Preço do dólar pode atingir R$2,30 na virada do mês, com perspectivas de piora até o final do ano, salvo se as taxas do cupom cambial vierem a estimular as captações externas dos bancos por suas filiais para arbitragem localmente

Há um variado “mix” composto por inúmeros fatores, que impulsionam o preço da moeda americana no mercado de câmbio brasileiro.

Incertezas no plano doméstico, advindas fundamentalmente de fatores internos, têm peso consideravelmente maior do que os oriundos do exterior, embora, o governo tente sempre “exportar” as culpas para o setor externo, e, boa parte dos analistas ainda continue dando enorme peso às decisões do FED americano em torno do desarme do seu programa de incentivo monetário.

O processo que fundamenta a alta do preço da moeda americana no nosso mercado de câmbio é basicamente a questão do fluxo cambial insuficiente, primeiro princípio básico do mercado de câmbio flutuante!

A partir desta consequência, há inúmeros fatores causais deste quadro de insuficiência de ingresso de recursos externos líquidos no país, cada um com o seu peso e com suas origens conhecidas.

O Brasil cometeu inúmeros erros de avaliação prospectiva quanto à sua atração por fundos estrangeiros, baseando-se em cenários passados sem colocar em questão as modificações para pior que o país vinha apresentando e que provocavam a deterioração de sua política econômica, insistentemente repetitiva para um cenário absolutamente mutante em relação à nova realidade.

O país que cresceu sem realizar enormes investimentos, mas valendo-se da capacidade ociosa instalada na indústria, acionou a liberação extraordinária de crédito a parcela da população que nunca havia tido acesso a esta facilidade e, com isto, turbinou sem grande esforço a demanda e a economia reagiu com o crescimento, porém, sem alicerces que o tornassem duradouro.

Além disto, conviveu e usufruiu do “boom” das commodities estimulado pela extraordinária demanda da China, que provocou a triplicação dos preços das nossas exportações neste segmento, provocando certo descaso com a indústria, que após ver exaurida a capacidade produtiva não reagiu com investimentos, sendo que a demanda suplementar passou a ser atendida pelos insumos e produtos acabados importados.

O país cresceu, mas não realizou os investimentos imprescindíveis para mitigar o “custo Brasil” representado por enormes deficiências de infraestrutura, que perduram até os dias presentes.

O governo acentuou os gastos de má qualidade e fortaleceu os planos sociais transferindo renda para a população de menor renda, viabilizando o acesso da mesma ao consumo.

Num ambiente em que a demanda se fez maior do que a oferta a resultante foi e continua sendo a entronização da inflação.

Com o modelo utilizado de estímulo ao consumo, via concessão de crédito praticamente exaurido, acabou a capacidade de alavancagem do crescimento. O país então passou a “patinar” e sem “tração” passou a revelar crescimento pífio, já que não houve preocupação com os investimentos.

Com a demanda acima da oferta e gastos de governo, baseados em orçamentos inflados na sua origem por projeções exacerbadas de crescimento econômico, surgiram às pressões inflacionárias distanciando-se, em demasia, do centro da meta e ameaçando romper o teto da mesma, ao mesmo tempo em que devido aos gastos do governo à larga a política fiscal ficou totalmente descontrolada e submetida a ajustes atípicos para que o superávit primário fosse alcançado.

Deste cenário ambíguo, em que a inflação precisa ser combatida e a economia estimulada para o crescimento, algo praticamente inatingível, ocorreu à elaboração de política econômica absolutamente confusa e indefinida.

O quadro só não é pior porque a geração de emprego, de forma quase inexplicável, ainda foi mantida pela economia, mas agora já dá sinais claros de perda de dinamismo.

Deste contexto que transformou o país “cheio de virtudes” para o país “problemático”, surgiu a perda de atratividade externa para fluir recursos em volume suficiente para gerar liquidez ao giro do nosso mercado de câmbio, ainda mais quando o país também passou a ter acentuado volume de saída de recursos externos, causando a elevação abrupta do déficit em transações correntes.

Então, quando se fala em redução ou fim do programa americano de incentivo monetário é preciso observar que o Brasil não foi efetivamente beneficiário dos “tsunamis monetários” que tanto foi destacado e nem vitima de “guerra cambial”.

Adicionalmente, a balança comercial que já não conta com o “boom” das commodities de outrora, visto que a China perde dinamismo de atividade e as economias desenvolvidas ainda se recuperam lentamente, e tendo uma indústria sem competitividade, e suporta agora crescente volume de produtos importados, dá sinais de exaustão é já é prognosticada como geradora de presumível déficit este ano.

O governo, que havia blindado o país com medidas normativas e tributárias vislumbrando-se atrativo em demasia ao capital especulativo estrangeiros, agiu tardiamente para liberar estes canais quando já eram evidentes os sinais de que a “ressaca” seria iminente. Quando o fez, até mesmo o capital especulativo no mundo global já estava seletivo e não mostrou vigor para se direcionar ao país em volumes consideráveis.

Com a percepção do mercado e das empresas com posições expostas em moedas estrangeiras acentuou-se a pressão em busca de proteção (hedge) e isto pressionou o preço do dólar a partir do mercado futuro, contaminando o mercado à vista.

O BC desde então atua ofertando “swaps cambiais”, já estando passivo em US$ 30,0 Bi, para atender a demanda do mercado e conter a alta do preço da moeda americana.

Liberou as posições vendidas dos bancos, sobre as quais havia estabelecido limitações de exposição, com o objetivo de estimular que os mesmos fossem os geradores de liquidez quando necessário, evitando assim, que a autoridade monetária, o BC, tenha que fazer leilões de moeda estrangeira efetiva.

Esta percepção do BC era o prenúncio de que sabia que a pressão poderia passar a ser também do mercado à vista e não somente do mercado futuro, ou seja, haveria necessidade de suprir o mercado com dólares efetivos e não somente com instrumentos financeiros para proteção.            

Há dúvida se os bancos assim agirão, visto que o cenário prospectivo é adverso em termos de fluxos para o país e, assim, necessariamente, deverão fazer “Hedge” de suas exposições e isto provocará pressão sobre o mercado de derivativos impulsionando a alta do preço da moeda americana.

Liberou então a captação de recursos externos pelas filiais e coligadas dos bancos nacionais no exterior, eliminando da formula o fator de capital oneroso, com o intuito de motivar que os bancos passassem a realizar estas captações ingressando-as no país, melhorando o fluxo cambial, visando arbitragem com ganhos interessantes. Contudo, as taxas de juro dólar oriundas das operações de cupom cambial desde então vem se demonstrando baixas e desinteressantes, o que ainda não permitiu que esta estratégia se tornasse viável.

Enfim, com o contexto de fluxo cambial estreito e com o surgimento de demanda pressionando também o mercado à vista, em face à zeragem das posições compradas dos bancos, a pressão sobre a formação do preço é consistentemente de alta.

Além disto, há posicionamentos especulativos no mercado de derivativos apostando na depreciação do real, que também exercem pressão altista no dólar.

Por último, devemos considerar que o país tem reservas cambiais suficientes para fazer face à demanda, porém, se o BC realizar um leilão de dólares à vista dará uma demonstração de fragilidade deixando evidente a falta de fluxo cambial suficiente, o que pode motivar movimento especulativo sobre o real.

Este contexto amplo e complexo fomenta a perspectiva de alta do preço da moeda americana, não permitindo que se vislumbre, no momento, possibilidade de retrocesso na tendência.

 

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