A resultante com a alta da SELIC poderá ser mais inflação, já que se prestará a disseminar a percepção da inflação por toda a sociedade que ainda a tem no DNA, e impulsionará preços no consumo e encarecerá o crédito!

Entendemos que a alta da taxa SELIC, embora tímida da ordem de 0,25%, tem potencial muito maior para incrementar a espiral inflacionária do que para contê-la, pois encarecerá os produtos na cadeia produtiva como reação típica e, também, o crédito, principalmente ao consumo, na ponta final.

Afinal, a nossa “taxa básica” está muito distante da realidade do juro praticado pelo sistema financeiro, mas sua alta dará sustentação à elevação do mesmo, encarecendo o crédito, como sempre desproporcionalmente. Isto sem falar no encarecimento do financiamento da dívida pública atrelada à SELIC.

A alta do juro não impactará nos preços dos alimentos deprimindo-os, muito pelo contrário, e da mesma forma nos serviços. Portanto, expectativa “zero” em relação ao sucesso.

Esta elevação se prestou unicamente ao esforço do BC/COPOM de reagir às críticas do mercado financeiro a respeito de sua não independência, focou a reconquista da credibilidade. Temos duvidas se atingiu o objetivo.

Não foi unanime, teve 2 votos contrários de Diretores “de peso” no BC, Aldo Luiz Mendes, Política Monetária, e Luiz Awazu Pereira da Silva, área internacional. A expressão “que a política monetária seja administrada com cautela”, deixa visível a insegurança na decisão adotada e até um certo constrangimento, ao não deixar evidente que será incisivo e forte por esta via no combate da inflação que reconhece aquecida e resistente.

É muito provável que as preocupações com a inflação se acentuem com a decisão sancionada, pois é fraca para o objetivo, mas é forte para motivar reajustes de preços e encarecer o crédito.

Nem mesmo para atrair dólares para o país se prestará, pois o governo não derrubou as barreiras tributárias impostas ao ingresso de recursos externos com o IOF.

Não devemos ter expectativas de que o preço da moeda americana sofra depreciação com o fato da alta da SELIC, pois não haverá o fluxo de recursos externos, que seria a consequência natural caso não houvesse barreiras tributárias.

Isto só ocorrerá caso seja detonado movimento especulativo no mercado externo, com contratos a termo envolvendo dólar versus real, e então poderemos ter por aqui os reflexos consequentes da contaminação pelos vasos comunicantes, e o real poderá ser apreciado no nosso mercado, com o contraditório que não estará ocorrendo ingresso de recursos, com ambiente do mercado de câmbio à vista interno se mantendo carente de liquidez.

Mas, pelos sinais até o momento, até este movimento especulativo no mercado externo não parece propenso a se consumar, já que há muitas duvidas acerca da política monetária do governo brasileiro.

Entretanto, se isto vier a ocorrer, o BC será privado da administração do preço da moeda americana, tarefa que já tem evidência de que não realiza de forma confortável, pois a formação do mesmo dar-se-á no exterior.

O cenário prospectivo para o câmbio está muito complexo.

O fluxo cambial fechou a 2ª semana de abril negativo em US$ 3,0 Bi, confirmando a tendência e no ano já acumula negativo US$ 5,1 Bi. A balança comercial no mesmo período está negativa em US$ 4,2 Bi, o que afeta as perspectivas. E, os bancos estão com posições “vendidas” da ordem de US$ 11,3 Bi.

Costumamos afirmar que “os números falam e precisamos ouvi-los”. Está evidente que o país precisa melhorar o seu fluxo cambial para atenuar pressões legitimas de alta, consequentes da dinâmica própria do mercado reagindo ao quadro de baixa liquidez.

E o que menos interessa ao governo neste momento é a apreciação do dólar que impactaria alavancando a espiral inflacionária.

Há um movimento crescente por parte de empresas focando captação de recursos no exterior com prazo médio/longo, portanto não sujeitos à tributação com o IOF, aproveitando a liquidez promovida pelo programa de incentivo a atividade econômica que vem sendo desenvolvido pelo Japão, que reduziu as taxas de juros internacionais, mas o governo não deveria trabalhar com a expectativa de que o montante final destas captações seja capaz de recompor o debilitado fluxo cambial atual.

A pressão altista do preço da moeda americana no nosso mercado tem fundamentos e, não está distante o momento em que não responderá atenuando-se com a oferta de “swaps cambiais” pelo BC, pois o mercado precisará efetivamente de moeda disponível.

Em nossa opinião deveria ter sido utilizada a estratégia com o real apreciado, ancorado pela desobstrução das barreiras tributárias, que proporcionaria efeitos mais imediatos nos itens de maior pressão inflacionária neste momento, sem promover grandes alardes e repercussões negativas junto à população, e podendo colher resultados mais efetivos. E, naturalmente, resolveria o problema do fluxo cambial.

Adicionalmente, o governo poderia promover um ataque direto aos itens de alimentos que vem pressionando a inflação e, com a taxa de cambio com o real apreciado, desonerar e estimular a importação dos itens que vem sendo “aclamados” como causa, por exemplo: tomate, cebola, batata, etc. e dar um choque de oferta destes no mercado, provocando a retração imediata dos preços.

No nosso entendimento, esta decisão do COPOM vai tornar mais grave o problema da inflação, pois não resolve o problema e poderá provocar novo impulso altista, e desincentivo ao investimento, base para o crescimento, não por esta decisão em si, mas pela perspectiva de que estão sendo retomados velhos hábitos que pareciam ter sido banidos.

 

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