Com uma fala mais incisiva buscou pela palavra enfatizar o que a ultima decisão sobre a SELIC e a ATA não deixou transparecer, e não deixou de lembrar que as políticas fiscal, para-fiscal e monetária, também, ajudaram a pressionar a inflação.
Afinal, mostrou a posição do BC que convive com um quadro altamente complexo, em que a política fiscal é expansionista, pois o crescimento é desejável à qualquer preço, e se contrapõe à necessidade de austeridade na política monetária, que se coloca na contramão deste objetivo, fato natural na ordem das coisas.
Com isto “deu a ficha” por parte do BC, juros em alta como “tratamento” das pressões inflacionárias e o dólar não pode seguir apreciado e se apreciando, por contribuir exatamente para mais inflação.
Mas, pouco pode fazer com o “expansionismo” que faz com que o governo cada vez gaste mais, até com desonerações, em sua grande parte de curto prazo que aliviam no imediato, mas, que não estimulam investimentos por falta de perspectiva de longo prazo.
Temos destacado que a equação “crescimento com políticas de controle a inflação aquecida” não fecha, sendo necessário optar sobre qual será a prioritária.
É o que tempos atrás alertamos afirmando que o governo está frente ao “dilema de Sofia”, pois ou escolhe uma das opções ou fracassa em ambas.
Por isso, a ênfase dada ontem pelo Diretor Carlos Hamilton do BC, deixa evidente a intenção da autoridade monetária que o mercado financeiro queria ouvir, mas, como dizia o saudoso sociólogo Joelmir Betting, “na prática a teoria é outra”.
O quadro é muito complexo e, a rigor, quaisquer projeções que se coloque, ainda que seja para este ano, devem ser recebidas com absoluta reserva, há muitas vertentes internas, inclusive dentro do governo, e externas que promovem incertezas e conspiram contra as boas intenções do BC.
Por mais que seja objetivado e necessário para o país, o crescimento econômico prognosticado pelo Ministro Mantega de 4,5% para 2013 já é passado e inalcançável ao atingirmos o 1º quadrimestre e as projeções vem sendo reformuladas de forma descendente gradualmente, havendo quem já questione a projeção atual de 3.0%. Se piorar, o que será feito, política fiscal expansionista? E, como ficará a política monetária de austeridade?
Em sã consciência nada indica que em 2014 a inflação possa tender ao centro da meta da inflação, que é 4,5%. Certamente, este é um anseio com pouquíssimas chances de “ser entregue” pelo governo.
Mas, por fim, a fala do Diretor do BC colocou o mercado de juro em alta e o real em linha de apreciação, como efeitos imediatos.
O real tende a uma discreta apreciação, pois, haverá fluxo cambial favorável no curto prazo, que, espera-se, contornará a desconfortante situação atual em que tem sido consistentemente negativo, levando os bancos a operar com posições “vendidas” pela falta de liquidez própria do mercado, ao mesmo tempo em que a balança comercial não emite sinais de que poderá contribuir para melhora deste quadro.
Evidentemente este fato da existência de melhor perspectiva de fluxo cambial é um “golpe de sorte” do Brasil, pois o programa japonês de estimulo a recuperação de sua economia provoca forte liquidez no mercado internacional, com queda nas taxas de juro, o que tem motivado empresas brasileiras a realizar lançamentos de bônus no exterior, cujos montantes deverão começar a ingressar no país.
Adicionalmente, a Europa tende a baixar o juro, o que provocará deslocamentos de investidores em busca de oportunidades.
O Brasil perdeu peso entre os emergentes, que liderava como país de maior atratividade, mas ainda poderá receber, via empréstimos e investimentos, volume suficiente para financiar o seu déficit em transações correntes, que é crescente e vem ameaçando superar a somatória dos IED´s com o superávit da balança comercial, fato preocupante.
O dólar teve reação ontem compatível com o discurso do Diretor Carlos Hamilton, mas como temos dito, neste ambiente complexo em que se deseja crescer e combater a inflação ao mesmo tempo, em que estamos esperando readquirir o equilíbrio do fluxo cambial com as novas perspectivas, nada pode ser, ainda, considerado definitivo na área cambial para este ano.