Não há o que estranhar na reação do preço do dólar após a alta da taxa de juro SELIC. Para que ocorra apreciação do real é fundamental a retirada total ou parcial das barreiras tributárias ao ingresso de recursos externos

Desta vez o cenário presente é diferente do que se via no passado. Antes eventual elevação da taxa SELIC atraía o ingresso de recursos externos que buscavam no Brasil a excepcional rentabilidade que o país proporcionava ao ofertar taxas extremamente elevadas, absolutamente “fora do ponto” se considerado o “risco Brasil” à época e a sua condição de “investment grade”.

Nossa oferta de rentabilidade, mesmo após a alta da SELIC, não tem a exuberância do passado recente, mas mesmo assim não é desprezível e poderia atrair recursos externos, visto que o programa de incentivo à sua economia pelo Japão está promovendo forte liquidez no mercado internacional com reflexos nas taxas de juro, o que faz com que os parâmetros de rentabilidade ofertados pelo Brasil ainda despertem interesse.

Ocorre, contudo, que o país tem neste momento barreiras tributárias ao ingresso de recursos externos de curto prazo, especialmente, e isto inibe o direcionamento de investimentos para o país no volume que poderia ocorrer não houvesse os impedimentos inviabilizadores.

E mais, o Brasil atravessa um momento de “ressaca” na dinâmica de fluxos que poderíamos considerar normais, registrando sistêmico saldo negativo no fluxo cambial, tendência presente desde agosto do ano passado, e que vem se agravando e consolidando, acumulando neste ano até o momento saldo negativo de US$ 5,1 Bi. Além disto, as perspectivas da balança comercial também são bastante fracas, deixando evidente que o saldo positivo neste ano, se ocorrer, será bastante baixo, haja vista que até este período do ano está negativo em US$ 4,2 Bi, embora seja público que estão ocorrendo registros tardios (sic!) de importações da Petrobrás no ano passado.

Bancos continuam ampliando suas posições “vendidas”, atualmente no entorno de US$ 11,0 Bi.

Ora, com fluxo cambial adverso e com a manutenção das barreiras tributárias ao ingresso de recursos externos, principalmente de curto prazo, há desconfortável problema de liquidez no mercado de câmbio brasileiro e, portanto, a reação de alta do preço da moeda americana, mesmo após uma elevação da taxa SELIC, é absolutamente normal e previsível.

Chegou a R$ 2,02 ontem o preço do dólar e, acreditamos que esta alta não seja confortável para as autoridades monetárias que estão empenhadas em conter pressões inflacionárias.

O BC “assistiu”, mas certamente vai agir se a tendência de alta persistir. Como habitual, deverá fazer oferta de “swap cambial” para tentar atenuar a pressão altista. Esta é uma “meia solução” de curto prazo enquanto não se faz necessária a efetiva disponibilidade de divisas ou os bancos ainda considerem confortável continuar utilizando suas linhas externas para ancorar suas posições “vendidas”, que lhes proporciona a oportunidade de “empréstimos de curtíssimo prazo” de forma indireta, sem o IOF, com os quais captam reais a custos bastante baixos ou até zero.

Ao que parece, o BC está “apostando suas fichas” para melhora do fluxo cambial no intenso movimento presente por parte das empresas brasileiras focando captações externas de recursos de médio/longo prazos, que devem ingressar no país no curtíssimo prazo, por isso está procurando não precipitar a retirada das barreiras tributárias, antes de avaliar se aquele fluxo das captações resolverá o problema do fluxo cambial.

Este movimento das empresas brasileiras, que procuram aproveitar o excesso de liquidez e queda de juro no mercado internacional, já foi observado pelo FMI, que a rigor não o está vendo como fato positivo e mencionou o problema do endividamento das mesmas.
O problema que vemos é que o país precisa melhorar o seu fluxo cambial, revertendo-o a positivo, visto que tem expressivo montante de déficit em transações correntes a ser saldado neste ano, e se o volume das captações externas das empresas brasileiras no médio/longo prazo não for suficiente, a eventual retirada das barreiras tributárias poderá ocorrer tardiamente.

O fato é que um preço de dólar valorizado neste momento não é conveniente para as autoridades monetárias, pois poderia anular os parcos reflexos positivos que possam ocorrer com a alta da taxa SELIC.

Esta realidade é que deixa claro que o BC vai agir e tem suas expectativas quanto à melhora do fluxo no curtíssimo prazo.

Portanto, não se deve nutrir expectativas de que o dólar sustente este preço com pressão altista por um período maior.

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