O Brasil está se descolando do cenário externo e, parece que “de repente” recebe a fatura a pagar acumulando toda a conta atrasada, de uma vez só! E, então, os ruídos são intensos.

Parece que o país do futuro está voltando à base um pouco desgastado, após ter ido até quase lá e não ter conseguido permanecer de forma sustentável.

Não consegue encontrar a linha do desenvolvimento e crescimento sustentável, “patina” em consequência de suas mais diversas deficiências e fragilidades, mantidas incólumes durante o período de bonança.

E tende a devolver os parcos avanços obtidos, ainda que de forma insustentável, num contexto traumático, de vez que é muito difícil a trajetória ao retrocesso.

O país precisa reconstruir-se a partir de planejamento correto, mas já não tem a capacidade própria de investimento necessária, e, da mesma forma, ao não crescer e conviver com inflação aquecida, mantendo carga tributária abusiva, desestimula o investimento privado.

Nada está acontecendo por acaso, tudo tem sua razão de ser. O supérfluo foi feito, tendo ficado faltante o fundamental, e é disto que o país se ressente na atualidade.

O momento é altamente complexo por ser inviável crescer exercendo concomitantemente o enfrentamento às pressões inflacionárias. Esta ambiguidade tende claramente a conduzir ao insucesso a busca de ambos os objetivos.

Por isso, há esta sensação desagradável e inquietante de que “dias piores virão”!

A CNI destaca que o seu exótico Índice de Medo de Desemprego cresceu 3,3% no 2º semestre deste ano, quando já se observou perda de ritmo na geração de emprego pela economia. É um sinal, embora se mantenha em patamar historicamente baixo, insinua uma tendência.

Há reivindicações emergenciais da sociedade brasileira sobre tudo aquilo de essencial que não foi feito, mas encontra o governo buscando uma “meta absolutamente apertada de superávit”, o que pode dificultar o resgate dos pleitos de forma efetiva, podendo ficar só na retórica contumaz. Contudo, ao que tudo indica, as insatisfações nunca mais serão silenciadas, o que dissemina um ambiente muito negativo e o governo fica sob pressão.

Os sinais prematuros de “acomodações inquietantes” em torno da busca do superávit primário validam as projeções pouco otimistas, que já o colocam em patamar abaixo de 2% este ano.

Enfim, o país está sem tração para o crescimento e tem um enorme desafio na contenção da inflação, que tem fatores estimulantes absolutamente fora do contexto de gerenciamento do governo, e, que não respondem às elevações da taxa de juro Selic.

O modelo crédito/consumo como fator propulsor do crescimento evidencia estar exaurido.

Agora, só o investimento poderá viabilizar o crescimento.

No cenário do mercado de câmbio/comércio exterior é notório que perdemos capacidade exportadora na medida em que as “commodities” perdem demanda ao nível mundial, o que provoca como consequência a queda dos preços nas bolsas mundiais.

Nas exportações de “não commodities” perdemos competitividade, os produtos brasileiros têm baixo valor agregado, mas ainda assim perdemos mercados no exterior que não serão resgatados tão facilmente num curto espaço de tempo, pois a concorrência é cada vez mais acirrada, não sendo solucionável tão somente com uma taxa cambial melhor, que ainda assim, precisa ser estável.

Contudo, cada vez importamos mais, e com isto já não se vislumbram superávits robustos de balança comercial, havendo mesmo o risco do quase negativo.

Os fluxos de recursos para investimentos em renda fixa e variável perderam atratividade pelo país. Houve erros por parte do governo no trato do capital estrangeiro, nos avaliamos bem demais quando a realidade já era mutante, e, com isto tornaram-se tardias as medidas desobstrutivas ao ingresso de recursos externos.

O déficit em transações correntes é crescente e emite sinais pouco tranquilizadores, sugerindo que as captações deste ano não serão suficientes para fazer face ao financiamento, o que poderá levar o BC a ter que gerar liquidez efetiva de divisas no mercado, e, não somente instrumentos financeiros, os “swaps cambiais”, para as empresas mitigarem os riscos de variações cambiais.

Há com que se preocupar e muito na trajetória daqui para adiante.

Devemos observar como o Brasil está sendo avaliado pelas agências de rating, pois o risco de perda do grau de investimentos não deve ser desconsiderado, pois não se sustentará somente pelo fato de possuirmos reservas cambiais, já que a avaliação é realizada por conceitos mais amplos em torno da “saúde” do país.

E, manter foco nos posicionamentos dos “players” no mercado futuro. Por enquanto, há um relativo equilíbrio, mas se as apostas contra o real aumentarem, e, isto pode acontecer, até combinado e turbinado com operações no exterior, a pressão altista pode ser intensificada.

E na realidade, como já salientamos ontem, este contexto está descolado do cenário externo, são os nossos problemas que estão provocando esta onda negativa presente.

O câmbio é o termômetro mais sensível da economia.

Se há “febre”, algo de errado existe!

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