O BC utilizou o seu instrumento financeiro “swap cambial” em 3 ofertas ao mercado de câmbio para buscar mitigar as pressões altistas sobre o preço da moeda americana, mas não colocou a totalidade de sua oferta, o que demonstra a provável exaustão desta estratégia com estes instrumentos financeiros para proteção (hedge) e o deslocamento da demanda mais acentuada por moeda efetiva, que está com baixíssima liquidez.
As manchetes parecem maiores do que o fato em si, a não ser pelo fato de que desde 2002 a autoridade não realizava 3 ações nesta linha no mercado no mesmo dia. Contudo, é importante destacar, até para confirmar a premissa que colocamos acima, que do montante ofertado de 75.000 contratos, em tranches de 30.000, 30.000 e 15.000, só obteve sucesso integral na oferta inicial, sendo que na segunda só colocou 15.300 e no último não colocou nada.
Ademais, a sensibilização da pressão de alta da moeda americana foi absolutamente discreta como reação a estes leilões.
Ficou evidente que quando a demanda é para “pagar a conta”, ou seja, no mercado de câmbio à vista, o que resolve é a moeda “cash”, ou seja, dólar disponível e não a proteção do preço da moeda dada pelo “swap cambial”.
E este é o “corner” atual no mercado de câmbio brasileiro. Como gerar liquidez de moeda estrangeira efetiva, “cash”, quando os fluxos normais são cadentes?
Os bancos poderão fazê-lo com a adoção de posições vendidas, com as quais gerariam liquidez, mas certamente trabalham com o desconforto da incerteza sobre os fluxos efetivos de moeda estrangeira para o país, o que impõe que protejam (hedge) a exposição destas posições e com isto acabam por exercer demanda no mercado futuro, que impacta em pressão altista sobre moeda estrangeira.
Da mesma forma, desde que a taxa juro em dólar esteja atraente no cupom cambial, as agências de bancos nacionais estabelecidas no exterior poderão realizar captações de recursos e ingressar com as mesmas no país para arbitragem. Contudo, outra vez, as incertezas que cercam as perspectivas para fluxos efetivos de moeda estrangeira para o país as obriga a proteger (hedge) a exposição no mercado futuro e isto exerce pressão altista sobre a moeda estrangeira.
Portanto, as duas “janelas” podem até promover liquidez, mas não atenuam a pressão altista do preço da moeda estrangeira dada a necessidade de proteção (hedge), em face as incertezas.
Este quadro é bastante desconfortável para o BC. A autoridade monetária empenha-se em não deixar o preço da moeda americana conquistar de forma sustentável o piso de R$ 2,30, pois exerceria pressão já expressiva sobre a inflação e, também, procura encontrar meios que permitam não realizar leilão de dólares à vista, que poderia estimular movimento especulativo sobre o real, exacerbando a valorização do preço da moeda americana.
Não há saída fácil para este quadro atual e nem mesmo se há saída conveniente para o Banco Central do Brasil.
A alternativa possível é o BC massificar os leilões de linha, vendendo dólares efetivos à vista e os recomprando a prazo, com isto gerando liquidez para os bancos e “empurrando” para adiante o problema presente, na expectativa de que o fluxo de recursos para o país venha a apresentar recuperação.
Esta seria a atitude que não atingiria o saldo das reservas cambiais pelo critério de liquidez internacional, opção viável “antes de ter que jogar a toalha”, e realizar leilão efetivo de dólar “spot” ao mercado, e que evitaria também pressões no mercado futuro.
Contudo, a viabilização desta alternativa estaria muito condicionada às condições financeiras oferecidas/aceitas nas operações pela autoridade monetária para motivar os bancos.
Não se nutre expectativa favorável que o país receba fluxos intensos de recursos externos, direcionados as aplicações de renda fixa, mesmo com a elevação da taxa Selic, e, também para renda variável, no curto prazo, o que torna necessária estratégia de suporte de liquidez neste período de “ressaca” até que se tornem possíveis melhoras para a situação atual.
O conjunto de pontos adversos ao país é crescente. Temos baixo crescimento, inflação, taxas de juros em alta, descontroles na política fiscal, enormes problemas de infraestrutura, que agravam o “custo Brasil”; o “boom” das commodities é passado e nosso parceiro comercial maior, a China, está com perda de dinamismo na sua economia.
Por outro lado, há emergentes em condições mais atraentes aos investimentos externos do que o Brasil, além do fato de que os Estados Unidos em recuperação passam a atrair os investimentos externos que se direcionavam aos emergentes.
O fato do FED ter decidido manter os estímulos monetários nos Estados Unidos não otimiza expectativa de que o Brasil poderá ter melhora de fluxos, podendo, no mínimo, sugerir que a saída de recursos do país poderá ocorrer mais lentamente.
Esta decisão do FED sensibilizou mais a taxa cambial do que os leilões de “swaps cambiais”, por ter aliviado a tensão sobre eventuais saídas de recursos do país num quadro de baixa liquidez no mercado à vista.
Mas, é importante observar que os dados recentes da economia americana têm revelado melhora gradativa. Contudo, é crescente a percepção de que o FED deixará para iniciar ações em torno do programa de incentivo monetário ao início de 2014, como um dos últimos atos com a presença do atual presidente, Ben Bernanke, que será substituído.
O fluxo cambial até o dia 26 último estava negativo em US$ 2,044 Bi este mês, o que sugere que os bancos estejam “comprados” tão somente US$ 1,0 Bi, o que é pouco. Houve uma melhora de US$ 441,0 M na última semana, mas a tendência é que se consolide negativo, mês a mês, até o final do ano.
Consideramos que o momento é substantivamente desafiador ao BC, sendo muito improvável que consiga evitar que o preço da moeda americana alcance o piso de R$ 2,30, mas a estratégia com leilão de linhas conjugando venda àvista, com recompra a prazo pode ser uma alternativa eficaz para mitigar pressões maiores.
Será muito importante que o BC evite realizar leilão de venda de dólares à vista ao mercado, pois, além de todos os fatores que impulsionam a alta do preço da moeda americana, há inegavelmente posicionamentos especulativos no mercado de derivativos que poderão ser intensificados contra o real.
Hoje, primeiro dia útil do mês é para fazer as contas, por isso deverá ser mais calmo, mas o viés de alta da moeda americana deve persistir ao longo do mês.