motivado pela escassez de fluxo líquido, que encontra nas estratégias visando melhorar o ambiente adverso agravado pelas incertezas sobre fluxos futuros.

E assim, após inúmeros sinais vermelhos, o dólar também está com o sinal vermelho sinalizando perigo, visto que, como já salientado pelo BC, uma desvalorização de 20% representa 1% na inflação, e metade do caminho já foi percorrido.

É preciso entender que quando falta divisa efetiva no mercado à vista, os efeitos dos instrumentos financeiros “swaps cambiais” perdem eficácia, pois protegem mas não pagam as contas em moedas estrangeiras.

Hoje é dia do Ptax de final de mês, achamos que pode chegar a R$ 2,30!

 

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