O fluxo cambial fechado de junho evidenciou-se negativo em US$ 2,636 Bi, sendo US$ 1,865 Bi oriundo do fluxo comercial, e, US$ 771,0 M do fluxo financeiro. E, a somatória das posições “compradas” dos bancos no mercado à vista foi reduzida para US$ 3,063 Bi.
Havíamos preconizado que a partir de junho o fluxo comercial passaria a negativo, como reflexo do período mais intenso do ingresso dos dólares relativos às safras agrícolas, sendo possível que doravante o negativo seja a tendência até o final do ano, salvo se o governo determinar o ingresso dos dólares de exportações liquidadas e estocados no exterior.
O fluxo financeiro registrou recorde de volumes de ingressos e saídas que atingiram em cada ponta algo em torno de US$ 52,0 Bi, mas que por fim teve um saldo negativo de US$ 771,0 M. Acreditamos que a tendência ao negativo deva ser, também, constante até o final deste ano.
Os ruídos incessantes em torno de dificuldades com a política fiscal/superávit primário, a despeito da expressiva carga tributária, e que já está motivando práticas nem sempre bem recebidas para equilibrar o superávit primário; perspectiva de crescimento cada vez menor que já está sugerindo projeção de somente 2% este ano; inflação alta e resistente às medidas clássicas e que tende a ter continuidade exigindo elevação ainda maior da Selic; baixa capacidade de investir do governo e fraca motivação para os investimentos privados, construíram um ambiente muito negativo em relação ao Brasil, interna e externamente.
O conjunto de fatores negativos inibe os fluxos de recursos externos para o país, num contexto em que o déficit em transações correntes demonstra-se tendente a expansão que poderá colocá-lo no entorno de US$ 80,0 Bi, sem ter a contrapartida de ingressos líquidos suficientes ao seu financiamento, o que poderá levar o governo a ter que utilizar parte das reservas cambiais para a complementariedade.
Os ruídos e as percepções negativas têm se intensificado e amplificado, colocando riscos para o país muito superiores ao decantado término do programa americano de estímulos monetários por parte do FED. Os riscos “Brasil” para o próprio Brasil são mais relevantes neste momento. Por isso, soa estranho quando o Ministro Mantega, de forma contumaz, tenta exportar as “nossas culpas” atribuindo-as a causas externas, como fez ontem para justificar as pressões altistas sobre o preço da moeda americana.
O risco de o país perder o conceito de grau de investimento vem se acentuando face a este conjunto de fatores negativos que nominamos como riscos “Brasil” para si próprio. É algo perturbador e inquietante, não podendo estar fora de foco por parte do governo brasileiro, pois as consequências seriam traumáticas.
O preço atual da moeda estrangeira inibe os negócios no mercado futuro, provocando retração cautelar na demanda por “hedge” e assim este segmento perde volume devido os demandadores ficarem inseguros e considerarem arriscadas aquisições de proteção a este nível de preço.
Caindo a demanda no mercado futuro, não faz sentido o BC intervir ofertando “swaps cambiais”. Por isso, a autoridade, a despeito da alta do preço da moeda americana, não realizou oferta de “swaps cambiais”, pois seria ineficaz.
A tendência de redução rápida das posições compradas dos bancos no mercado à vista, que já eram de somente US$ 3,0 Bi em 28 de junho último, com o aumento da demanda efetiva por dólares, pressiona a taxa cambial.
Nestas circunstâncias o mercado à vista passa a ser o formador do preço da moeda americana, e o coloca em alta, sinalizando baixa liquidez.
Então, a atitude que o mercado espera do BC não é mais a oferta dos “instrumentos financeiros” denominados “swaps cambiais”, dada à queda da demanda por proteção, mas sim de dólares efetivos para irrigar a liquidez do mercado à vista, que registra saída efetiva de moeda americana.
O BC, certamente, está relutando para realizar a oferta de dólares à vista, via leilões, pois isto deixaria muito evidente que o país está se ressentindo com a falta de ingresso de recursos externos.
Se realizar a oferta de dólares efetivos, por um lado promoverá a liquidez no mercado à vista, mas por outro lado induziria o preço do dólar a alta, pois deixará evidente que o país está com problemas de fluxo de recursos.
Este fato em si, com maior e explicita visibilidade, poderia detonar um movimento especulativo contra o real, aqui até onde possível, mas também e principalmente no exterior, conduzindo o real a forte depreciação.
Alguns movimentos já emitem sinais que merecem atenção. Houve mudança de lado no posicionamento dos Fundos Estrangeiros. Em 3/6 detinham no mercado futuro (cupom cambial+ dólar) posição “vendida” de US$ 6,0 Bi e no dia 2/7 já haviam consolidado um movimento envolvendo compras de mais de US$ 14,0 Bi, invertendo aquela posição para “comprada” em US$ 8,1 Bi. Deixaram de apostar na apreciação do real passando a acreditar em sua depreciação.
Um contexto muito temerário e preocupante, que sugere maior atenção e monitoramento sobre os movimentos das posições no mercado futuro.
Ao que tudo indica o BC espera forçar os bancos a serem os geradores da liquidez do mercado à vista, a partir da constituição de posições “vendidas” no mercado à vista, ancorados em linhas de crédito externos, e, com isto evitar que tenha que realizar leilões ofertando dólares à vista.
Para tanto e de forma previdente, certo de que este momento chegaria, o BC/MF retirou a incidência do depósito compulsório de 60% sobre as posições vendidas excedentes a US$ 3,0 Bi.
Contudo, é preciso entender a disposição dos bancos em aderir à constituição de posições vendidas, tendo em vista que pode haver desconforto nesta exposição num ambiente que as perspectivas sugerem fluxo cambial insuficiente.
Os sinais iniciais, com a elevação da taxa, que tem sido verificada nos últimos dias, indicam que a propensão à adesão à prática de posições “vendidas” pelos bancos é baixa, por isso o preço do dólar tem subido o que tecnicamente pode ser entendido como clamando que o BC oferte dólares à vista ao mercado.
Há riscos de exacerbação da taxa cambial, mas a partir dos problemas presentes em torno dos riscos “Brasil”, embora o governo se empenhe em mascarar esta realidade atribuindo o comportamento do preço da moeda americana a razões puramente externas.