Alguém afirmaria peremptoriamente que o BC convive bem com o dólar com preço apreciado em excesso no mercado de câmbio brasileiro?
Em tese não, seria constrangedor no momento em que o Presidente Trump na sua postura litigante acusa o país desta prática, mas haveria algum fundamento na tese posta se analisarmos tecnicamente as repercussões abrangentes das intervenções no BC no mercado de câmbio dada especificamente a forma.
Evidentemente, pode se afirmar que o BC está vendendo dólares à vista conjugado com swaps cambiais reversos, simples assim, sem observar-se que esta técnica puramente neutra em relação aos impactos na formação do preço tem em si um viés de sustentação do mesmo no nível disfuncional no preço da moeda americana de quando iniciada a intervenção.
Portanto não se identifica na postura por parte da autoridade monetária a ação objetiva de correção da disfuncionalidade, mas sim de perpetuá-la no nível distorcido em que estava ao início da intervenção, ainda que gere liquidez no mercado à vista, que afinal é a parte mais perceptível de imediato.
Há um viés exacerbado propenso a atribuir este contexto em suas origens ao embate sino-americano, dando-lhe um sobrepeso que não possui para justificar o fato, mas a crença predomina fortemente por ser mais cômoda, embora sabidamente não encontre facilmente fundamentos críveis que normalmente não são cobrados com explicações concretas, mas simplesmente atribuídas ao fato.
O câmbio, a sua complexidade, tem sutilezas por vezes imperceptíveis ou não analisadas à fundo, e quando não há foco acentuado para identificar-se as causas tudo parece absolutamente normal.
No nosso entendimento o mercado de câmbio está carente de intervenção do BC, mas divergimos quanto a forma que consideramos devesse ser focada objetivamente na promoção da liquidez efetiva, somente com oferta isolada de moeda à vista, cuja ausência por combinar com swaps cambiais reversos provoca a disfuncionalidade na formação do preço, e então, somente após promovida a correção desta anomalia (disfunção do preço) é que a autoridade deveria se restringir a ter intervenção do tipo neutra para não incorrer no erro de artificializar a formação do preço.
Enfim, com esta atuação sistêmica de intervenção neutra é questionável se a manutenção da taxa em condição disfuncional não é objetivo da estratégia. Ilações são factíveis!
Não se pode descartar que com a melhora dos indicadores da economia, o país comece a despertar maior atratividade aos investidores estrangeiros, em especial por operações na Bovespa, e nesta linha de raciocínio a taxa do dólar mais elevada no primeiro momento é um atrativo a mais aos investidores estrangeiros.
É preciso observar com mais acuidade as sutilezas envolvidas nas estratégias determinantes da formação do preço da moeda americana no nosso mercado de câmbio.
Nem tudo é tão improvável como pode parecer!!!
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO