Câmbio News

Num cenário que só se agrava é difícil considerar a hipótese de apreciação sustentável do real, mesmo no curto prazo, sendo mais provável que gradualmente passe a consolidar a perspectiva de alta, com volatilidade.

Os dados divulgados ontem do saldo da balança comercial não surpreenderam, visto que retratam o contexto atual do nosso comércio exterior, ancorado nas exportações de “commodities” que não suscitam expectativas de que possamos ter recuperação, pois as demandas quantitativas são cadentes num ambiente em que os preços seguem a mesma rota.

Buscar mitigar a representatividade dos números, sob o argumento de que incluem registros de importações de petróleo da ordem de US$ 4,5 Bi ocorridas o ano passado, em decorrência da faculdade concedida pela Instrução Normativa 1.282 pela Receita Federal em julho de 2012 que concedeu mais prazo para a Petrobras registrar no SISCOMEX as suas importações, nos leva a imediatamente buscar recompor o resultado da balança comercial do ano passado que teve considerado superávit de US$ 19,43 Bi, o pior em 10 anos, reduzindo-o a próximos de US$ 15,0 Bi, quase metade do que fora obtido em 2011, US$. 29,79 Bi.

Mas esta observação parece que ficou no passado e não se fala mais nisto!

Afinal, qual foi a razão efetiva da IN 1282? Defender um saldo melhor na balança comercial de 2012? Então, não há razão para desconsiderá-lo em 2013, quando a estratégia do “empurra para depois” se revela comprometedora do resultado seguinte.

Considerado o fato, mas focando mais o futuro e menos o passado, a realidade não sugere otimismo com a balança comercial, que acentua cada vez mais nossa capacidade exportadora em queda ante nossa necessidade de importar cada vez mais aquecida.

A produção industrial do país recuou 2,0% na comparação maio ante abril passado. Na comparação anual base maio houve crescimento de 1,4%.

O contexto atual sugere que poderemos ter contribuição mínima de fluxo cambial decorrente do resultado da nossa balança comercial.

Há efetiva tendência de crescimento robusto do nosso déficit em transações correntes, provavelmente superando a projeção do próprio BC de US$ 75,0 Bi, elevando em muito a possibilidade de ocorrer insuficiência de captações externas para financiá-lo, o que levará o governo a utilizar nossas reservas cambiais para a complementariedade.

O preço do dólar em alta sustentável, seguramente, impactará nas pressões inflacionárias, levando o Copom à necessidade de elevação maior na taxa Selic.

O ambiente interno do país é ruim para suportar altas de juros e do dólar, e, ainda mais, com a inflação sendo amplamente perceptível pela população que detecta seus efeitos nos preços de forma muito objetiva.

Este contexto não passa desapercebido no ambiente externo que monitora o comportamento do Brasil, e que está considerando todos os aspectos de deterioração que vem ocorrendo nos nossos fundamentos.

Por isso, consideramos preocupante quando começam a ocorrer “acomodações” internas que podem ser contestadas focando atenuar os problemas em torno do superávit primário. A transferência das reservas para aumento de capital do BNDES para o TN na forma de dividendos, pode ter as mais diversas justificativas, mas não conseguirá desconfigurar a prática do “jeitinho” brasileiro.

E isto pode aguçar a observação crítica das agências de rating, contribuindo negativamente para o nosso conceito, agravando a já presente preocupação de uma eventual revisão por parte das mesmas que imponha ao país a perda da condição de grau de investimento, que seria traumático.

O BC deverá continuar buscando atenuar a alta do preço da moeda americana com a oferta de “swaps cambiais”, que se presta a dar proteção aos passivos expostos em moeda estrangeira das empresas, mas prevalecendo a perspectiva atual será levada à necessidade de ofertar dólares efetivos ao mercado à vista, por inevitável.

Os bancos poderiam contribuir para afastar esta necessidade quando se tornasse mais premente, utilizando a liberdade da amplitude concedida pela autoridade monetária para suas “posições vendidas”, mas haveria o desconforto dada a perspectiva ruim em torno de fluxo de recursos para o país.

O quadro atual está, a rigor, descolado dos fatores em torno do término do programa americano de incentivo à sua economia e que está com possibilidade de redução e término salientados pelo FED, se devendo mais e principalmente do contexto interno e externo do Brasil.

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