O governo ainda não cedeu à premente necessidade de melhora do fluxo cambial que o país está precisando, por isso não alterou as regras de incidência do IOF para os ingressos de curto prazo, contando com as perspectivas de que as captações de médio/longo prazos de empresas, não obstruídas pelo tributo, sejam suficientes para sanar o forte desequilíbrio que vem se mantendo como tendência desde agosto do ano passado.
O Brasil encontra no momento uma inusitada possibilidade, quem sabe única e ultima, de melhora do fluxo cambial face a expressiva liquidez presente no mercado internacional oriunda do programa de incentivo à recuperação de sua economia que vem sendo desenvolvida pelo Japão.
A perspectiva de melhora do fluxo não está sendo suficiente para apreciar o real, mas de toda forma sugere que esteja contendo a pressão altista que prevaleceu dias atrás quando o preço aproximou-se de R$ 2,03.
Cerceando os ingressos de curto prazo o governo procura evitar o ingresso de recursos tipo “hot money” por vezes oriundos de operações de “carry trade”, do tipo que vem para realizar ganho rápido, mas não para ficar.
Aparentemente, deseja fluxo de recursos mais estáveis, que causam menos transtornos e volatilidade no mercado de câmbio.
Tendo feito a opção pelo juro SELIC como instrumento para combate à inflação, aparentemente deve fazer uso menor do preço do dólar, se bem que abaixo do patamar atual que tem potencial para anular a discreta alta promovida na SELIC na quarta-feira da semana passada.
O importante é observar se o volume de captações por parte de empresas será suficiente para atender a necessidade brasileira. Neste momento temos os bancos com posições “vendidas” em torno de US$ 11,0 Bi, o que já compromete parte dos futuros ingressos.
Quando observamos o Boletim FOCUS do BC, divulgado hoje, com as medianas apontadas por uma centena de instituições financeiras, verificamos que aponta projeções para os IED´s da ordem de US$ 60,0 Bi e saldo positivo da balança comercial de US$ 10,6 Bi e na contra ponta um déficit em transações correntes da ordem de US$ 68,6 Bi, deixando evidente que precisamos melhorar muito o nosso fluxo financeiro.
O BC está evitando intervir para deprimir o preço e apreciar o real com oferta de “swaps cambiais” ao mercado, até porque já não temos como muito certa a eficácia desta estratégia, nos parecendo que a carência venha se tornando mais de disponibilidade de moeda do que de proteção à exposição na moeda, e para este contexto a sugestão é que oferte moeda efetiva ou espere que o fluxo aguardado em perspectiva seja consolidado.
Enquanto isto o preço “flutua” num curto intervalo, sem forças para cair dada a fragilidade do fluxo cambial e sem forças para subir face à perspectiva de que o fluxo cambial tende a melhorar.
Nada têm a ver com comportamentos externos, as causas do comportamento são internas.
A inflação presente sugere que será preciso esforço maior por parte do governo, e isto nos leva a colocar também em perspectiva uma eventual prática da apreciação do real quando o fluxo cambial que se visualiza melhorar, para que não tenha que elevar bruscamente a taxa de juro.
O IPCA-15 de abril divulgado no final da semana passada de 0,51% ficou acima das projeções do mercado (0,46%) e do Boletim FOCUS (0,45%). Superou também o IPCA-15 de março (0,49%) e do índice fechado no mês (0,47%).
O Boletim FOCUS apontou projeção para o IPCA em 12 meses com viés de alta passando de 5,42% para 5,53% e para este ano de 5,68% para 5,70%.
A projeção da SELIC para este ano recuou de 8,50% para 8,25% refletindo a observação da autoridade de que atuará com cautela.
Há muitas dúvidas sobre a eficácia da elevação do juro no combate do tipo de inflação que vem ocorrendo, o que nos leva a acreditar que, em algum momento, o preço do dólar, se houver condições, voltará a ser acionado com apreciação do real.
A previsão para o crescimento do PIB continua em 3% para este ano. Importante destacar que o FMI afirmou por um de seus economistas que o Brasil tem baixo PIB potencial, reduzindo a sua projeção de crescimento do Brasil de 3,5% para 3,0%, destacando que o fraco desempenho da economia brasileira tem grande relação com o baixo nível de investimentos.
Reviu, também para pior, a projeção para a produção industrial de 3,0% para 2,86%.
Merece atenção o fato de que, gradualmente, mas de forma sistêmica, as projeções para déficit em transações correntes e saldo da balança comercial vêm piorando.